Fé Para o Sobrenatural
O evangelho de João diz, “Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João. Este veio para testemunho, para que testificasse da luz... Não era ele a luz; mas para que testificasse da luz. Ali estava a luz verdadeira, que alumia a todo o homem que vem ao mundo” (João 1: 6-9).
Jesus é a luz que está sendo descrita aqui. Vemos que Cristo é a luz do mundo, “para que todos cressem por ele” (1:7). Contudo, a seguir lemos, “E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam... Veio para o que era seu, e os seus não o receberam” (1:5, 11).
A incredulidade sempre fez sofrer o coração de Jesus. Quando o nosso Senhor veio à terra em carne, Ele trouxe uma luz incrível para o mundo. E esta luz tinha o objetivo de abrir os olhos dos homens; contudo, a despeito da tremenda demonstração de luz através de Jesus, as escrituras falam dos inacreditáveis exemplos de incredulidade diante da própria face desta luz.
João 12 contém um exemplo destes. Jesus estava em Betânia, ceiando na casa de Lázaro, Marta e Maria. Cristo já havia operado o milagre de ressuscitar Lázaro dos mortos. E agora as pessoas estavam curiosas para ver Jesus. Na ocasião, as multidões estavam passando pela cidade a caminho da festa da Páscoa em Jerusalém; eles queriam dar uma olhada no homem que estava sendo chamado de Messias, e no homem que Ele havia ressuscitado, Lázaro.
No mesmo capítulo, encontramos estas mesmas pessoas agitando palmas de palmeiras e cantando hosanas para Jesus quando Ele entra em Jerusalém em cima de um jumento. Elas estavam vendo o cumprimento de uma profecia da qual haviam ouvido por toda a vida, “Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém; eis que o teu rei virá a ti, justo e Salvador, pobre, e montado sobre um jumento, sobre um asninho, filho de jumenta” (Zacarias 9:9).
Finalmente, no mesmo capítulo, lemos que uma voz veio trovejando dos céus, quando o Pai glorifica o Seu próprio nome. Jesus vira-se para a multidão espantada e diz, “Não veio esta voz por amor de mim, mas por amor de vós” (João 12:30).
Talvez nenhum outro capítulo da Bíblia contenha tantas provas da divindade de Jesus como vemos aqui em João 12. Vemos um homem que havia sido levantado dos mortos por ordem de Jesus. Temos o cumprimento visual de uma centenária profecia conhecida de todo israelita. E ouvimos uma voz literal falando do céu.
Cada uma destas coisas aconteceu diante de um aglomerado enorme de pessoas religiosas. Deus havia dado a estas pessoas a Sua lei, a Sua aliança e Suas promessas. No entanto, mesmo após testemunhar estas maravilhas, as pessoas tiveram a audácia de questionar Jesus. “Respondeu-lhe a multidão: Nós temos ouvido da lei, que o Cristo permanece para sempre; e como dizes tu que convém que o Filho do homem seja levantado?” (12:34). Elas estavam dizendo, “Tu afirmas que vais ser crucificado. Mas nós sabemos que o verdadeiro Messias viverá para sempre”.
Aí as pessoas fazem uma pergunta que deixa Jesus totalmente aturdido: “Quem é esse Filho do homem?” (12: 34). Cristo deve ter ficado incrédulo diante da cegueira delas. De fato, Ele nem mesmo tentou responder a pergunta. Em vez disso, Ele alerta, “Andai enquanto tendes luz, para que as trevas vos não apanhem... Enquanto tendes luz, crede na luz” (12: 35-36).
Temos de considerar a seriedade da declaração de Jesus aqui. Ele já havia revelado a estas pessoas o Seu forte braço; Ele tinha operado milagres diante delas; Ele havia lhes dado a “boa nova” profetizada pelos atalaias desde Zacarias até Isaías. Mesmo assim elas não creram Nele.
A luz havia brilhado nas trevas destas pessoas. Mas suas mentes obscurecidas não a compreenderam (v. 1:12). A palavra em grego para “compreender” significa “apreender, tomar posse, apoderar-se da verdade produtora de vida e poder”. A estas pessoas havia sido dada uma verdade transformadora de vida - mas elas não a apreenderam, nem se apossaram dela. Elas não entenderam a verdade de Cristo, porque não buscavam possuí-la.
“Estas coisas disse Jesus; e, retirando-se, escondeu-se deles” 12:36). Nesse verso, encontramos a atitude de Deus em relação à incredulidade. Na verdade, de capa a capa na Bíblia, Deus nunca tem simpatia ou pena da incredulidade; e o mesmo é real nesta cena. Jesus simplesmente se afastou das multidões de incrédulos. Como resultado, tais pessoas deixariam Jerusalém em trevas, porque não andaram na luz que lhes fora dada; não haveria mais esperança de luz para elas, devido à sua incredulidade.
“Andai enquanto tendes luz, para que as trevas vos não apanhem” (12:35). Trevas aqui quer dizer “cegueira espiritual, perplexidade, perda de claridade, obscuridade”. Dia após dia, uma nuvem de incerteza se fixaria sobre aquelas pessoas. Um obscurecimento influenciaria seus afazeres do dia a dia.
Com o tempo, isso iria envolvê-las. O fim seria um coração de escuridão.
Na hora fiquei estarrecido. Me perguntei, “Trevas em pessoas que amam Jesus? Que oram e estudam a palavra? Como seria possível trevas chegarem ao povo de Deus?”.
Prontamente admiti que pessoalmente tenho sido inundado pela luz de Jesus. Em meus cinquenta anos de ministério tenho testemunhado o poder do Senhor para ressuscitar os mortos espirituais. Vi muitos Lázaros saírem dos túmulos do vício das drogas, e do alcoolismo. O meu livro “A cruz e o punhal” trata deste milagroso poder de Deus. Por uma vida inteira tenho assistido mortos vivos voltarem à vida através do poder de ressurreição divino.
Tenho visto muitos outros raios de luz – desde os nomes de Deus que concedem vida, prosseguindo pelas Suas promessas da Nova Aliança, e indo até ao cumprimento das Suas profecias. Em certo sentido, assisti tudo que João 12 descreve, e muito mais. Em verdade, Deus tem revelado ao Seu povo hoje o que os olhos daqueles judeus não podiam ver. Sabemos não só pelas escrituras, mas por experiência, que Deus preparou grandes coisas para os que O amam. Foi-nos dado o Novo Testamento para nos instruir quanto a isso. E nos foi dado o Espírito Santo para nos ensinar. Igualmente, temos “melhores promessas”, para que possamos nos tornar coparticipantes da Sua natureza divina.
Também nos foram dados mestres, pastores e profetas ungidos, para inundar os nossos corações e mentes com a luz. Eles nos imergem na verdade, nos preenchem com gloriosas promessas, e nos recordam da fidelidade de Deus em livrar vez após vez.
Eu pergunto, com todas estas bênçãos maravilhosas, como seria possível haver nuvens de trevas sobre nós?
Geralmente, quando falamos em trevas espirituais, pensamos em ateus; ou, pensamos em pecadores exauridos, fartos de pecados, tateando com as mãos pelos caminhos, sofrendo, e vazios. É verdade, o pecado é “a terra da escuridão”. E o Diabo é o príncipe desta escuridão. O apóstolo Paulo fala das “obras infrutuosas das trevas”.
Mas este não é o tipo de trevas que Jesus descreve aqui em João 12. Não, aqui estas trevas são uma nuvem de embotamento, de cegueira espiritual, indecisão, um obscurecimento do espírito e da mente – e que vêm sobre os crentes. Note que Jesus não dirige este alerta aos incrédulos ou apóstatas; Ele diz isso aos irmãos santos. Ele está falando de um estado de obscurecimento que vem sobre os cristãos que se recusam a mesclar a palavra que ouvem, com fé. Eles negligenciam o entender, o abraçar e o andar na luz que receberam. E um dia, eles acordam e se conscientizam que “Deus não fala mais comigo”.
Imagino quantos leitores nesse momento estão lendo esta mensagem, imersos numa nuvem de obscurecimento. Isso descreve você? Talvez as suas preces não têm sido respondidas. Você está sempre abatido. Você enfrenta coisas na vida que não consegue explicar. Você está desapontado com as suas circunstâncias, e com as pessoas. Você continuamente duvida de si mesmo, fica atormentado com perguntas, e constantemente examina o coração para ver onde errou. Você sente tristeza, desespero, indefinição, e não consegue arrancar isso de si.
Você pode ser um crente maduro. Por anos recebeu pregação do puro evangelho. Mas agora você duvida de si, e se sente aquém. Você não sente a alegria do Senhor como antes; e então agora se pergunta se o Senhor tem alguma contenda consigo.
Estas são as trevas sobre as quais Jesus alertou que poderiam vir sobre nós, se não agarramos a luz que temos recebido, e não caminhamos nela. Quero lhe perguntar: você confia nas promessas Dele? Você abraça a Sua preciosa palavra? Você parte em ofensiva contra Satanás com a palavra que tem ouvido ser pregada? Ou ignora a fidelidade do Senhor para com você no passado? Você não confia que Ele está com você, no controle de tudo que se refere à sua vida? Se for assim, você se abriu para as trevas.
Jesus descreve a pessoa que vive na escuridão dizendo, “Quem anda nas trevas não sabe para onde vai” (João 12:35). Em outras palavras, “Uma pessoa assim não tem rumo. Seus passos são confusos, ela é indecisa, caminha cega”.
O profeta Isaías descreve exatamente tais pessoas. Os israelitas haviam enaltecido a lei de Deus e a tornaram honrosa. Mas não se apropriaram do que conheciam dela. Deus diz o seguinte sobre eles:
“’Ouçam, surdos; olhem, cegos, e vejam! Quem é cego senão o meu servo, e surdo senão o mensageiro que enviei? Quem é cego como aquele que é consagrado a mim, cego como o servo do Senhor? Você viu muitas coisas, mas não deu nenhuma atenção; seus ouvidos estão abertos, mas você não ouve nada’.
Foi do agrado do Senhor, por amor de sua retidão, tornar grande e gloriosa a sua lei. Mas este é um povo saqueado e roubado; foi apanhado em cavernas e escondido em prisões. Tornou-se presa, sem ninguém para resgatá-lo; tornou-se despojo, sem que ninguém o reclamasse, dizendo: ‘Devolvam’. Qual de vocês escutará isso ou prestará muita atenção no tempo vindouro?” (Isaías 42: 18-23).
Quem entregou este povo a tais trevas? Isaías nos diz no verso seguinte: “Não foi o Senhor, contra quem temos pecado...?” (42: 24).
Qual pecado este povo cometeu, para serem entregues a estas trevas? Foi a sua incredulidade, pura e simples. Isaías diz que eles não queriam andar à luz da palavra que ouviram. “Pois eles não quiseram seguir os seus (de Deus) caminhos; não obedeceram à sua lei. De modo que ele lançou sobre eles o seu furor, a violência da guerra. Ele os envolveu em chamas, contudo nada aprenderam” (43: 24-25).
Sei como é entrar numa destas nuvens de trevas. As coisas ficam confusas. Não se consegue ouvir uma palavra clara de Deus. A gente quer uma resposta rápida, e clamamos a Deus, “Oh, Senhor, não consigo Te ver ou ouvir como antes”. A gente acaba pedindo que Ele seja mais compreensivo, e tenha mais pena de nossa situação.
Mas a verdade é que o Senhor não tem pena da incredulidade franca. Ele é ofendido por ela. Ele espera que andemos na luz que recebemos. Precisamos confiar na Sua palavra, e nos apropriar de Suas promessas. Só ao nos voltarmos para o conhecimento da Sua palavra, e ao convencimento vindo do Espírito Santo é que saímos destas trevas.
Você conhece cristãos que sempre reclamam de quão tolos ou incapazes se acham? Eles constantemente se diminuem, e se rebaixam; se comparam às pessoas que admiram, dizendo “Perto delas não sou nada. Pra mim não dá”.
Você pode se lembrar da história do Velho Testamento sobre os espias israelitas enviados para espionar a Terra Prometida. Eles retornaram dizendo, “Sim, é uma terra de onde mana leite e mel. Mas também é cheia de gigantes e cidades muradas. Não vamos conseguir vencê-los. Comparados a eles, somos como gafanhotos” (v. Números 13).
Ora, estes homens não acusaram Deus; eles nunca disseram, “Deus não é capaz. Ele não tem força suficiente”. Eles não ousaram verbalizar tamanha incredulidade; pelo contrário, se concentraram em si próprios, dizendo, “Nós não somos capazes. Somos como insetos aos olhos do inimigo”.
Mas isso não é humildade. E não é conversa inocente e inofensiva; antes, é uma afronta Àquele que é a luz do mundo. Essa luz ordena que creiamos. “Tudo posso em Cristo que me fortalece” (Filipenses 4:13).
Veja, quando você reclama da sua incapacidade e fraqueza, você não está se rebaixando. Você está rebaixando o seu Senhor. Como? Você está se recusando a crer, ou a andar em Sua palavra. Isso é pecado diante da luz. E traz as trevas.
Os espiões israelitas ficaram tão concentrados em sua incapacidade, que se aprontaram para desistir. Até falaram de voltar para o Egito. Qual foi a reação de Deus diante dos seus medos e incredulidade? “E disse o Senhor a Moisés: Até quando me provocará este povo? e até quando me não crerão por todos os sinais que fiz no meio deles?” (Números 14: 11). Deus os acusa de um pecado: incredulidade.
Hoje o Senhor está fazendo ao Seu povo a mesma pergunta que fez a Israel: “Quando vocês vão acreditar no que lhes prometi? Eu disse que a Minha força iria a vocês nas suas horas de fraqueza. Vocês não devem depender da força da carne. Eu lhes disse que usaria os fracos, os pobres, os desprezíveis deste mundo para confundir os sábios. Eu sou Jeová, poder eterno. E vos farei fortes através do Meu poderoso Espírito. Então, quando vocês vão agir em cima disso? Quando irão confiar quando Eu vos falar?”.
Achamos que quando fracassamos em confiar em Deus nas situações do dia a dia, apenas prejudicamos a nós mesmos; achamos que apenas estamos perdendo bênçãos. Mas essa não é toda a história. Primeiro de tudo, nós machucamos e encolerizamos o nosso bendito Senhor. E Ele avisa, “Se você não confiar em Mim, irá desenvolver um coração endurecido”.
Lemos em Hebreus, “Não endureçais os vossos corações, como na provocação, no dia da tentação no deserto. Onde vossos pais me tentaram, me provaram e viram por quarenta anos as minhas obras. Por isso me indignei contra esta geração, e disse: Estes sempre erram em seu coração, e não conheceram os meus caminhos. Assim jurei na minha ira que não entrarão no meu repouso” (Hebreus 3:8-11).
Que motivo é dado pelo qual o povo de Deus se tornou incapaz de entrar no Seu repouso? Teria sido devido ao adultério, à cobiça, às bebedeiras? Não, foi por causa unicamente da incredulidade. Era uma nação exposta a quarenta anos de milagres, maravilhas sobrenaturais que Deus operou a favor deles. Nenhum outro povo na terra havia sido tão amado, e cuidado com tanto carinho. Eles recebiam revelação após revelação a respeito da bondade e da severidade do Senhor. Ouviam uma nova palavra sendo pregada regularmente por Moisés, seu líder profeta.
Mas eles nunca mesclaram esta palavra à fé. Logo, ouvi-la não lhes serviu de nada. Em meio a todas aquelas bênçãos, eles ainda não criam que Deus era fiel. E com o tempo, a incredulidade se instalou. A partir deste ponto, as trevas cobriram a jornada deles pelo deserto.
Amado, a incredulidade é a causa por trás de toda dureza de coração. Hebreus pergunta, “Com quem (Deus) se indignou por quarenta anos? Não foi porventura com os que pecaram, cujos corpos caíram no deserto?” (3:17). A palavra “indignou” em grego aqui significa “sentiu-se ultrajado, se enraiveceu”. Simplificando, a incredulidade do povo acendeu a ira de Deus contra eles. E mais, ela os endureceu, levando-os a uma contínua espiral de descrença: “Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar do Deus vivo... para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado” (3:12-13).
A incredulidade é a mãe de todos os pecados. Foi o primeiro pecado cometido no jardim do Éden. E está na raiz de toda amargura, rebeldia e frieza. É por isso que Hebreus 3 é endereçado aos crentes (“Vede, irmãos”). O escritor conclui com estas palavras deprimentes “E a quem jurou que não entrariam no seu repouso, senão aos que foram desobedientes? E vemos que não puderam entrar por causa da sua incredulidade” (3: 18-19).
Deus diz a Israel, “Vocês não Me creram quando lhe disse que não tinham nada a temer, que Eu lutaria por vocês. Vocês se esqueceram completamente que Eu os criei como a crianças, e os cuidei. Vocês nunca confiaram em Mim, apesar de Eu ter ido à frente de vocês, de lhes ter dado uma nuvem para os proteger do sol abrasante, lhes ter dado fogo à noite para iluminar o caminho, e lhes dar conforto na escuridão da noite. Pelo contrário, vocês declararam e verbalizaram as suas dúvidas, Me caluniaram, fizeram como se Eu fosse um mentiroso” (v. Deuteronômio 1:27-35). João repete esta última frase no Novo Testamento, declarando, “Quem a Deus não crê mentiroso o fez” (I João 5:10).
O Senhor diz ao Seu povo, “Ouvi vocês conversando. Vocês têm comentado o quão incompetentes são, o quão abandonados se sentem, o quão insignificantes são as suas vidas. Quero lhes dizer que isso Me deixa irado. Na verdade, isso Me deixa tão irado que não lhes deixarei avançar até o Meu repouso. Estou prestes a lhes entregar à uma vida inteira vagando pelo deserto”.
Você pode ser uma pessoa salva, cheia do Espírito, andando santo diante de Deus, e ainda ser culpado de incredulidade. Você pode pensar, “Não tenho incredulidade não”. Mas você se aborrece quando as coisas vão mal? Tem medo de falhar com Deus? Você fica inquieto, temeroso do futuro?
O crente que tem fé incondicional na promessa de Deus desfruta de completo repouso. O quê caracteriza este repouso? Uma confiança plena e completa na palavra de Deus, e uma total dependência da fidelidade Dele a esta palavra. Na verdade, repouso é prova de fé.
Pode-se perguntar: como o coração de um crente fica endurecido na incredulidade? Vemos uma ilustração chocante em Marcos 6. Os discípulos estavam em um barco se dirigindo para Betsaída, navegando na escuridão. De repente, Jesus apareceu, caminhando sobre a água. Os doze acharam que fosse um fantasma e tremeram de medo. Mas Cristo lhes assegurou, “Tende bom ânimo; sou eu, não temais” (Marcos 6:50). E então Ele entrou no barco, e o vento cessou.
O versículo seguinte conta tudo em relação ao coração dos discípulos naquele momento: “Entre si ficaram muito assombrados e maravilhados; Pois não tinham compreendido o milagre dos pães; antes, o seu coração estava endurecido” (6:51-52). (O sentido em grego de endurecido aqui indica “pétreo, cego, descrente obstinado”). Estamos sendo lembrados que estes homens tinham acabado de experimentar um milagre incrível. Tinham visto Jesus alimentando cinco mil pessoas só com cinco pães e dois peixes (com doze cestos deixados sobrando). E Ele tinha usado os doze para fazerem isso. Quando Marcos diz que os discípulos “não tinham compreendido” este milagre, ele quer dizer, “Eles não conseguiram absorver a ideia do acontecido”.
Será que isso aconteceu porque não tiveram o “culto da noite” para refletirem sobre o milagre que tinham acabado de ver? Por que não há registro dos discípulos caindo ajoelhados diante do Mestre, e adorando-O como Deus? Por que não se registra admiração, tremor, temor piedoso? Evidentemente, eles saíram de lá, entraram no barco e começaram a remar. Então, pouco após terem testemunhado este incrível milagre, se surpreenderam que o vento tivesse sido acalmado por ordem de Jesus.
Quero lhe dizer o seguinte: o endurecimento chega quando se tira o “sobre” do sobrenatural. Estes homens não tinham fé para crer no que tinham acabado de ver Jesus fazendo. Em vinte quatro horas eles passaram a descartar o milagre de Jesus alimentando as massas, passando a considerar isso um acontecimento natural. Eles ainda tinham dúvidas em relação ao poder sobrenatural de Cristo.
Em Marcos 8, Jesus mais uma vez alimentou uma multidão – desta vez 4.000 pessoas – com apenas sete pães e uns poucos peixes. Novamente, os discípulos levaram vários cestos cheios de pães que sobraram (v. Marcos 8: 5-8). Ainda assim Cristo discerniu que os discípulos ainda não aceitavam o poder operador de milagres Dele. Então lhes pergunta, “Tendes ainda o vosso coração endurecido?” (8:17).
Creio que havia ainda outra questão no centro da incredulidade dos discípulos. Ou seja, estes homens simplesmente não conseguiam crer que o próprio Deus escolheria passar este tempo com eles; e mais, Ele os estava usando para fazer brilhar o Seu divino poder.
Vejo os discípulos após essa segunda multiplicação dos pães sentados emudecidos. Devem ter pensado, “Isso não pode estar acontecendo. Se Jesus realmente é Deus, por que nos escolheria para compartilharmos deste poder incrível? Por que iria comer e dormir conosco? Somos apenas pescadores, não temos estudo, nao temos capacidade. Por que Ele andaria sobre as águas entrando em nosso barco, em vez de revelar este milagre a um grupo mais seleto?”.
Você provavelmente já se perguntou a mesma coisa às vezes, quanto a si próprio: “Há bilhões de pessoas na terra. Por que Deus falou comigo? Por que me escolheu?”. Eu lhe digo porque: foi um milagre absoluto. A sua conversão foi algo totalmente sobrenatural. Não foi apenas um daqueles acontecimentos inexplicáveis que ocorrem. Não, nada do que aconteceu em relação a isso foi natural.
Porque? Porque não há nada natural em relação à vida cristã. É tudo sobrenatural. É uma vida dependente de milagres desde o começo (incluindo a sua conversão). E ela simplesmente não pode ser vivida sem fé no sobrenatural.
Pense nisso: os anjos que acampam ao seu redor são seres sobrenaturais. O poder que o mantém em Cristo é totalmente sobrenatural. O mundo vive em trevas, mas você tem a luz. Por que? É tudo porque você vive no domínio do sobrenatural. Não há nada de natural em você ser templo do Espírito Santo. Nada é natural em ser habitação do sobrenatural Deus do universo.
Contudo é aí que frequentemente ocorre endurecimento. As pessoas começam a atribuir as operações sobrenaturais de Deus em suas vidas, ao natural. Não, nunca! É perigoso esquecer os milagres Dele. É assustador rever as maravilhas divinas e dizer, “Simplesmente aconteceu por acaso”. Toda vez que você tira o sobre do sobrenatural, o seu coração endurece um pouco mais.
Prezado santo, você simplesmente tem de aceitar isso pela fé: o mesmo Deus sobrenatural que alimentou milhares de pessoas com apenas uns poucos pães, irá operar de modo sobrenatural também nas suas crises. O poder operador de milagres Dele lhe livrará de toda escravidão. Lhe fortalecerá para andar em liberdade. E irá usar a sua fraqueza – na verdade, a sua fraqueza mais crítica – para mostrar ao mundo os milagres do poder guardador que Ele tem.
É onde a nossa fé entra. Está garantido que dificuldades sobrevirão a todos os que seguem Jesus. Porém quando este tempo chegar – quando estivermos cercados pelas tentações ou pelo desepero, e é preciso um milagre – devemos dizer com confiança, “Faça de novo, Senhor. Tu já operaste milagres na minha vida. Tu livraste os Teus servos de modo sobrenatural ao longo da história. Faça de novo, e seja glorificado. Que o Teu poder se aperfeiçoe na minha fraqueza”.