A Cura Definitiva

A ressurreição dos mortos é a “cura definitiva.” Tentei compartilhar esta verdade gloriosa com os sofridos pais de um menino de cinco anos que tinha morrido há poucas horas de leucemia. Eles tinham suplicado a Deus uma cura para seu amado filhinho. A igreja toda orou fervorosamente. Amigos profetizaram: “Ele não vai morrer; ele vai ser curado.” Uma semana antes do falecimento do garotinho, o pai com o coração partido pegou a criança febril nos braços e andou com ela pelo quarto. “Deus, eu não desisto. Tuas promessas são verdadeiras. Minha fé jamais vacilou. Mais do que dois ou três concordaram em Teu nome que ele vai ser curado. Eu confesso isso agora, e o reivindico.” Apesar de tudo, a criança morreu.

Eu estava lá quando a criança foi posta em um pequeno caixão. Choquei-me com todos os rostos tristes dos amigos cristãos que tinham se reunido em luto. Os pais estavam em estado de choque. Todo mundo estava com medo de pôr para fora o que estava pensando. Sei que as pessoas da igreja estavam pensando nisto, e o pastor agia como se estivesse pensando nisto. Sei que os pais certamente o estavam pensando. E qual era então o pensamento que não se podia pensar e que estava apertando a cabeça de todos? Simplesmente isto: “Deus não respondeu as orações! Alguém está fazendo alguma coisa de errado! Alguém bloqueou o poder curativo de Deus! Alguém é responsável pela morte desta criança. Um rancor, alguma coisa secreta, ou um pecado secreto. Alguém ou algo impediu a cura.”

A coisa estava assim quando esta verdade gloriosa começou a se formar em mim; então peguei os pais, os levei para um lado e sucintamente descarreguei meu coração. “Não questionem Deus”, disse. “Suas preces foram todas respondidas. Deus concedeu ao seu filho a cura definitiva. Aquele corpinho febril, enfermo foi abandonado, e Ricky está agora revestido do seu corpo perfeito e sem dor. Ricky foi curado! Deus fez infinitamente mais do que tudo que vocês poderiam Lhe pedir ou pensar. Seu filho está vivo e ótimo -- só mudou o seu corpo e o seu ambiente.”

Os pais me olharam zangados. Estavam amargurados e confusos, e saíram do cemitério para entrar num desolador período de cinco anos de dúvidas, perguntas, culpa e introspeção. Durante este período, eles mal falavam comigo. Mas Deus, em Sua misericórdia, sempre rompe os corações sinceros. Um dia, em oração, o Espírito Santo veio sobre aquela mãe pesarosa, lembrando-a de minha mensagem. Ela começou a louvar o Senhor, dizendo: “Ricky foi curado. Deus respondeu nossas orações. Senhor perdoe nossas dúvidas. Ricky neste instante está vivo e ótimo e desfrutando de sua cura.”

Foi precioso o momento em que nos reunimos, braços enlaçados, agradecendo a Deus por essa consolação. O pai de Ricky confessou: “David, ficamos tão bravos com você. Agora compreendemos. Ficamos tão centralizados em nós mesmo que não conseguíamos entender o que era o melhor para o nosso filho. Só ficamos pensando em nossa própria dor, nosso sofrimento, nossa tristeza. Mas agora o Senhor nos mostrou que Ricky não foi destruído pela morte, mas que Ele o levou para Si.”

Estes nossos corpos mortais são apenas meros invólucros, e a vida não está no invólucro. Esta casca não é para sempre, mas sim uma delimitação temporária que abriga uma força vital que cresce e amadurece. O corpo é uma casca que age como protetor transitório da vida existente no interior; seria um material sintético em comparação à vida eterna que cobre.

Todo verdadeiro cristão foi preenchido pela vida eterna. Foi plantada como semente em nossos corpos mortais e amadurece continuamente. Dentro de nós ocorre um contínuo processo de crescimento, de desenvolvimento - e finalmente ele deve romper esta casca para se tornar uma nova forma de vida. Esta gloriosa vida de Deus que há em nós exerce pressão sobre a casca, e no momento exato que a vida ressurrecta se amadurece, a casca se rompe. As limitações artificiais são rompidas, e como um pintainho, a alma é liberta da prisão. Louvado seja o Senhor!

A morte é uma mera ruptura do frágil invólucro. No exato momento que nosso Senhor decide que nosso invólucro cumpriu sua função, importa que o povo de Deus deixe que seus antigos e corruptos corpos voltem ao pó de onde vieram. Quem pensaria em pegar os pedacinhos da casca e forçar o pintainho recém nascido a voltar ao estado original? E quem pensaria em pedir ao ente amado que se foi, para que deixe de lado seu novo e glorioso corpo -- feito á imagem do próprio Cristo -- e retorne àquela casca decadente que rompeu para a liberdade?

Paulo disse isto! “O morrer é lucro!” (Filipenses 1:21). Este tipo de conversa é totalmente incompreensível em nosso vocabulário espiritual moderno. Nos tornamos tão fanáticos pela vida, que temos muito pouco desejo de partir para ficar com o Senhor.

Paulo disse: “De um e outro lado, estou constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor...” Contudo, em favor de edificar os convertidos, era-lhe melhor ‘ficar dentro da casca’. Ou, como disse, “permanecer na carne.”

Será que Paulo era mórbido? Será que tinha uma fixação patológica pela morte? Será que mostrava falta de respeito pela vida com a qual Deus lhe havia abençoado? Claro que não! Paulo vivia a vida ao máximo! Para ele, a vida era um dom, e ele a havia usado muito bem para combater um bom combate. Ele havia superado o medo do “aguilhão da morte” e agora podia dizer: “É melhor morrer e estar com o Senhor do que permanecer na carne.”

Os que morrem no Senhor são os vencedores; nós que permanecemos somos os perdedores. Como é trágico que o povo de Deus ainda veja os que partiram como “finados -- pobres coitados, cuja melhor parte da vida lhes foi tomada.” Ó! Mas se os nossos olhos e os nossos ouvidos espirituais fossem abertos só por uns instantes, veríamos os nossos queridos já no lado divino do universo, caminhando no rio puro e cristalino da vida eternal - tentando gritar para nós: “Consegui! Eu consegui! Finalmente estou livre! Agüentem firmes, amados da terra: não há nada a temer. O aguilhão da morte não funciona mais. É real: é melhor partir e estar com o Senhor.”

Alguém que você ama já rompeu esta carapaça? Você estava lá quando aconteceu? Ou a notícia lhe chegou por telefone ou telegrama? Que terrível sensação traspassou sua mente quando lhe disseram: “Ele morreu!” ou “Ela morreu!”?

Certamente é natural se lamentar e chorar pelos que morrem. Até a morte do justo é dolorosa para os que ficam. Mas como seguidores de Cristo, que tem as chaves da morte nas mãos, não ousamos pensar na morte como um acidente perpetrado pelo diabo. Satanás não destrói sequer um único filho de Deus. Satanás, apesar de lhe ser permitido tocar a carne de Jó e afligir o seu corpo, não podia tomar sua vida. Os filhos de Deus sempre morrem exatamente no horário dEle -- nem um segundo antes ou depois. Se os passos do homem bom são ordenados por Deus, ele ordena os passos finais também.

A morte não é a cura definitiva -- a ressurreição é! A morte é a passagem, e às vezes esta passagem pode ser dolorosa, até excruciante. Tenho visto muitos dos escolhidos de Deus morrer com dores terríveis. Mas Paulo responde bem a isto proclamando, “...tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós” (Romanos 8:18). Não importa o quanto de dor e da fetidez do sofrimento massacrem o corpo - nem vale a pena compará-las com a indescritível glória que aguarda o que suportam esta passagem.

Durante estes anos em que tenho observado a morte dos santos, noto algo em comum. Chamo isso de Tração Magnética. Estou convencido de que a morte chega ao cristão muito antes do último suspiro. Quando o Senhor liga a chave, uma tração magnética irreversível do Espírito de Deus começa a atrair o amado para Si. De alguma maneira, Deus permite que a pessoa que está sendo tracionada saiba que isto está acontecendo. Ele recebe um conhecimento íntimo de que está a caminho do lar. Ele já vê um pouquinho da glória celestial. Enquanto seus amados juntam-se ao redor dele pedindo que ressuscite, percebe-se que ele não quer mais ficar prisioneiro na carapaça. Apareceu uma fenda; ele espreitou através dela e teve um vislumbre da Nova Jerusalém, com todas suas alegrias eternas indescritíveis. Ele teve uma visão das glórias que o aguardam. Voltar seria o vazio.

Recentemente estive junto ao leito de uma piedosa mãe que morria de câncer. O quarto do hospital estava iluminado com santa presença de Deus. O esposo e os filhos cantavam hinos baixinho, e mesmo fraca, ela levantou o rosto para os céus e murmurou: “Sinto-O me puxando. É verdade -- Ele nos traciona para Si. Sinto igual a um ímã forte, e estou indo cada vez mais rápida, e agora não quero que ninguém me pare.” Em poucas horas, ela rompeu sua carapaça carnal adentrando o círculo íntimo de Deus. Naquela hora santa, ninguém ousou interferir com esse processo divino de transformação, em que o terrestre estava sendo tragado pelo celestial.

É tão triste ouvir cristãos condenando Deus por ‘levar seus entes queridos’. “Deus, simplesmente não é justo”, argumentam. Apesar de ser difícil condenar o que as pessoas dizem na hora da dor profunda, acredito que este questionamento pode ser egoísta. Só pensamos em nossa perda, e não no ganho deles. Deus só desliga deste mundo aqueles que Ele não consegue mais amar só à distância. O amor recíproco exige que estejam em Sua presença. É aí que o amor se torna perfeito. Estar com o Senhor é experimentar o Seu amor na plenitude.

Então você fica lá impotente enquanto seu ser amado entra por esta passagem chamada morte. Você sabe que é uma trajetória escura e solitária, e que só poderá segurar sua mão até este ponto. Chegou a hora de deixar que seu amado se vá, e permitir que Jesus o pegue pela mão. Ele não é mais seu - ele pertence a Jesus. Você se sente atado, mas não há nada que se possa fazer senão descansar no conhecimento de que o Senhor assumiu o comando, e o seu amado está em boas mãos. E aí, num segundo você o perde de vista. Acabou a luta. Só fica um invólucro roto. A alma liberta fugiu para a santa presença de Deus. A morte do justo é uma coisa preciosa. Davi, o salmista, escreve: “Preciosa é aos olhos do Senhor a morte dos seus santos” (Salmo 116:15). Deus vê a morte de um filho Seu como um momento de carinho. Mas nós humanos não vemos nenhum ou muito pouco carinho nesta experiência.

Uma jovem mãe me contou a dolorosa história do trauma que suportou após o falecimento de seus dois filhos. O primeiro morreu com 18 meses. O segundo só viveu dois meses. Ela pensava que Deus lhe havia dado o segundo filho para compensar pela perda do primeiro -- mas agora ambos tinham morrido. Ela e o esposo cristão passaram meses se auto analisando. Será que estavam com pecado na vida? Será que ficaram zangados com Deus duvidando de Seu poder para cura? Será que de alguma maneira foram responsáveis pelas mortes dos filhos? Então, um dia, um ‘amiga cristã muito boa’ veio e lhes trouxe o que ela declarava ser uma mensagem de Deus. Eles estavam, dizia ela, sendo punidos pelo Senhor devido à rancores escondidos, desonestidade no casamento. “As crianças ainda estariam vivas”, lhes disse, “se os seus corações tivessem sido limpos do pecado e sua confissão fosse real.”

Eles ficaram acabados de tanto desespero. Mas Deus, em Sua misericórdia, lhes mostrou o quanto estes pensamentos eram ridículos. Este tipo de ensino é uma tolice trágica. Deus não faz roleta russa com as vidas.

Devemos parar de orar pelos que estão morrendo? Devemos desistir na doença terminal? Será que devemos simplesmente nos deitar e morrer, se isso leva à cura definitiva? Nunca! Mais do que nunca em minha vida, creio na cura divina. Devemos orar para que todos sejam curados. E as únicas pessoas que não são curadas, segundo o nosso conceito de cura, são aquelas que foram escolhidos para a cura definitiva da parte de Deus. Alguns não recebem órgãos ou membros reabilitados; antes, recebem a cura perfeita: corpos gloriosos, sem dor e eternos. A nossa mente pode admitir a existência de algum milagre maior que a ressurreição dos mortos?

Todas as mensagens sobre morte nos incomodam. Tentamos até evitar pensar nisso. A gente acha que os que falam nela são mórbidos. Às vezes conversamos sobre como será o céu, mas na maior parte das vezes o assunto morte é tabu.

Como os cristãos primitivos eram diferentes. Paulo falava muito sobre a morte. Na verdade, no Novo Testamento a ressurreição dos mortos é considerada nossa Bendita Esperança. Mas hoje, a morte é considerada uma intrometida que nos arranca da boa vida com a qual estamos acostumados. Empanturramos nosso viver com tanta coisa material, que ficamos atolados na vida. Não conseguimos mais aceitar a idéia de deixar nossas belas casas, as coisas que gostamos, a namorada. Parece que pensamos assim: “Morrer agora seria uma perda muito grande. Amo a Deus -- mas preciso de tempo para desfrutar do meu imóvel. Ainda tenho de aproveitar o que consegui. Preciso de mais tempo.”

Você já percebeu que atualmente se fala muito pouco sobre o céu ou sobre partir deste mundo? Em lugar disso somos bombardeados com mensagens sobre como usar nossa fé para comprar mais coisas. “O próximo reavivamento”, disse um conhecido professor, “será um reavivamento financeiro. Deus vai derramar bênçãos financeiros sobre todos os crentes.”

Que conceito reduzido dos propósitos eternos de Deus! Não é de se admirar que tantos cristãos estejam com medo de pensar na morte. A verdade é que estamos longe de entender o chamamento de Cristo para largar o mundo e todas as suas tramas. Ele nos chama para irmos a Ele e morrer. Morrer sem construir memoriais para nós. Morrer sem nos preocupar sobre como seremos lembrados. Jesus não deixou autobiografia, ou prédios para sede, universidade ou instituto bíblico. Ele não deixou nada para perpetuar Sua memória a não ser o pão e o vinho.

Qual é a maior revelação da fé, e como deve ser exercida? Você a encontrará em Hebreus: “Todos estes morreram na fé...confessando que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra...Mas, agora, aspiram a uma pátria superior, isto é, celestial. Por isso, Deus não se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus, porquanto lhes preparou uma cidade.” (Hebreus 11:13-16).

Eis minha sincera oração para Deus:

Senhor, ajude a me libertar da escravidão das coisas. Não deixe que eu desperdice o dom da vida com meus próprios prazeres e objetivos egoístas. Ajude-me a ter todos as minhas paixões sob o Teu controle. Faça com que me lembre que sou um peregrino, não um elemento fixo aqui; que não sou um torcedor Teu, mas Teu seguidor. Acima de tudo, livra-me do cativeiro do medo da morte. Faça com que eu finalmente compreenda que morrer em Cristo é lucro. Ajude-me a aguardar em preciosa expectativa o meu momento de Cura Definitiva.

Revise as Escrituras: Apocalipse 1:18; Hebreus 2:14-15; 2 Timóteo 1:10

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