Algemado a Jesus
Somos chamados a prover nossas famílias. Temos empregos, carreiras, e enfrentamos problemas financeiros – mas devemos confiar em Deus para orientações. Esta mensagem inteira trata de nos amarrarmos à Sua liderança.
Quero lhe contar de uma experiência profundamente significante em minha caminhada com o Senhor. Tornou-se um marco espiritual para mim. E creio ser uma lição que fala diretamente àquilo que a igreja de Jesus Cristo precisa hoje.
Eu estava clamando em oração, “Senhor, apossa-te de mim. Agarre-me e possua-me. Apreenda-me para Sua glória”. Eu não tinha idéia, na hora que eu expressei isso, de que o Espírito Santo estava me preparando para ser algemado.
É bíblico orar pedindo a Deus para que Ele nos algeme; significa pedirmos que algeme nossas mãos e nos torne prisioneiros. Paulo refere-se a si mesmo freqüentemente como “prisioneiro de Jesus Cristo” (Efésios 3:1). Em Efésios ele diz que, na verdade, ser o prisioneiro do Senhor é o seu chamado. Ele considerava isso um dom da graça de Deus para com ele (veja 4:7).
Paulo também escreve a Timóteo, “Portanto não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro” (2 Timóteo 1:8). Mesmo em idade avançada, Paulo regozijava-se por ter sido apreendido pelo Senhor e tornado cativo de Sua vontade. “Sendo eu como sou, Paulo o velho, e agora até prisioneiro de Cristo Jesus” (Filemon 9).
Paulo podia dizer a hora exata em que o Senhor o algemou e tomou como cativo
Paulo estava na estrada de Damasco com cartas oficiais do sumo sacerdote. Ele havia sido autorizado a prender cristãos e trazê-los de volta à Jerusalém. As escrituras dizem que ele estava “respirando ainda ameaças e morte contra os discípulos do Senhor”. Em outras palavras, Paulo estava cheio de ódio, amargura e raiva em seu errôneo zelo por Deus.
Mas quando Paulo se aproximou de Damasco, “subitamente o cercou um resplendor de luz do céu” (Atos 9:3). Ele ficou completamente cego devido àquela luz, que era a glória de Cristo.
Paulo testemunhou vez após vez sobre como teve de ser tomado pela mão e conduzido até Damasco; em suma, ele era um prisioneiro frágil. Passou três dias em um quarto isolado sem enxergar e recusando qualquer alimento. Ele fora tomado cativo inteiramente - em espírito, alma, mente e corpo.
Então, o que aconteceu naquele quarto-prisão por três dias? O Senhor estava algemando Saulo e transformando-o em Paulo, o prisioneiro de Jesus Cristo. Veja, Deus teve a atenção total de Paulo – e, durante aquele período, os olhos de Paulo foram abertos para a verdade do evangelho. Foi quando deixou o seu próprio zelo e independência, e se submeteu ao jugo de Cristo.
Conforme lemos Atos 9, quase podemos ouvir a oração agonizante de Paulo: “Senhor, pensei que estava fazendo Sua vontade. Como pude ser tão cego? O Senhor tirou minha visão física – e me deu olhos espirituais para ver! Todo esse tempo tenho seguido meu próprio caminho. Fiz tudo que achava ser o certo. Mas não posso confiar em meus próprios pensamentos”.
“Senhor, mate a minha vontade. Ela só vai me guiar para o caminho errado. Pronto, Jesus – algeme minhas mãos às Tuas. Mantenha-me algemado ao Teu braço forte, quero morrer para a minha independência e passar a ser um prisioneiro da Tua vontade!”.
Muitos homens e mulheres piedosos ao longo das escrituras compreenderam o que significava ser algemado ao Senhor. Davi foi um deles. Ele disse do Senhor, “Tu me cercaste em volta, e puseste sobre mim a tua mão” (Salmos 139:5). “Tua destra me susterá” (139:10). A palavra para “susterá” aqui no original em hebraico é “agarrará”.
Davi estava dizendo, “Sou levado algemado ao meu bendito Senhor. Se eu tentar fugir, Ele não permitirá. Se eu ascender aos céus, ou tentar criar asas para voar, até ali Sua mão está sobre mim” (veja 139:7-13).
Ninguém compreendeu o que é ser algemado a Jesus mais do que Pedro
Pedro teve um encontro incrível com o Jesus ressurreto. O Senhor profetiza da necessidade deste discípulo ser algemado: “Quando você era mais jovem, vestia-se e ia para onde queria; mas quando for velho, estenderá as mãos e outra pessoa o vestirá e o levará para onde você não deseja ir” (João 21:18).
Alguns estudiosos da Bíblia sugerem que o Senhor estava revelando a Pedro como ele passaria seus últimos dias: em desamparo senil, meio cego e arrastado contra a vontade. Mas o apóstolo João aponta para um significado diferente: “Ora, isto ele disse, significando com que morte havia Pedro de glorificar a Deus” (21:19). De fato, a tradição diz que Pedro foi crucificado de cabeça para baixo, com os braços estendidos. João certamente saberia isso, já que escreveu seu evangelho depois da morte de Pedro.
Contudo, o que Cristo estava dizendo a Pedro aqui, vai além dessas interpretações. Nas próprias epístolas de Pedro, encontramos o apóstolo ainda ardendo com o fogo do Espírito Santo em idade avançada. Ele combatia a apostasia, expunha falsos profetas e pregava com autoridade. Ele explicava seu chamado dessa forma: “Considero importante, enquanto estiver no tabernáculo deste corpo, despertar a memória de vocês” (2 Pedro 1:13).
Não tenho nenhuma dúvida de que no evangelho de João, Jesus estava dizendo a Pedro como ele morreria. Mas Cristo estava dizendo muito mais que isso. Ele estava descrevendo um processo espiritual. Na verdade, creio que Ele estava profetizando não apenas a Pedro, mas a todos que O seguiriam. Aqui está o que creio Cristo está chamando todos nós para fazer.
O verdadeiro amor por Jesus deve resultar na morte de toda nossa independente vontade própria
Não se engane: Pedro amava verdadeiramente a Cristo. Três vezes Jesus fitou-o nos olhos e perguntou, “Tu me amas?”. Pedro sabia que Jesus podia ler seus pensamentos. E o discípulo pôde responder honestamente, “Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que te amo” (João 21:17).
Pedro não somente amava ao Senhor grandemente. Ele era provavelmente mais zeloso em seu amor que os outros discípulos. Ele estava sempre com pressa para ir até Jesus, fosse saindo do barco para andar sobre as águas, ou mais tarde correndo para a tumba vazia no dia da ressurreição.
A despeito de todo seu grande amor e zelo pelo Senhor, Pedro ainda era um homem cheio de independência voluntariosa. Mesmo a essa altura de sua vida espiritual, ninguém diria a ele o que fazer. Sua vontade não tinha sido quebrada.
Pense nisso. Ali estava um homem que transpirava confiança e competência. Pedro era auto-suficiente e acostumado a agir por conta própria; era um pescador que possuía o próprio barco e tinha de combater águas violentas e maus tempos para sobreviver. Era uma pessoa que tinha se feito por si só, sempre no controle. (Às vezes, ele provavelmente sentia que o Senhor precisava dele tanto quanto ele precisava do Senhor!)
A verdade é que o mundo ama e admira um homem assim. O sonho americano é exemplificado por pessoas que se fazem por si – agitadores culturais e sociais cheios de autoconfiança, livres pensadores, todos eles executando grandes coisas à sua maneira.
Mas no reino de Deus, esse tipo de independência é sinal certo de uma pessoa que não foi à cruz para mortificar sua carne. Simplificando, Pedro não tinha morrido para a própria carne. Você não pode ser algemado a Jesus e manter um espírito independente. Para estar amarrado a Ele inteiramente, você precisa estender os braços em total submissão.
Jesus deve ter ouvido honestidade na voz de Pedro quando este testificou seu amor por Ele. No entanto, o Senhor não o reconheceu publicamente. Ao invés disso, Cristo preferiu se concentrar em uma sóbria realidade e a colocou diante de Pedro. Jesus disse, em essência:
“Desde jovem, você se acostumou a fazer tudo o que desejava. Você fazia as coisas à sua maneira, na hora que queria. Essa é a sua natureza, Pedro. Esse é o tipo de homem que você é”. “Vestia-se (a si mesmo) e ia para onde queria” (João 21:18).
Mesmo após a crucificação, o espírito independente de Pedro irrompeu em auto-afirmação: “Vou pescar!” (21:3). Sabemos que Jesus chamou Pedro para ser pescador – mas de homens, não de peixes! Outrora Pedro tinha largado as redes, esquecido sua carreira e seguido a Jesus para pescar almas. Entretanto, agora, Pedro queria pescar do seu jeito – não do jeito do Senhor.
Vemos em Pedro que é possível ter a mais incrível revelação do Cristo ressurreto – estar apaixonado por Ele – contudo ainda não sermos Seu prisioneiro, ainda não estarmos algemados ao nosso Mestre.
Todos nós queremos levar alguma vantagem antes de sermos algemados
O linguajar da independência não é meramente “vou pescar”. É algo mais profundo no coração, que cochicha, “preciso sair ganhando mais uma vez só. Aí então poderei ser algemado”.
Pedro saiu para mais do que apenas alguns peixes. Pense bem: se quisesse apenas se distrair, ele poderia pegar uma vara e algumas minhocas, ficar com água até os joelhos e lançar a linha. Não, Pedro queria seu velho barco, sua velha tripulação e todas as suas velhas redes. Ele precisava de uma última rodada fazendo aquilo em que era bom, sob seu curso independente. Ele poderia pescar uma última vez, e aí iria desistir disso.
Você já experimentou um momento como o de Pedro? Era o último impulso de independência. No entanto, naquela noite Pedro e os outros não pegavam nada. Jesus, na praia, sabia o que estava no coração de Pedro, e bradou: “Lançai a rede à direita do barco, e achareis” (21:6). O Senhor iria deixar que Pedro tivesse aquela última bolada.
Em um primeiro momento Pedro não reconheceu Jesus na praia. À medida que as redes se enchiam diante de seus olhos, ele ia ficando tão animado, que tudo o que podia pensar era, “Acertamos em cheio. Que bolada!”.
Ora, o apóstolo João estava no barco com Pedro. E quando viu o que estava acontecendo, o coração dele se convenceu. Ele presenciara antes esse tipo de bênção, grande e milagrosa, com peixes se multiplicando. Então ele pegou Pedro e disse, “Irmão, isso é obra do Mestre. Não percebe?”. “Aquele discípulo a quem Jesus amava disse a Pedro: É o Senhor!” (21:7).
Pedro olhou aquela grande quantidade de peixes se batendo nas redes – e os largou. Tinha sido a maior bolada de sua vida. Mas algo maior estava em jogo, e ele sabia. Ele subitamente se lembrou do chamado de Jesus para ele: “Vou torná-lo Meu pescador. Você pescará almas de homens para Mim. Venha, siga-Me”.
Agora Pedro via o quão insignificante fora sua ambição. Ele soube que até mesmo mil boladas jamais o satisfariam. Ele nunca mais conseguiria se sentir preenchido tentando fazer as coisas acontecerem segundo a vontade dele. Creio que Pedro disse a si mesmo naquele momento: “Não vou me permitir ser prisioneiro desse barco, sonhar em levar vantagem. Quero ser um pescador de homens! Para fazer isso, preciso me tornar um prisioneiro de Jesus. Não consigo encontrar significado, propósito e preenchimento eu sozinho. Preciso d’Ele para me guiar – e só então estarei realizado. Quero ser algemado a Ele!”.
Considere a história de Pedro aqui. A verdadeira prova de amor por Cristo não é simplesmente voltar para Ele depois de ter fracassado ao agir por conta própria. É enxergar o vazio naquela que seria a sua maior oportunidade - e largar cada sonho egoísta para se tornar Seu prisioneiro.
Pense nos pescadores dos barcos ao redor. Eles teriam chamado Pedro de louco: “O que você está fazendo? Você conseguiu! Essa é sua grande chance. Você é tolo em ir embora com a oportunidade na sua frente”.
Mas Pedro só pensava nas palavras de seu Mestre: “Que bem fará ao homem se ele ganhar todo o mundo e perder sua alma?”. Pedro agora tinha olhos para o que era eterno. E ele desejava isso acima de tudo mais. Então ele abandonou as redes e os outros discípulos. Pulou na água e nadou em direção a Jesus na praia.
Havia um último desejo derradeiro em Pedro?
Pedro sentiu um último puxão no coração quando viu os outros discípulos arrastando aquela quantidade enorme de peixes na praia? Se ele sentiu, Jesus foi direto ao ponto quando perguntou a ele, “Simão, filho de João, amas-me mais do que estes?” (João 21:15).
Amado, sei como Pedro se sentiu naquele momento. Houve vezes em que pensei ter tido vitória sobre o materialismo – quando larguei tudo e nadei até Jesus – contudo, pouco depois, lá veio a mesma batalha novamente.
Creio que essa é a pergunta que todos enfrentamos agora, quando os últimos dias se aproximam e o mundo financeiro foge do controle. Claro, amamos Jesus. Mas O amamos mais que nossa segurança financeira? Mais que o conforto? Mais que qualquer sucesso que esse mundo possa oferecer?
Em suma, você está pronto para pular fora do barco como fez Pedro – deixar sua rede cheia para trás – e nadar para Jesus? Você está pronto para desistir de seu último fio de independência, e se algemar ao Único que sabe o que o realiza? Quando nossos propósitos se cruzam com os do Senhor, sempre somos tentados a colocar nossos interesses primeiro.
Quando Jesus perguntou a Pedro se ele O amava, Ele estava lhe dizendo, “Agora que você largou sua independência, quero te mostrar em que direção você será dirigido. À medida que crescer e amadurecer no Espírito, você vai aprender a caminhar ao Meu lado com as mãos estendidas. Você será Meu prisioneiro – fazendo a Minha vontade, deixando que Eu lhe guie até mesmo aonde você não quer ir”.
“Agora, estenda as mãos, Pedro. Você diz que Me ama? Então seja Meu prisioneiro. Confie em Mim para guiá-lo e conduzi-lo através de tudo na vida.”
Jesus sabia todas as coisas. E Ele viu o que estava à frente de Pedro após o Pentecostes. Ele sabia que Pedro não iria querer levar o evangelho aos gentios. Ele sabia que ele não iria querer ir até a casa de Cornélio, e comer coisas que eram impuras para os judeus. Mas Pedro aprendeu a estender as mãos, aceitar aquelas algemas santas e ser guiado pelo Espírito.
Claro, Pedro depois foi realmente à casa de Cornélio, pela direção do Espírito. E ele levou o evangelho aos gentios. O mundo jamais seria o mesmo.
Veja as palavras de Jesus novamente: “Outro te cingirá” (“o vestirá”) (João 21:18). Quem é esse “outro”? É Cristo! Ele se apossa de nós, nos veste com Sua armadura, e nos leva a lugares e pessoas que jamais imaginaríamos encontrar – tudo por amor de Seu reino.
Esse é o chamado d’Ele para nós. Devemos nos submeter às Suas algemas, dizendo, “Toma-me, Senhor. Torne-me um prisioneiro da Tua vontade. Eu perco toda a minha independência e a deixo a Teus pés”.
Muitos inventam desculpas para não se deixarem ser atados ao Senhor
Eis o linguajar daqueles que se recusam ser algemados: “Mas eles começaram, um por um, a apresentar desculpas” (Lucas 14:18). Jesus está aqui contando uma parábola sobre um grande banquete que estava acontecendo. O homem que está dando a festa representa Deus, e a ceia em si representa as bodas do Cordeiro.
Agora mesmo o Espírito Santo está se movendo ao redor do mundo, chamando todos os convidados para se prepararem e virem: “Tudo já está preparado” (14:17). Mas a maioria está inventando desculpas para não vir. Pergunto: você tem uma desculpa para não responder ao Seu chamado? Ao invés, você é tentado a levar vantagem uma última vez? Você está atado a algum tipo de ambição ou desejo independente?
Na parábola que Jesus contou ninguém teve tempo para o Senhor. E todas as desculpas que eles deram soaram legítimas: preocupações com a família, investimentos, posses – todas, coisas boas e terrenas. Vejo a mesma coisa acontecendo entre muitos cristãos hoje, especialmente nesses tempos economicamente turbulentos: estão se recusando a se submeterem por inteiro a Jesus. Suas afeições são apanhadas e enredadas pelas coisas deste mundo.
Qual é a resposta do Senhor a isso? “Então o dono da casa, indignado, disse... nenhum daqueles homens que foram convidados provará a minha ceia” (14:21, 24).
Jesus não poderia dizer isso de modo mais simples. Ele está nos alertando contra a tentação da última hora de ficarmos enamorados por esse mundo. Insisto com você: ceda a Ele, submeta-se a Ele e seja algemado a Ele. Faça essa oração comigo:
“Senhor, cansei do meu espírito independente. Neste momento estendo meus braços a Ti. Quero ser pescador de homens, não dos meus próprios propósitos. Coloque Tuas amorosas algemas em mim. Prenda-me a Ti!”.
Dessa forma, você estará preparado para a maior benção de todas: estar presente à ceia das bodas do Cordeiro. Faça dela a sua oração hoje!