Um Discípulo Chamado...

Atos 1-6 descreve uma das operações mais gloriosas de Deus na história. Trata-se de uma incrível sequência de eventos cheios de ação: pregação de poder, conversões em massa, curas milagrosas e maravilhas. Todos foram cumprimento de uma promessa divina pré-anunciada por Jesus.

Antes da ressurreição, Cristo instruiu os discípulos a aguardarem em Jerusalém para receberem “a promessa de meu Pai”. Esta promessa iniciou seu cumprimento no Pentecostes, a festa dos “primeiros frutos” de Israel. O mundo estava prestes a ver os primeiros frutos da obra de Cristo na cruz por nós.

De jeito algum os discípulos poderiam imaginar o que Deus tinha em mente para eles. Eles provavelmente diziam: “Sensacional! Esta promessa significa que Deus está prestes a restaurar Israel. Ele vai nos libertar dos grilhões da escravidão romana para sempre, e nós seremos o Seu povo novamente”.

Atualmente acho que a igreja poderia ter uma reação similar se ouvisse a mesma promessa de Jesus. Poderíamos pensar assim, “Quando chegar a promessa de Deus, a nossa igreja vai ficar abarrotada de gente. O Espírito Santo se moverá em outras cidades e as pessoas vão viajar de todos os lugares simplesmente para sentir o sabor. Seremos abençoados como nunca!”.

Desejaríamos que o Espírito Santo enchesse os nossos santuários, trouxesse alegria e consolação. Mas quando a glória de Deus chegar, não será só para o nosso benefício. Jesus não disse “Quando receberdes poder do alto, vocês frequentarão a igreja, estudarão a Bíblia e irão aos cultos”. Ele disse “Sereis as minhas testemunhas até os confins da terra”.

O poder de Deus pretende ir além das paredes da igreja até os extremos do mundo

É isso que vemos se desdobrando no livro de Atos. Quando Pedro se levantou para pregar à multidão que havia se formado, 3.000 pessoas foram salvas. Mais tarde, à medida que Pedro e João testificavam por toda Jerusalém, sinais e maravilhas se seguiam em curas e livramentos milagrosos.

Porém isso era apenas o começo. Se a obra do Espírito houvesse parado em Atos 6, todo o poder de Deus teria permanecido nas mãos de doze apóstolos. Mas pelo contrário, um abalo sísmico teve lugar. Deus disse “O Meu Espírito não se moverá mais através de umas poucas pessoas selecionadas. Vou capacitar todo homem, mulher e criança que invocar o Meu nome”.

Agradeço a Deus por Sua promessa não haver parado em Atos 6. Mas de certa maneira, é bem aí que ela parou em relação à igreja de hoje. Nós atribuímos o poder de Deus aos pastores, líderes, aos programas de rádio e TV, aos autores, a qualquer um que tenha uma “plataforma”. Mas estará Deus em ação nos que se assentam nos bancos da igreja? Estará o poder de Deus operando por meio de cada homem, mulher ou criança crente do jeito que o Senhor pretendeu? Se nós fomos salvos, então o objetivo é sermos cheios do poder de Deus para fazer as obras de Deus.

Eis como aconteceu em Atos: “Naquele dia, levantou-se grande perseguição contra a igreja em Jerusalém, e todos, exceto os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judéia e Samaria” (Atos 8:1). De acordo com este versículo, os apóstolos ficaram em Jerusalém. Mas todos os outros crentes foram espalhados pela região. “Entrementes, os que foram dispersos iam por toda parte pregando a palavra. Filipe, descendo à cidade de Samaria, anunciava-lhes a Cristo” (8:4-5). E assim o novo poder para ministrar foi liberado.

Devo acrescentar que o homem chamado Filipe mencionado aqui não era o apóstolo em Jerusalém, mas um leigo. Sinais e maravilhas seguiam este homem simples quando ele pregava. Endemoniados eram libertos. Paralíticos eram curados e saíam pulando de alegria. Mais tarde, quando Pedro chegou à Samaria para testemunhar estas operações, ele viu que “havia grande alegria naquela cidade” (8:8). Uma cidade inteira fora tocada pela alegria de Deus! Trata-se de um impacto tremendo feito por um único homem. No entanto o Espírito Santo nos deu o mesmo poder que deu a Filipe, para fazermos as mesmas obras espirituais.

A seguir vemos Ananias, um seguidor de Jesus que vivia em Damasco. Não sabemos muito a respeito de Ananias. Tudo que sabemos é que ele era cheio do Espírito Santo – e que teve tarefa dura diante de si: Deus o chamou para testemunhar a Saulo, o famoso perseguidor de cristãos. À época, Saulo “respirava ameaças” contra a igreja – e Ananias estava sendo chamado para a linha de fogo. Ele sabia que se não estivesse ouvindo Deus corretamente, poderia ser morto.

Como soaria hoje uma missão como esta? Talvez algo assim: “Gary, quero que você vá às colinas do Paquistão. Lá há um homem escondido numa caverna, e ele é chefe da Al Qaeda. Eu o ceguei temporariamente. Ele está pronto para rejeitar a fé muçulmana e seguir Jesus. Agora, vá até ele e lhe dê o evangelho”.

Ananias teve de vencer o medo muito realista de perder a vida. E conseguiu isso sendo conquistado com o amor de Deus. De repente, Ananias foi cheio de compaixão por um homem que se havia proclamado inimigo mortal de todo cristão. Então ele foi em fé – e a história da conversão de Saulo é bem conhecida. A transformação dele para Paulo – o mais famoso seguidor de Jesus de todos os tempos – pode ter sido a conversão mais importante da história. Paulo não só foi salvo como também escreveu a maior parte do que se tornou o Novo Testamento.

Deus também usou mulheres e jovens por todo o livro de Atos, como usou Filipe e Ananias. A certa altura encontramos Tabita, que eu chamaria de Madre Teresa pentecostal. Ela era conhecida em toda Jope por suas boas obras e atos de caridade, ministrando a pessoas de todos os níveis sociais. Timóteo era um jovem que aprendeu com Paulo, uma dupla que Deus usou poderosamente e “assim, as igrejas eram fortalecidas na fé e, dia a dia, aumentavam em número” (Atos 16:5). Todo santo dia multidões de pessoas vinham a Jesus sob um ministério do qual coparticipava um jovem.

Então em Atos 11, lemos de outro abalo sísmico na história da igreja. Este, veio através de crentes fortalecidos pelo Espírito cujos nomes as escrituras nem mencionam. Eles foram as primeiras testemunhas aos gentios, levando as boas novas de Jesus além das barreiras do judaísmo. “Alguns deles…foram até Antioquia, falavam também aos gregos, anunciando-lhes o evangelho do Senhor Jesus” (Atos 11:20).

Em todo movimento de Deus, leigos simples, despercebidos, se apropriam do poder do Pentecostes para operar grandes coisas em Seu nome

O Pentecostes não foi apenas um acontecimento histórico acontecido há 2000 anos. Trata-se de um fenômeno cujo sopro continua acontecendo. Os missiólogos dizem que o Pentecostes ocorre ao redor do mundo a cada trinta minutos. Em algum lugar nesse momento um pequeno grupo de pessoas está clamando a Deus – e o Seu Espírito está caindo sobre eles, dando-lhes poder para serem Suas testemunhas diante de um mundo perdido.

O Pentecostes está acontecendo agora mesmo em Varanasi, uma cidade ao norte da Índia que eu visitei há não muito tempo. Menos de 1 por cento da população frequentava igreja quando uma jovem cristã chegou lá há poucos anos. Ela começou a levar pessoas a Cristo uma a uma, e estes convertidos começaram a levar outros ao Senhor. Agora há milhares de dinâmicas igrejas na região com testemunho poderoso para Cristo. Esta jovem não guardou o Pentecostes para si. Há outros iguaizinhos a ela por todo o mundo – cristãos que clamam ao Espírito para levar para mais longe o amor do Pai.

Em várias ocasiões o meu pai, David Wilkerson, me contou o que mais lhe entristeceu quando pastoreou uma pequena igreja na Pensilvânia na década de 50. Era uma igreja pentecostal, então o culto seguia certa sequência. Uma irmã tocava o órgão e a congregação cantava alguns hinos tradicionais. Alguém se levantava e trazia uma mensagem em línguas, seguida por outra que trazia a interpretação. O papai a seguir pregava. Depois, ele orava e as pessoas iam ao altar clamando para que o Espírito Santo descesse. E a seguir todos iam para casa.

Esta igreja não se expandia. Ela não tinha ministério de misericórdia. Poucas pessoas foram levadas a Cristo durante os poucos anos em que meu pai pastoreou lá. Os membros eram cristãos que buscavam o Pentecostes para si próprios; nunca conheceram o Pentecostes que Deus tinha em mente para eles. A quebrantada oração de meu pai dizia tudo: “Senhor, se isso é o Pentecostes, eu não o quero. Se é um clube do tipo ‘me abençoe’ semana após semana, isso não terá a ver comigo”.

Foi a partir do desejo por um Pentecostes verdadeiro que meu pai em vez de assistir televisão, passou a gastar tempo em oração. O resto já pertence à história. Décadas após, o seu livro A Cruz e o Punhal vendeu milhões de exemplares, com mais de 1.000 Desafios Jovens pelo mundo trabalhando para salvar os perdidos e derrotados na vida. Todos estes acontecimentos proclamam o poder ativo de Deus hoje através do Espírito Santo.

A igreja ainda tem de acabar de ler um capítulo importante da Bíblia: Atos 29

Claro, há só 28 capítulos em Atos. Mas por séculos Deus tem escrito outro capítulo através de dezenas de milhares de discípulos. Seus nomes não são Filipe ou Tabita ou Timóteo. Hoje eles têm nomes como Jenny, que frequenta nossa igreja em Colorado Springs. Ela é uma ruiva australiana com a risada mais engraçada que já se ouviu – e é apaixonada pelo evangelho. Todo dia ela e o marido veem o poder de Deus se movendo sobre as pessoas que eles encontram.

Há também um discípulo aqui chamado Tiago, um rapaz a quem tenho ministrado por décadas. Poucas pessoas evangelizam como o Tiago. Há pouco, quando ele levou uma pessoa a Cristo, ele sugeriu, “Eu gostaria de fazer um estudo bíblico na sua casa”. Logo mais pessoas na vizinhança foram chegando e sendo salvas. Tiago fez a mesma coisa em outra redondeza. E aí outros estudos bíblicos estão pipocando pela cidade inteira devido a um cristão radical que crê no poder do Espírito Santo para mover corações de modo sobrenatural.

Há um discípulo aqui chamado Chris, um moço de nossa igreja que foi salvo há poucos meses. Ele estava a ponto de se suicidar quando encontrou Jesus em um de nossos trabalhos de rua. Agora Chris está envolvido em estudo bíblico nos lares e está cheio do Espírito de Deus. Ele pediu que o grupo orasse por seus antigos amigos, alguns dos quais ele diz estarem cheios do demônio. Um senhor mais velho do grupo se ofereceu para ir com Chris para testemunhar aos seus amigos, mas Chris riu e disse, “Você não vai querer ir aonde eu vou”. Os nossos grupos com gente experimentada foram a alguns dos lugares negros da cidade, mas Deus escolheu enviar um jovem crente ousado para alcançar um dos lugares mais negros.

Há um discípulo de treze anos chamado Jonathan em nossa igreja que ora com a autoridade de um missionário vivido. As orações dele levam os adultos a caírem de joelhos porque ele tem o som de um coração quebrantado e contrito. Jonathan anseia ver Deus salvando os perdidos, e sua fome espiritual é contagiante.

Os discípulos que estou descrevendo são cristãos do século 21 aos quais foi dado o poder do primeiro século. E você e eu somos igualmente chamados – para sermos equipados pelo Espírito de Deus para fazer a obra de Deus. Acredito ter chegado a hora para que muitos na igreja deixem de ser meros ouvintes da palavra de Deus, mas praticantes. Estudos bíblicos e grupos de oração são bons, mas uma coisa é conhecermos de Jesus e da Sua glória, e outra é ter o Seu Espírito vivendo dentro de nós para ministramos como Ele. Este é o motivo pelo qual o Espírito Santo veio: para viver em nós para que possamos cumprir os Seus propósitos através de nós.

Insto que você ore comigo: “Senhor, possa eu ser forte no aprendizado da Tua palavra – e possa eu ser igualmente forte em cumprir a Tua palavra. Quero estar dentro daquele grupo ‘alguns deles’ que desejam ardentemente ver o Teu poder agindo no coração dos que se perdem. Traga o Pentecostes aqui hoje, Senhor! Amém”.