A imagem de deus

Gary Wilkerson

No início, é dito que Deus colocou o homem no jardim e afirmou que, de uma maneira misteriosa, ele seria como Deus — não igual, mas “semelhante” — e carregaria a imagem de Deus. “‘Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança.’ Assim, Deus formou o homem do pó da terra e soprou nele o fôlego de vida” (Gênesis 1).

Alguns teólogos dizem que carregar essa imagem significa que temos consciência, vontade e desejos porque Deus possui esses atributos; mas isso é algo diferente de tudo no restante da criação. Há um foco no elemento emocional, mas, se examinarmos as Escrituras, não há muitas evidências para essa interpretação, pelo menos nos primeiros capítulos. Inicialmente, isso tem a ver com domínio. “Deus os abençoou e disse: ‘Sejam férteis e multipliquem-se. Subjuguem a terra’” (Gênesis 1:28). Talvez essa imagem esteja mais relacionada ao nosso dever de espalhar o domínio de Deus e construir Seu reino.

Há quem especule que o Éden estava no centro do mundo e que o plano de Deus era que a humanidade ajudasse as plantas e os animais a se espalharem além do jardim do Éden para o restante da terra. Não podemos ter certeza, mas isso dá uma dimensão diferente de como carregamos a semelhança de Deus, e isso estaria alinhado com parte do que vemos em Apocalipse, onde nos será dado domínio em algum lugar do céu.

Com a queda, é claro, a imagem de Deus foi manchada e corrompida pelo pecado. Gênesis mostra isso com uma clareza brutal. Primeiro, temos Caim, que usa sua força e engenhosidade, aquele poder de domínio, para matar seu irmão. O descendente de Caim, Lameque, também mata alguém e depois se gaba disso para suas duas esposas, uma distorção ainda maior do domínio. Alguns capítulos depois, os descendentes de Caim constroem uma cidade, subjugando a terra de uma nova forma, o que provavelmente serviu como inspiração para outra cidade chamada Babel, que foi construída mais tarde. Eles estão alcançando uma versão torta e corrompida do que Deus pretendia.

Acredito que essa imagem está em todas as pessoas, mas perdemos a bondade no domínio, pelo menos até que Cristo viesse. “Ele é a imagem do Deus invisível, o Primogênito de toda a criação; Ele existe antes de todas as coisas, e Nele todas as coisas subsistem, para que em todas as coisas Ele tenha a supremacia” (veja Colossenses 1:15-18). Jesus veio para restaurar os propósitos originais de Deus para a Sua imagem em nós.

Por meio da submissão humilde, superamos os perigos do orgulho.

Parte da restauração da ideia de Deus sobre o nosso carregar a Sua imagem será completada no céu, obviamente, mas outra parte começa com a submissão humilde nesta vida, assim como Cristo se submeteu ao Pai, até mesmo à cruz. Essa humildade e amor na Trindade é a imagem à qual estamos sendo conformados pelo Espírito. Isso também exige a nossa participação. Significa verificar constantemente onde está o nosso coração, se deslizamos para a construção de nossos próprios reinos, defender nossa própria imagem ou nos preocupar com nossos benefícios.

Uma atitude de autopromoção pode infiltrar-se facilmente na igreja, especialmente se os líderes sentirem a pressão de fazer a igreja crescer ou até de ajudar as pessoas a crescerem. Sabemos que somos chamados para realizar esse trabalho! A pior parte é que esse chamado pode ser principalmente para a glória de Deus, mas também um pouco para a nossa. Queremos que o povo de Deus cresça, mas também podemos orar por alguém que estamos discipulando de uma forma que sabemos que nos trará elogios ou adicionar um pouco de charme e piadas a um sermão ou conversa, sabendo que as pessoas rirão, o que nos fará sentir mais importantes ou influentes.

Quando percebemos que estamos usando as mesmas ferramentas do mundo — autopromoção, manipulação, raiva, comportamento controlador — para alcançar um “grande bem” para a igreja, é nesse momento que sabemos que começamos a construir nosso próprio reino. Começamos a tentar administrar os processos redentores de Deus por conta própria porque achamos que Ele está agindo devagar demais ou de uma maneira diferente da que faríamos. É assim que introduzimos uma cultura babilônica e antibíblica em nossas igrejas.

Jesus convidou Seus seguidores, e continua a nos convidar, a dar um passo atrás e nos familiarizar novamente com as diferenças de um reino celestial. Todo o Seu ministério foi introduzido com este chamado: “O reino de Deus está próximo, por isso arrependam-se!” (veja Mateus 3:2 e 4:17).

Damos um passo atrás. Humilhamo-nos e nos curvamos ao verdadeiro Rei.

Quando estamos no caminho errado, o arrependimento nos faz dar meia-volta e nos atrai de volta para Deus.

O reino de Deus parece tão sutil nos ensinamentos de Cristo. É um tesouro escondido em um campo ou uma semente de mostarda caindo na terra. Essa pequena decisão de nos humilharmos é o ponto de partida que Deus procura para construir algo muito maior do que o que conseguimos imaginar. Por outro lado, aquela decisão aparentemente pequena de nos glorificarmos, um momento de “modéstia orgulhosa” é um tipo diferente de semente plantada em nossos corações. É algo fácil e terrível se justificar de qualquer coisa venenosa desse tipo porque “é para o bem maior”.

Às vezes, isso nos enlaça de surpresa tão facilmente. Tive um momento não muito tempo atrás em que o Espírito Santo me confrontou. Eu estava conversando com um amigo, e ele me perguntou o que eu achava sobre avivamento. Basicamente, eu disse: “O mais importante é pregar a Palavra de Deus, caminhar em santidade, orar e amar o próximo. Isso é apenas a vida cristã básica, então eu não busco avivamentos. Não ouço falar de um e atravesso o país para experimentar o que está acontecendo.” Quando desliguei a ligação, o Espírito Santo realmente me confrontou. Eu senti fortemente como se Ele estivesse dizendo: “Gary, que arrogância. Você não precisa de avivamento? Você pode simplesmente ler a Bíblia e não precisa que Eu aja com poder sobrenatural em seu favor, ou em favor dos outros?” Tive que me arrepender e pedir a Deus que substituísse esse orgulho por humildade em minha vida.

O orgulho sempre se manifesta através da comparação e competição, até mesmo nos lugares mais inesperados do nosso coração. Ele se insinua com pensamentos como: “Eu não sou como essas pessoas que correm atrás de avivamento. Eu não preciso dessas coisas para me sentir próximo de Deus porque tenho um rigoroso cronograma de leitura bíblica ao qual sou fiel e oro X horas por dia”, etc.

Além disso, o orgulho rouba a integridade da vida e do ministério cristão; a humildade a restaura. Este é um trabalho constante ao qual devemos retornar repetidamente. Muitos de nós idolatramos os lugares onde Deus trabalhou em nosso favor e sacudimos as mãos, pensando: “Bem, já resolvi a questão mais importante.” Deus removeu esse peso de nós, mas há muito mais trabalho a ser feito em nossos corações, e parte disso é lidar novamente com nosso orgulho, nossa necessidade mais profunda de construir nossa própria glória. Ele se aproxima no momento em que baixamos a guarda. Devemos constantemente examinar nossas próprias motivações.

“Nada façam por ambição egoísta ou vaidade, mas, humildemente, considerem os outros superiores a vocês mesmos. Cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros” (Filipenses 2:3-4). Amém.

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