HUMILDADE

Gary Wilkerson

A Característica Que Pode Transformar O Mundo

“Revesti-vos, todos vós, com humildade” (1 Pedro 5:5, ESV). Em sete palavras diretas, Pedro imaginou o que pode trazer uma reforma transformadora para a igreja de Jesus Cristo. Seu comando simples levanta a questão: “E se cada membro do corpo de Cristo em todo o mundo andasse em completa humildade o tempo todo? Quão diferente seria o impacto da igreja? Quão atraente e curador seria o evangelho para um mundo perdido, quebrado e ferido? Que glória Deus receberia se a característica predominante da igreja fosse a humildade?”.

Acredito que a humildade ganhou uma má reputação sem culpa própria. Alguns cristãos imaginam que a humildade é deixar-se ser guiado pelos outros. Alguns a imaginam como vestir túnicas e sandálias como São Francisco e abandonar tudo sobre o mundo. Outros pensam que a humildade é não ofender as pessoas, mas isso é apenas agradar ao homem em vez de honrar a Deus. Nenhuma dessas imagens vai ao cerne do que é a humildade. Acredito que o chamado de Pedro à humildade sugere como a igreja poderia revelar profeticamente ao mundo a própria natureza de servo de Deus. Deixe-me explicar.

A humildade é realizada apenas nos relacionamentos.

A humildade não é uma característica autodirigida. Tem uma realidade funcional em nossa caminhada uns com os outros e com o Senhor. Por designação, a humildade é relacional e seu efeito é poderoso. Uma interação entre minha esposa e uma vizinha fornece um exemplo.

Kelly e eu moramos em um condomínio de casas geminadas, e atrás de nossa residência há um maravilhoso espaço verde aberto. Alguns dias depois de nos mudarmos, nossa vizinha convidou minha esposa para um chá. Pensamos que era um grande gesto, até que nossa vizinha revelou sua intenção. Ela disse a Kelly: “Tenho medo de cachorros e não gosto que você passeie com os seus no espaço aberto atrás da minha casa”.

Kelly garantiu a essa vizinha: “Por favor, não se preocupe. Vou sair com nossos cachorros pela porta da frente e vamos dar a volta para irmos ao espaço aberto”. Minha esposa pratica esse tipo de humildade graciosa regularmente.

Porém, quando ela me contou sobre o pedido de nossa vizinha, fiquei furioso. Eu disse: “Que arrogância horrível! Aqui, me dê os cachorros”. Eu estava pronto para levá-los para trás da propriedade da vizinha e fazê-los uivar, fazer cocô e fazer tudo dentro de nossos direitos de convênio. Então percebi que deveria pregar sobre humildade naquela semana.

Desde a queda da humanidade, lutamos contra o orgulho de sermos mandados. Não queremos que nada atrapalhe os planos que temos para nós mesmos. A verdade é que eu quase nunca levava os cachorros para passear; Kelly geralmente assumia essa tarefa. Eu só queria fazer isso uma vez para poder afirmar meus direitos. A humildade de Kelly acabou conquistando o coração de nossa vizinha. A mulher ficou tão impressionada com a graça amorosa de minha esposa que, algum tempo depois, ela disse a Kelly para trazer os cachorros sempre que quisesse. O medo de cães de nossa vizinha pode ter sido real, mas o amor servil de Deus no espírito de Kelly superou isso. Sim, a humildade tem um poder transformador.

Eu costumava pensar que o “orgulho dos direitos” era principalmente uma coisa americana, então eu preguei em uma conferência de pastores na Polônia, falando sobre o orgulho da carne e como ele permeia a mentalidade dos Estados Unidos. Depois, o pastor principal me desafiou com uma risada calorosa. “Gary, você não acredita que existe uma carne polonesa, uma carne alemã e uma carne africana?”.

Eu acredito que um conceito negativo sobre humildade tem se infiltrado em nosso pensamento como cristãos.

Se formos honestos, a maioria de nós admitiria que pensamos: "Humildade não me levará a lugar algum. Ela vai destruir todos os meus sonhos”. Isso é verdade até mesmo entre os cristãos. O apóstolo Paulo ensinou o oposto. “Tenham em vós o mesmo modo de pensar que tinha Cristo Jesus, o qual, tendo a natureza de Deus, não reivindicou o ser igual a Deus, pelo contrário, se esvaziou de si mesmo, tomando a natureza de servo” (Filipenses 2:5-7).

O que Paulo disse sobre humildade é profundamente contracultural. O mundo despreza e zomba da humildade, mas Pedro diz que Deus exalta aqueles que a praticam. Isso não significa que agir com humildade seja fácil. Na verdade, é impossível caminhar em humildade sem a graça dada pelo Espírito. De acordo com Pedro, “Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes” (1 Pedro 5:5, ênfase minha).

Observe como este verso é de duplo sentido. Nossa humildade é fortalecida pelo Espírito, ao mesmo tempo em que Deus resiste ao nosso orgulho. Em resumo, se agirmos impulsionados pelos desejos e esforços da carne, Deus interromperá a bênção em nossas vidas para lidar amorosamente com nosso orgulho. Ele não faz isso apenas para nos corrigir, mas também porque deseja revelar sua natureza por meio de nós. Isso requer uma transformação que somente sua incrível graça pode realizar. “Portanto, humilhai-vos debaixo da poderosa mão de Deus” (1 Pedro 5:6).

Pedro expôs três maneiras pelas quais os cristãos devem liderar pela humildade.

“Portanto, exorto os presbíteros entre vós, eu, presbítero como eles e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e também participante da glória que será revelada: pastoreiem o rebanho de Deus que está entre vós, cuidando dele, (1) não por obrigação, mas de livre vontade, como Deus quer; (2) não por ganância, mas de boa vontade; (3) não como dominadores dos que lhes foram confiados, mas como exemplos para o rebanho” (1 Pedro 5:1-3, minha numeração e ênfase).

Segundo Pedro, para que um presbítero exerça uma liderança adequada, ele o faz não por obrigação, mas de livre vontade. Você já viu um cristão “tentar” ser humilde rangendo os dentes? É risível! (Eu sei porque já tentei.) A liderança humilde nunca é alcançada por esforços impulsionados por si mesmo. Nossa fonte é o próprio Espírito.

Segundo, devemos estar ansiosos para servir com humildade, não de forma gananciosa ou “por ganho vergonhoso”. À medida que o Espírito transforma nosso coração, a humildade se torna uma alegria que buscamos com entusiasmo. Qualquer busca por uma recompensa terrena se dissipa na luz pura e brilhante da humildade.

Terceiro, humildade não é “dominar” sobre os outros. Pelo contrário, trata-se de servir aos outros. Quantas vezes você já se sentiu subordinado à missão de um pastor que carecia do espírito de Cristo? Missões são boas somente quando são cumpridas sob o alto chamado de Cristo. Esse chamado é colocar as necessidades dos outros acima das nossas próprias. Humildade não pode ser simplesmente importada e injetada em uma missão; ela precisa ser construída no próprio coração da missão, atuando como o combustível que a energiza.

Eu mencionei como toda humildade é relacional. Pense por um momento sobre o conceito de “uns aos outros”. Uma simples busca por essa frase na Bíblia traz mais de 250 resultados. “Amai uns aos outros”, “honrai uns aos outros”, “estimai uns aos outros” - a lista é poderosa e, é claro, trata-se de relacionamentos. Uma breve análise desses trechos deixa claro que a humildade não pode se tornar uma realidade a menos que coloquemos as necessidades dos outros à frente das nossas.

Pedro conecta humildade com confiança.

Então, como você enfrenta suas lutas relacionais? Como resolve seus conflitos e lida com sentimentos de mágoa? Você confia essas coisas ao Senhor? Você já ouviu o verso “Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós”. O contexto para isso é a passagem de Pedro sobre humildade. “Humilhai-vos, pois, debaixo da poderosa mão de Deus, para que, a seu tempo, ele vos exalte, lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós” (1 Pedro 5:7, ênfase minha).

Observe a sequência de quatro frases neste versículo: Humilhai-vos; poderosa mão de Deus; lançando todas as vossas ansiedades sobre ele; ele cuida de vós. A mensagem de Pedro é clara. É mais fácil entregar nossas preocupações ao Senhor quando conectamos seu poder, sabedoria e majestade com seu amor incansável por nós. Se vamos nos revestir de humildade, precisamos conhecer algo da poderosa mão de Deus agindo em nosso favor.

Se acreditarmos que ele vai nos decepcionar, no entanto, é difícil vestir as vestes da humildade. Em nosso esforço para nos proteger, o orgulho impulsionado por nós mesmos entra em ação. Esse orgulho leva à agitação, preocupação e noites sem dormir. Pedro destaca como Satanás usa essas ansiedades para se infiltrar em nossas vidas. “Sede sóbrios, vigiai. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, rugindo como leão, buscando a quem devorar. Resista a ele, firmes na fé...” (1 Pedro 5:8-9).

Se você deseja uma vida tranquila, livre de ansiedades e sem preocupações, volte-se para a poderosa mão do Senhor. Não importa qual problema você enfrente, você pode dormir em paz. O inimigo pode rondar procurando um ponto de entrada para injetar dúvida e medo, mas Pedro diz que sua confiança em Deus neutraliza Satanás. Nossa teologia afeta nosso comportamento e, quando estamos enraizados e fundamentados na realidade da poderosa mão de Deus, nossa base permanece firme.

Imagine a alegria, poder e glória que emanam de uma igreja que se humilha como Jesus fez.

Eu adoraria frequentar uma igreja assim. Não haveria agendas, orgulho, nenhum inimigo devorador capaz de semear discórdia, nenhum medo de que nossos sonhos sejam desviados enquanto colocamos as necessidades dos outros antes das nossas próprias. A poderosa mão de Deus está encarregada de nosso avanço na vida, e ele promove qualquer exaltação à medida que obedecemos ao seu chamado à humildade. Portanto, não há necessidade de lutar ou se preocupar.

Confiar em sua poderosa mão é o primeiro passo para nos revestirmos de humildade. Quando fazemos isso, vemos seu trabalho em nossas vidas como nunca antes. Como igreja, maravilharemos o mundo com um serviço digno do nosso Salvador. Amém.

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