Cântico Certo, Lado Errado

Israel encontrava-se em situação dificílima e sem esperança. Eles se encontravam em uma cilada, com o Mar Vermelho diante deles e montanhas à direita e à esquerda. Um faraó furioso e seus carros de ferro se aproximando por trás.

Essa é uma história muito familiar que você tem ouvido a vida toda na igreja. Os filhos de Israel foram guiados por Deus à uma crise horrível onde foram cercados por inimigo feroz. Por incrível que pareça, o Senhor havia guiado o Seu povo propositalmente à essa situação precária. Creio que esta é uma historia de grande importância para a igreja hoje - em verdade para esse momento da historia.

Israel estava cercado, aparentemente sem esperança. E isso causou pânico em todo o acampamento de Israel. Esposas e filhos choravam, se apertando junto aos pais e avós. Um grupo de anciãos irados veio sobre o líder Moisés, acusando, "Por acaso não havia tumbas suficientes no Egito? Você nos arrastou até aqui para morrermos. Lá no Egito lhe dissemos para nos deixar em paz. Antes sermos escravo do faraó do que morrer nesse deserto miserável!".

Imagino se Moisés pode ter tido um momento de apreensão naquela hora. Imagino-o pondo-se de joelhos, clamando, "Senhor, o que está acontecendo? Como é possível que essa seja a Tua vontade para conosco?". No entanto, parece que Deus o repreendeu ao responder, "Por que clamas a mim?" (Êxodo 14:15).

Surpreendentemente, naquele momento negro Deus operava um milagre de livramento para Israel. Repentinamente os ventos foram movidos tão poderosamente que dividiram o mar em dois. Com uma rota de fuga milagrosa diante deles, o povo cruzou o mar em terra seca. Então, quando Faraó e seu exercito tentou segui-los, as ondas tombaram e os afogaram nas atrozes águas.

"Assim o Senhor, naquele dia, salvou Israel da mão dos egípcios; e Israel viu os egípcios mortos na praia do mar. E viu Israel a grande obra que o Senhor operara contra os egípcios; pelo que o povo temeu ao Senhor, e creu no Senhor e em Moisés, seu servo" (Êxodo 14:30 e 31).

Recomendo que você note a seguinte palavra nessa passagem, pois ela é o coração da minha mensagem: "(Quando) Israel viu a grande obra que o Senhor operara... então cantaram Moisés e os filhos de Israel este cântico ao Senhor" (14:31- 15:1, itálicos meus).

Quando os israelitas viram o que acontecera, irromperam com toque de tamborins e começaram a cantar um glorioso cântico de louvor a Deus. "Cantarei ao Senhor porque gloriosamente triunfou... o Senhor é a minha força e o meu cântico; ele tem se tornado minha salvação... eu o exaltarei... Quem entre os deuses é como Tu, ó Deus? Quem é como Tu... admirável em louvores, operando maravilhas?" (15:1-2, 11).

Era o cântico certo, mas o povo de Deus o cantava do lado errado

O cântico de vitória dos israelitas não foi entoado do lado certo – isto é, no lado do teste – do mar Vermelho. Ao contrário, foi entoado depois que viram o poder de Deus operando – depois do livramento. "Então cantaram Moisés e os filhos de Israel este cântico ao Senhor" (Êxodo 15:1, itálicos meus).

Todavia, as pessoas diziam umas às outras, "Que grande testemunho! Pense bem. Esse milagre será comentado pelos ímpios e pagãos do mundo. Eles saberão que nosso Deus é todo poderoso!". "Os povos o ouvirão, eles estremecerão... Então os príncipes de Edom se pasmarão; dos poderosos dos moabitas apoderar-se-á um tremor, derreter-se-ão todos os habitantes de Canaã" (15:14-15).

Quão seguro e poderoso o povo de Deus deve ter se sentido naquele momento. Eles cantaram sobre como seriam temidos e respeitados dali em diante. Era como se dissessem, "Esse é bem um testemunho poderoso. Podemos nos gabar de Deus ter nos livrado de uma situação totalmente sem esperança. Todos saberão que o Senhor é conosco com Seu incrível poder e força".

No entanto, esse testemunho não era dos israelitas. Era somente de Deus. O Senhor disse, "Glorificar-me-ei em Faraó e em todo seu exército... e os egípcios saberão que eu sou o Senhor" (14:17-18). Deus fez com que o Egito conhecesse o Seu poder. Enquanto isso, Israel era reprovado em seu teste. Somente Moisés tinha o direito de cantar no lado da vitória do apuro. Em termos simples, o povo estava cantando o cântico certo do lado errado. Eles tinham um testemunho do livramento de Deus, mas nenhum testemunho de confiança Nele.

Você entende? Esse cântico – o cântico de fé – era um cântico que Deus queria muito tê-los ouvido cantando no lado da prova. Qualquer um consegue cantar depois que a vitória chega. Até mesmo os maiores incrédulos são capazes de oferecer cânticos de jubilo uma vez que Deus tenha-lhes provido livramento. Mas tal cântico não é um testemunho de fé.

A grande necessidade dessa hora é a de cristãos que aprenderam a cantar o cântico de livramento no lado da provação

Gideão tinha apenas um pequeno exército de 300 homens; no entanto, ele bradou em fé antes da batalha. Como o Senhor deve ter ansiado para que um Gideão se levantasse naquele acampamento aterrorizado no mar Vermelho, e lembrasse a todos da fidelidade de Deus para com eles no passado. Veja bem, no que se refere ao Senhor, a hora de se levantar é no momento mais negro. É quando tudo parece sem esperança, quando não aparece nenhuma saída, quando somente Deus pode salvar e livrar. Os apuros de Israel no mar Vermelho foram provocados por Deus como uma experiência de aprendizado para eles, um momento para construírem sua fé. A fé não estaria sendo testada de outra maneira se tudo estivesse correndo de modo suave.

Se ao menos Israel tivesse lembrado dos milagres que Deus operara no Egito em favor deles. Se ao menos tivessem crido em Sua palavra quando diz que os conduziria em Seus braços tal como um pai carrega o filho. Se ao menos alguns deles tivessem começado um cântico de adoração - a mesma canção que foi entoada mais tarde do lado errado. Se ao menos o povo tivesse confiado no Senhor, bradando, "Ele é a minha força! Meu Deus triunfará. Quem é como Tu, ó Senhor?". Diga-me, o que teria acontecido?

Eles teriam estabelecido uma fé forte e duradoura em Deus – uma fé testada e provada pelo fogo da provação. A fé teria emergido tão inabalável que os faria suportar cada luta na jornada pelo deserto logo adiante. Eles teriam obtido um alicerce de fé sobre o qual iriam construir. E com o passar do tempo, teriam aprendido a louvar a Deus confiantemente em todas as circunstâncias, com uma fé tão forte que o inferno teria estremecido.

Mas Israel não cantou. Ao invés disso, eles se amuaram. Eles murmuraram e reclamaram. Eles acusaram Deus de negligente. E perderam toda confiança em Seu amor e interesse por eles.

Você pode perguntar, "Como se pode cantar o livramento quanto se está sofrendo tanto quanto Israel?"

Alguns leitores podem dizer, "Não é natural cantar nessas circunstâncias. Somos apenas humanos. Se estivéssemos no lugar de Israel, teríamos reagido da mesma forma. Teríamos chorado de medo. É completamente natural pensar na família, esposa e filhos, quando se enfrenta tamanha provação".

Que não se entenda mal: nosso Deus é um Pai terno e amoroso. Há tempo de chorar, tempo para dar vazão aos nossos medos. E agora mesmo muitos no corpo de Cristo estão oprimidos pelo medo do futuro, medo de como vão superar essa situação. Como pastor de uma igreja por mais de vinte anos, não encaro isso de modo leviano. Com freqüência tenho orado, "Senhor, estás pedindo que o Teu povo se alegre estando desempregados e perdendo suas casas? Eles estão em desespero por conta do sofrimento. Eles não têm vontade de cantar. O Senhor não poderia aliviar um pouco?".

Ao longo dos evangelhos vemos o Senhor repreendendo os discípulos por falta de fé, dizendo, "Onde está a sua fé?". É uma cena que já vimos vez após vez. No entanto, creio que o Senhor não estava repreendendo Moisés quando lhe disse, "Por que clamas a mim?". Ao contrário, Deus não aceitou passivamente os insultos do povo. Insinuaram que Ele permitiria que os filhos deles seriam devorados pelo inimigo. E Ele foi ofendido com as acusações deles.

"E as crianças que vocês disseram que seriam levadas como despojo, os seus filhos que ainda não distinguem entre o bem e o mal, eles entrarão na terra. Eu a darei a eles, e eles tomarão posse dela" (Deuteronômio 1:39).

Quando estamos feridos devemos de todas as formas clamar ao Senhor. Quando estamos angustiados com uma situação devemos orar, "Senhor, socorro!". Devemos levar a Ele todas as nossas dores e desapontamentos, pois Ele deseja nos ouvir. Então, depois de derramarmos nossos corações, Ele deseja que nos levantemos com fé, encaremos nossa luta e proclamemos, "Não posso fazer nada por mim mesmo. Deus é a minha força. Portanto, não temerei. Me aquietarei e verei a salvação do Senhor".

Israel entoou um cântico de vitória depois do livramento. No entanto, eles cantaram não com fé, mas com alívio. Era um cântico sem embasamento de confiança. Isso foi revelado três anos mais tarde, quando Israel voltou aos velhos caminhos de dúvida e medo diante da próxima provação.

Amado, temos um Pai terno e amoroso que é tocado pelo sentimento de nossas enfermidades. Até mesmo Jesus chorou em Seu momento de luta; Ele conhece a nossa dor por experiência própria. E enviou Seu Espírito Santo para nos confortar, afirmando esperança e paz à nossas almas.

O mundo requer de nós um cântico em meio à nossas horas mais difíceis

"Junto aos rios de Babilônia, ali nos assentamos e nos pusemos a chorar, recordando-nos de Sião. Nos salgueiros que há no meio dela penduramos as nossas harpas, pois ali aqueles que nos levaram cativos nos pediam canções; e os que nos atormentavam, que os alegrássemos, dizendo: Cantai-nos um dos cânticos de Sião. Mas como entoaremos o cântico do Senhor em terra estrangeira?" (Salmos 137:1-4).

Esse salmo está descrevendo o cativeiro de Israel pelos babilônicos. À essa altura o povo de Deus perdera tudo, incluindo sua terra natal. Agora os apreensores queriam ouvir os cânticos de vitória que os israelitas eram famosos por entoar. "Cantem para nós! Toquem para nós os seus cânticos tão conhecidos. Ouvimos falar dos grandes cânticos de vitória que vocês oferecem ao seu Deus. Cantem-os para nós".

Amado, o mundo ainda reivindica um cântico de vitória do povo de Deus. Isso soa como desafio para nós. O que eles realmente querem saber é o seguinte, "Como você vai reagir na crise de agora? Ouvimos que o seu Deus é fiel e todo-poderoso. E nesse momento você está numa situação terrível. Então, vai parar de cantar? Ou você confia no seu Deus numa hora dessas? Antes de chegar à essa situação, você cantava sobre a fidelidade dEle. Era mentira? Por que não agora? O teu Deus mudou? Aquilo era você cantando fábulas? Os seus cânticos de vitória eram simplesmente fantasia de criança? Ou será que a sua fé agüenta quando a dureza chega?".

Não acredito que essa reivindicação foi feita apenas por escárnio. Creio que os babilônicos queriam ouvir um testemunho. A sua própria religião os deixara vazios, áridos, sem esperança. Sabemos pela palavra de Deus que não há paz para os perversos. E o mundo quer a paz assim como nós.

A capa de uma revista estampou recentemente: "Nova York – Farra todas as noites!". De fato, toda noite de fim de semana em Times Square você mal consegue andar por causa da multidão de pessoas que vêm para festejar. No entanto, nas altas horas da noite, as 2 ou 3 da manhã, a lamúria começa. Gritos desesperados se levantam das ruas revelando a verdadeira angústia desses farristas. O som é perturbador e inconfundível: é a alma humana chorando o vazio e a falta de esperança.

Quando leio esse salmo, creio que os babilônicos estavam igualmente desesperados. Eles tinham ouvido falar do Deus de Israel, esse Deus que operava milagres, que se preocupava com Seu povo, que lhes era uma forte torre de segurança. Esses captores queriam tal testemunho verdadeiro para si mesmos. Quase ouço um apelo deles dizendo: "Por favor, cantem para nós os cânticos alegres que vocês cantavam em Sião. Mostrem-nos um Deus que tenha o poder de dar esperança nos dias negros. Se Ele é o Deus de vocês, por que estão chorando agora? Onde está a paz de vocês, a alegria? Onde está a força dEle em favor de vocês?".

Os babilônicos precisavam ver o povo de Deus cantando um cântico de vitória em meio à sua noite de maior desolação. Eles ansiavam ver um testemunho que traria paz ao coração não importa o que estivesse acontecendo. Imagino-os dizendo, "Vocês poderiam nos mostrar um milagre, mas isso não importaria. Não nos importamos em ver paralíticos andando, ou cegos tendo as vistas restauradas. Só queremos ver um povo cujo Deus seja fonte de paz quando tudo dá errado. Esse é o milagre que precisamos".

"Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em ti; porque ele confia em ti" (Isaías 26:3).

Amado, esse é o mesmo milagre, a maravilha sobrenatural, que o mundo quer ver nesse momento.

Os israelitas cativos eram um testemunho deplorável da fidelidade de Deus

Os israelitas que foram presos na Babilônia se recusavam a cantar. Evidentemente não tinham aprendido nada de suas experiências anteriores. Qualquer teste que houvessem encarado fôra em vão. Todos os avisos, profecias, e mensagens de esperança do Senhor foram desperdiçados com eles.

Então os babilônicos foram embora consternados. Eles devem ter dito entre eles, "Esses israelitas não são diferentes de nós. Eles supostamente deveriam ter um Deus poderoso, mas claramente Ele é incapaz de lhes dar alegria em tempos árduos. Que vantagem há em buscar um Deus assim? Simplesmente não há esperança na terra. Quando tempos difíceis os atingem, os israelitas caem em desespero da mesma forma que nós".

Amado, esse mundo não responde a grandes sermões. Os programas das igrejas não os afetarão. Depois de verem tantos "milagres da medicina" sendo desenvolvidos na vida até mesmo a cura tem impacto pequeno. Eles viram bypasses de coração, membros reimplantados novamente, transplantes de coração, olhos, fígado, pulmões, curas que de fato a sabedoria de Deus torna possível.

O que o mundo anseia é a visão de um cristão que esteja sendo testado profundamente – alguém que esteja com problemas, encurralado, sem saída – e no entanto, cante. Esse cristão se alegra, confiando no seu Deus. Ele não reclama da situação. Pelo contrário, ele canta as fidelidades do Senhor. Ele não confia nem no homem e nem em circunstâncias, mas em Deus.

Esse é o milagre que ganhará os perdidos: o milagre da paz genuína em tempos difíceis. Por quê? Os mundanos e perversos também estão em situação difícil, e querem esperança.

As nossas dúvidas devem receber um golpe de morte no lado da provação, caso contrário nos tornaremos murmuradores confirmados

Cânticos de vitória entoados depois da vitória não são cânticos de fé verdadeiros. Por quê? Porque as nossas dúvidas não receberam um golpe de morte com a experiência. Veja, quando experimentamos um livramento vitorioso, temos uma torrente temporária de ação de graças; ficamos naturalmente alegres pois nosso Deus agiu misericordiosamente em nosso favor apesar das nossas dúvidas. No entanto, o que acontece com nossas dúvidas depois? Elas são apenas submergidas ainda mais no fundo do coração.

Caro santo, o fato é que Deus lhe conduziu para a sua presente situação. Você está cercado de obstáculos por todos os lados - com algo semelhante a um inimigo chegando cada vez mais perto. E como Moisés você pode estar dizendo: "Senhor, tens me guiado fielmente toda a minha vida. Mas não entendo o que estou passando. O futuro parece tão sombrio".

Agora mesmo estamos vivendo um tempo de caos que o mundo jamais viu. E Satanás está usando o medo para atormentar multidões. Bem em meio a esse tempo, nosso Deus está chamando Seu povo, dizendo: "Como vocês vão encarar isso? Vocês vão crer em Minhas promessas apesar de tudo que lhes cerca? Vocês vão crer em Mim apesar dos seus mais profundos medos?".

Para fazer isso, temos que fixar nossas mentes no Senhor. "Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em ti; porque ele confia em ti." (Isaías 26:3). A nossa vontade tem de estar envolvida nisso. Não importa quão inacreditavelmente negra se torne nossa situação, algo dentro de nós deve se levantar com fé e dizer, "Não, Diabo. Não, mundo. Eu vou confiar Naquele que tem fielmente me livrado todas as vezes".

É quando a perfeita paz chega. É concedida pelo próprio Senhor, que se agrada de nossa confiança Nele. Então, enquanto o caos reina em toda a volta, as nossas vidas afirmarão a poderosa mensagem de Sua alegria. Ele nos deu um cântico para cantarmos ao mundo: "O Senhor é fiel. Ele livra o Seu povo!".

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