Migalhas Que Caem do Céu
Ultimamente não tenho conseguido tirar da mente uma imagem. É a de um banco celestial, onde o povo de Deus faz transações. Este banco está sempre aberto para fazermos depósitos, passando ao caixa todos os nossos pecados, ansiedades, preocupações e cuidados. Claro, a caixa forte de onde os depósitos são tomados é a sala do trono da graça de Deus.
Também podemos fazer retiradas deste banco celestial. Como caixa está o Espírito Santo, pronto a conceder todo e qualquer recurso do céu. Quando chegamos a esta janelinha do caixa, temos a capacidade de retirar reservas sem fim da graça, de poder de Deus, fé e esperança.
Quando vejo este banco, entendo que muitos de nós na igreja fazemos vários depósitos, mas não chegamos nem perto quanto ao número de retiradas. Pelo contrário, quando chegamos à janelinha pedimos uma ninharia. “Senhor, não quero Te incomodar”, gaguejamos, “Só preciso um pouquinho de graça para eu superar este problema. Se Tu apenas me deres uma força, o resto eu resolvo”.
Tenho uma novidade para você: Deus não quer que “resolvamos o resto”. Ele quer que lancemos tudo sobre Ele: todas as nossas ansiedades, lutas, pecados e dores. E quer que saquemos dos recursos infinitos que estão guardados para nós em Seu cofre. Ele quer que digamos, “Senhor, parei de pedir dez reais de fé para eu enfrentar um problema. Eu preciso de Sua graça na faixa dos milhares. E quero isso não só para resolver o meu problema, mas para ver Tua glória estabelecida na terra. Daqui para frente, toda vez que eu chegar nesta caixa, pedirei um derramamento maior do Teu Espírito. Preciso mais da Tua vida, do Teu sopro, do Teu mover em mim!”.
Quando se trata dos recursos dos céus, Zacarias faz uma declaração de poder, ainda que misteriosa
“Naquele dia, o Senhor protegerá os habitantes de Jerusalém; e o mais fraco dentre eles, naquele dia, será como Davi, e a casa de Davi será como Deus, como o Anjo do Senhor diante deles” (Zacarias 12:8).
Zacarias estava enxergando a história até os nossos dias. Devido à obra de Cristo por nós, mesmo o cristão mais fraco será tão forte quanto Davi, o maior rei de Israel. E o crente mais forte “será como Deus”, como Cristo. Tudo isso soa estranho. Contudo nesta profecia, Deus nos dá uma imagem dos recursos que Ele tornou possível à Sua igreja. As reservas do banco do céu são para serem derramadas sobre nós para a grande glória de Deus, especialmente em nossas provações.
Boa parte da igreja ainda tem de absorver isso. Quando alguns cristãos chegam à janelinha do caixa, ficam mudos. O Espírito Santo pergunta, “Pois não. Precisa de alguma coisa?”, mas não sabem pedir as riquezas disponíveis a eles. Pelo contrário, respondem, “Senhor, dê apenas o que Tu queres. Não tenho nenhuma ambição, mas és soberano. Faça como Tu queres”.
Isso pode soar humilde, e mesmo piedoso, mas as escrituras sugerem que tal atitude na verdade frustra o Espírito Santo. A resposta Dele é, “O que você quer dizer com ‘não há nada em seu coração’? Você não está vendo o inimigo devastando a vida das pessoas que você ama? Você não está vendo os seus amados no temor e na escravidão - e que seriam libertos se apenas conhecessem o Meu poder de libertação? Olhe ao redor. Há reinos a conquistar, inimigos para derrubar, demônios a expulsar!”.
Paulo diz para procurarmos “com zelo, os dons espirituais”. Isso quer dizer que quando chegamos ao caixa, o nosso pedido deveria ser, “Senhor, tenho o dom da fé. Tu também poderias me dar o dom do evangelismo, para eu trazer outros à fé?”. Ou, “Senhor, me destes o dom da profecia. Por favor, dê-me uma palavra hoje para a minha irmã que está sofrendo grande dor e não tem esperanças”.
Uma das maiores lições que meu pai, David Wilkerson, me ensinou foi, “Você pode ter de Jesus o tanto que tu quiseres”. A minha mensagem é dizer a você: vá ao caixa e peça extravagantemente! Tenha vontade de ir empurrando quem esteja na frente se eles não estiverem pedindo nada. E quando você finalmente chegar à janelinha, volte-se para os que estão atrás e diga, “Melhor vocês se acomodarem por aí. Jesus e eu vamos ter uma longa conversa sobre as minhas finanças e no que vou gastá-las: com crianças abandonadas, com o meu casamento que está afundando, com o meu irmão e a minha irmã que estão tendo necessidades. Eu preciso ter a riqueza de Deus para ser um condutor da Sua presença transformadora nesse mundo!”.
Os evangelhos deixam claro que a medida de fé que recebemos depende de nós
“Três dias depois, houve um casamento em Caná da Galiléia, achando-se ali a mãe de Jesus. Jesus também foi convidado, com os seus discípulos, para o casamento. Tendo acabado o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Eles não têm mais vinho” (João 2: 1-3).
Alguma vez algo seu acabou? Talvez paciência com filhos rebeldes? Esperança para seu casamento? Nessa cerimônia em Caná, a mãe de Jesus, Maria, viu que o vinho da comemoração havia acabado. Então foi até Jesus e disse basicamente: “Faça alguma coisa”.
A resposta de Jesus soa um pouco estranha: “Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora” (2:4). Maria poderia ter aceitado a resposta do filho como decreto definitivo: “Bem, foi declarado soberanamente do céu que o vinho não será multiplicado nesse casamento”. Pelo contrário, ela agiu como qualquer boa mãe judia - ou como qualquer outro tipo de mãe, nesse caso – e ignorou a resposta do filho. Maria reagiu dizendo a Jesus para ir em frente: “Ela falou aos serventes: Fazei tudo o que ele vos disser” (2: 5).
Teologicamente, vibro com a soberania de Deus. Creio que nada acontece a menos que Ele o decrete. Mas às vezes o decreto da soberania de Deus é, “Deixo isso contigo. Seja então de acordo com a tua vontade, com os teus atos, com a tua fé”. A impressão clara desta passagem é que Jesus não iria atuar segundo o pedido de Maria. Ele até tinha uma forte razão teológica para isso: “Ainda não é chegada a minha hora”, significando, Deus ainda não havia anunciado o Seu ministério público.
Mas Maria não podia esperar o calendário do céu. Ela precisava que Deus se movesse agora – e então o calendário se moveu! “Jesus lhes disse: Enchei d´água as talhas”. Quando as jarras estavam cheias, lhes disse, “Tirai agora e levai ao mestre-sala... Tendo o mestre-sala provado a água transformada em vinho (não sabendo de onde viera...)... chamou o noivo e lhe disse: Todos costumam pôr primeiro o bom vinho e, quando já beberam fartamente, servem o inferior; tu, porém, guardaste o bom vinho até agora” (2: 7-10). Este não era um vinho só “substituto”. Era o melhor!
Um milagre ocorreu, superando as expectativas até mesmo de Maria. Mas as coisas poderiam ter sido muito diferentes. Ela poderia ter se desencorajado pela resposta de Jesus. Ela poderia ter aceitado a palavra Dele do jeito que esta veio, concordando: “Acho que não é a hora certa”. Pelo contrário, ela fez uma retirada de fé do banco celestial quando não havia sequer ainda feito depósito. Ela pediu a Deus algo que nem deveria pedir!
O que Maria fez aqui ocorre vez após outra nas Escrituras
No Velho Testamento, Davi nunca deveria entrar no santo dos santos do templo. Mas ele fez isso, e a sua experiência resultou em um salmo poderoso que o povo de Deus recita até hoje: “Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará” (Salmo 91:1).
Apesar de Davi ter ido onde não deveria ter ido, isso o levou a refletir sobre a tremenda revelação da presença de Deus na terra. E as palavras de Davi falam profeticamente da Nova Aliança a ser estabelecida através de Cristo. Em verdade, ele foi o primeiro a descrever a ideia de se ter intimidade com Deus antes de haver qualquer possibilidade de se ter intimidade com Deus.
O meu ponto é o seguinte: muitos santos na Bíblia e ao longo da história contornaram suas situações difíceis através de uma fé enorme, avançando o calendário de Deus por meio de apaixonados clamores a Ele. Não, eles não estalaram os dedos e Deus deu um pulo em obediência para proporcionar um milagre. Não, algo no clamor de seus corações, algo em seu quebrantamento, em sua fé, em seu zelo pelo reino – tocou o coração Dele e O moveu para agir em favor deles.
Uma destas pessoas era uma mulher não israelita que buscou Jesus para curar a filha afligida. “Certa mulher Cananéia... clamou: Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de mim! Minha filha está horrivelmente endemoninhada” (Mateus 15:22). Esta mulher havia se aproximado da janelinha do caixa trazendo uma enorme necessidade, a sua filha atormentada por um espírito demoníaco. Mas Jesus não se agitou para agir: “Jesus não lhe respondeu palavra. De modo que os seus discípulos, aproximando-se dele, lhe rogaram: Despede-a, pois vem gritando atrás de nós” (15: 23).
Mas a mulher ficou e continuou incomodando, insistindo e pedindo, se recusando a ir embora. Se você está familiarizado com as escrituras, sabe que Jesus contou várias parábolas aplaudindo este tipo de persistência: “Continue a bater. Continue buscando. Continue pedindo. Deus recompensará a tua fé”.
Mas mais uma vez, Cristo tinha uma boa razão para recusar o pedido: “Respondeu ele: Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel” (15:24). Ele estava dizendo a ela: “A programação de Deus para Mim envolve apenas a nação de Israel. Só depois que o Seu povo tiver ouvido a Minha mensagem, Ele liberará o evangelho para os gentios”.
Teria sido mais fácil para esta mulher desistir. Mas ela continuou persistindo, e finalmente Jesus lhe disse, “Não é bom pegar o pão dos filhos e lançá-los aos cachorrinhos” (15:26), referindo-se à prioridade de Israel sobre os gentios. Acho a resposta dela sensacional: “Sim, Senhor, mas até os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos” (15:27). Ela estava dizendo, “Jesus, se estamos falando do poder dos céus, então mesmo uma migalha é suficiente”.
Ela estava certa. As migalhas que caem da mesa de Deus são suficientes para cuidar de qualquer necessidade sobre a terra. E ela tinha a fé de que até a menor quantidade iria livrar a filha completamente. Amigo, essa é a verdadeira fé! Esta mulher não foi ao caixa timidamente. Ela foi firme crendo na bondade de Deus, sabendo que mesmo a menor migalha de Sua glória valeria o suficiente para realizar um livramento milagroso.
E você? Será que a água parada do seu casamento precisa se transformar em um vinho voluptuoso? Você necessita uma migalha da mesa de Deus para trazer cura a um querido seu que está atormentado? Não importa o quão grande seja a sua necessidade, insisto: vá à janelinha do caixa e faça uma retirada. Peça que Deus supra a sua situação com Seu poder curador e restaurador. Se preciso, peça que Ele mova o calendário do céu para a sua situação. E então continue pedindo. Ele se agrada com a sua fé – e fielmente irá tornar a glória Dele conhecida na sua situação, assombrando o mundo.