O Processo de Peneiração
Uma noite antes de Sua morte, Jesus se assentou com os discípulos para compartilhar da ceia da Páscoa. Reunidos, o grupo teve um período íntimo de comunhão. Então, ao final da refeição, Cristo solenemente diz: “A mão do que me trai está comigo à mesa” (Lucas 22:21).
Que verdade pavorosa a ser vista num momento de tanta intimidade. Satanás havia audaciosamente entrado num dos discípulos do próprio Jesus, Judas.
Um outro momento incrível já havia ocorrido à mesa. Jesus tinha tomado um pedaço de pão, representando Seu corpo partido, molhado-o em vinho e estendido-o a Judas. O discípulo maquinador então estendeu sua mão possuída pelo demônio para recebê-lo; era como se o próprio Satanás estivesse tomando o corpo de Jesus nas mãos para esmagá-lo.
Você deve ter pensado como eu: como o diabo conseguiu possuir Judas? Ninguém cai tanto da noite para o dia; ninguém pode, tão de repente, ser sobrepujado por um pecado para que possa intencionalmente trair o Filho de Deus, sabendo que isso levará à Sua morte. Tristemente, a verdade é que Judas foi uma conquista fácil para Satanás. Os evangelhos revelam que Judas possuía um histórico de cobiça. Secretamente, ele enfiava a mão e pegava o dinheiro do grupo. E por albergar este espírito de cobiça, Satanás foi capaz de lhe enganar com o tempo.
O mesmo tem acontecido vez após outra aos cristãos pelos séculos. Satanás tem derrubado multidões de crentes que nunca permitiram se livrar de um pecado que os assediava. Tenho visto inúmeros ministros de Deus caindo por todos os lados, homens que no passado foram poderosamente usados por Deus. Com o passar dos anos, estes pastores se viram emaranhados numa luxúria que nunca permitiram que se acabasse. E caíram feio, perdendo tudo.
O próprio Judas foi poderosamente usado por Deus. Ele realizou milagres junto com os outros discípulos, curando os enfermos e expulsando demônios. E, como eles, caminhou junto a Jesus, a Palavra viva. As multidões reconheciam em Judas um devoto servo de Deus.
No entanto, a Bíblia deixa claro: desde o início, Judas era um obreiro da iniquidade. Sua cobiça secreta estava sempre se movendo sob a superfície. E nada que este bendito homem visse ou ouvisse na vida de Jesus, conseguia tocar o pecado em seu coração. Judas se entregou inteiramente à cobiça. Como resultado, foi totalmente sobrepujado pelo diabo.
Uma vez encontrei um ministro que teve essa experiência. Ele disse: “Meu pai foi pastor por cinqüenta anos, e sempre foi pobre. Quando se aposentou, ele e minha mãe eram paupérrimos, mal sobrevivendo. Há poucos anos, ao visitá-los em sua minúscula casa, uma voz surgiu em mim. Disse a mim mesmo que jamais acabaria pobre, como eles. Eu iria fazer e acontecer, tudo que fosse preciso para ter segurança.”
Ele era líder da denominação, e supervisionava vários pastores. Mas logo começou a investir em negócios imobiliários nebulosos. Ele sabia que estava errado, mas não conseguia se libertar do espírito que o acossava. Ele continuava preso ao temor de acabar pobre. Como Judas, este homem foi presa fácil para Satanás, que invadiu seu coração ambicioso.
Há muitos anos atrás, descobriu-se que um evangelista muito conhecido estava envolvido em pecado sexual, o que chocou o mundo. Multidões de cristãos ficaram se perguntando: “Como poderia um homem tão piedoso cair neste tipo de pecado?” Antes deste ministro ter sido descoberto, liguei para ele para saber o que estava acontecendo. Ele confessou que tinha estado envolvido com pornografia desde criança. “Há anos sou atormentado”, me disse. “E tenho carregado esta carga por todo meu ministério.” Em outras palavras, mesmo quando estava pregando com poder, ele voltava a escorregar no hábito. Obviamente, o cativeiro deste homem não surgiu da noite para o dia. Ele foi marcado pelo diabo muito antes, e nunca desfrutou de um período de vitória total.
Creio que atualmente multidões de cristãos são iguais a este homem. São usados por Deus, adoram com fervor, e servem ao Senhor com sinceridade. Mas permitiram um pecado em suas vidas, e com o passar do tempo ele se entrincheirou em profundidade. Agora se tornaram presa fácil para Satanás; o diabo invadiu essa área de fraqueza, e os dominou.
Agora, na Páscoa, Satanás sabia que o reino de Jesus estava prestes a vir. Assim, uma vez tendo possuído Judas, ele se determinou a ir atrás de outro discípulo. Creio que ele fez sentir sua presença na mesa, pois “houve também entre eles uma forte discussão sobre qual deles parecia ser o maior” (Lucas 22:24). Você consegue imaginar uma discussão dessas? Os discípulos tinham acabado de ter um período de comunhão com o Senhor, que lhes declarou estar prestes a morrer. Mas aparentemente, eles não entenderam nada do que Jesus disse. Ao invés, começaram a discutir quem passaria a ser o líder quando Ele partisse.
Isso foi um tremendo prato para Satanás. Ele provavelmente começou a medir os discípulos, um por um, imaginando: “Qual será o próximo? Não será Natanael; Jesus disse que ele não tem dolo. E João? Não, ele é muito íntimo do Mestre, sempre junto a Ele. Ah, lá está Pedro. Jesus o chamou de rocha. Em verdade, Cristo disse que Ele edificaria Sua igreja em cima da proclamação que Pedro fez, de que Jesus Cristo era o Messias. Sim, o próximo será Pedro. Se eu conseguir chegar a ele, vou enfraquecer os alicerces da igreja que virá.”
Você provavelmente está familiarizado com a história de Jó, no Velho Testamento. Sendo assim, lembra-se que Satanás não podia tocar este servo piedoso, sem primeiro obter permissão dos céus. O Senhor disse ao diabo que este poderia ir até um certo ponto com Jó. Ele poderia afetar o seu corpo, poderia levá-lo a sofrimentos terríveis, mas não podia lhe matar.
Agora Satanás está no aguardo para ver se consegue transformar Pedro em alvo. Ele diz: “Jesus, dissestes que edificarias Tua igreja sobre o testemunho deste homem. Bem, se estás tão seguro de que Pedro é uma rocha, permita que eu o peneire por algum tempo. Tu verás que ele não serve para nenhum tipo de alicerce. Bem lá no fundo, ele é só areia. Tu sabes que eu já consegui um de teus líderes de base. Agora quero Te dizer que Pedro vai se esfacelar, como aconteceu com Judas.”
Já sabemos que o Senhor permitiu que Pedro fosse peneirado. Mas, por que isso era necessário? Creio que a cena da Páscoa nos dá uma perspectiva. Jesus prometeu aos discípulos: “...eu o confio (um reino) a vós, para que comais e bebais à minha mesa no meu reino, e vos assenteis sobre tronos para julgar as doze tribos de Israel” (Lucas 22: 29 - 30). Os seguidores de Jesus devem ter ficado estáticos quando ouviram isso: o futuro deles estava totalmente garantido. O Senhor em pessoa disse que iriam para o céu. Ele até iria lhes reservar assentos para a Sua mesa; e todos usariam coroas, e governariam e reinariam com Ele por toda a eternidade.
Que incrível garantia de segurança. As palavras de Jesus eram suficientes para sustentar qualquer pessoa pela vida toda, em total fé e confiança. À medida que Pedro ia ouvindo, ele deve ter sentido-se profundamente amado, pensando: “Tenho uma promessa concreta de Jesus. Ele vai me usar por toda a eternidade. E isso me deixa totalmente livre para servi-Lo agora, sem me preocupar.”
Porém, a alegria e a contemplação de Pedro foram abruptamente rompidas. Jesus de repente se dirige a ele com este estranho aviso: “Simão, Simão, Satanás vos pediu para vos peneirar como trigo” (22:31). Posso imaginar a surpresa de Pedro. Ele provavelmente exclamou: “Por que Satanás iria me querer, Senhor? O meu coração é mal? O que fiz para ser escolhido? Afinal de contas, fui o primeiro a reconhecer Tua divindade. Quando estes outros duvidaram, eu não duvidei. Eu até andei sobre as águas contigo. Então, o que quer dizer, serei peneirado? Estás dizendo que Satanás perguntou se poderia fazer isto comigo, e Tu dissestes sim? Onde está Tua proteção sobre mim, Jesus? O que está acontecendo?”
Na época, Israel era uma sociedade agrária, então todo mundo estava familiarizado com o processo de peneiração de grãos. Os roceiros lançavam grandes quantidades de grãos num peneirador, ou crivo, geralmente uma peça de madeira, de 1,30m X 1,30m com o crivo por baixo. Os trabalhadores então sacudiam a peça com força, jogando toda a sujeira e o joio para o chão. Só os grãos puros permaneciam.
A peneiração é obviamente um processo de purificação, que separa o que é mau e inútil, do bom, frutífero. Pode-se perguntar: “Por que Satanás iria querer peneirar Pedro, se só bom fruto poderia advir disso?” Em minha opinião, Satanás achou que a fé de Pedro iria faltar ao ser sacudida. Ele planejava peneirar Pedro com tanta violência, que iria provar que suas sementes da fé eram nada mais do que joio.
Pedro responde a Jesus: “Senhor, estou pronto para qualquer coisa. Quero ser preso, crucificado, morrer contigo. Tu já me dissestes o que me aguarda na eternidade. Que mal vai me fazer ser um pouco peneirado?” (v. Lucas 22:23). Porém, a verdade é que ninguém está preparado para ser peneirado. Não há nada que possamos fazer em nossa carne, para nos preparar para o terrível tipo de abalo que Pedro estava prestes a enfrentar.
Eu acho que o Senhor permite que Satanás peneire em particular os cristãos super confiantes. Estes crentes que já aprenderam muito estão convencidos de que podem resolver tudo que Satanás lhes lançar. Ficam alardeando: “Se o inimigo tentar me derrubar, eu o esmago com o poder de Deus. Eu o expulso da minha vida com a Palavra. O diabo não me toca.”
Ouço este tipo de alarde dos púlpitos no país inteiro. É claro, concordo que temos vitória sobre Satanás pela fé na obra de Jesus na cruz. Mesmo assim, de vez em quando, todo cristão enfrenta peneiramentos súbitos e surpreendentes, e nunca percebe que o diabo está por trás. Movimentações ocorrem constantemente dentro do mundo espiritual, sobre as quais conhecemos muito pouco. Não devemos ser ignorantes quanto aos truques de Satanás, mas, como Paulo diz: “Agora vemos em espelho, de maneira obscura” (I Corint. 13:12).
Talvez agora mesmo você esteja enfrentando uma questão grave, um abalo sem explicação. Você está sendo virado da cabeça para baixo, trucidado, e está achando que é por causa de algo mal de sua parte. Porém, o tempo todo, é Satanás, lhe peneirando como trigo, com a permissão de Deus.
Não entenda mal: o diabo não consegue chegar ao povo de Deus na hora em que ele quer. Ele não pode simplesmente nos derrubar à vontade. Ainda mais, temos esta garantia: as únicas pessoas que Deus permite que sejam peneiradas, são aquelas que Ele escolhe para reedificar Sua igreja caída. Nossos períodos de peneiramento têm o objetivo de nos levar à uma fé intacta e pura. E então Jesus pode usar-nos na obra de restauração da Sua igreja, nos últimos dias: “como está escrito: Depois disto voltarei e reedificarei o tabernáculo de Davi” (Atos 15:16).
Jesus mostrou para os discípulos a diferença entre peneiração e combate espiritual. Ele lhes disse: “O que não tem espada, venda a sua capa e compre uma” (Lucas 22:36). Cristo estava basicamente dizendo: “Estou prestes a lhes deixar. E vocês enfrentarão tremendo combate espiritual. Por todo este tempo fiquei com vocês, lhes protegi; mas agora terão de viver pela fé. Terão de pegar uma espada espiritual e combater o bom combate.”
“Porém, há uma prova ainda muito maior do que o combate espiritual: é o processo de peneiração. Peneiração é um combate cara a cara com Satanás em pessoa, uma batalha pela qual poucas pessoas passaram. Pedro, você será colocado nas mãos do inimigo por algum tempo, e a espada não vai lhe ajudar. O diabo está prestes a lhe desferir um ataque com o objetivo de destruir sua fé. Ele quer roubar toda a esperança que lhe dei.”
Quando estamos sendo peneirados, Satanás injeta em nossas mentes todo tipo de coisa ruim de que dispõe em seu arsenal. E faz com que imaginemos que todas estas coisas terríveis se originaram em nosso coração, e não no inferno. Trata-se de uma provação tão infernal e desesperadora, que Cristo não deixa que entremos nela sem que nos dê Sua promessa de que irá orar por nós o tempo todo. Ele assegurou a Pedro: “...roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça” (Lucas 22:32). Ou seja: “Pedro, sei muito bem que essa é uma batalha de alto risco contra a tua fé; e estarei orando por ti momento a momento, enquanto estiveres sofrendo este ataque. Já te digo antecipadamente: a tua fé não vacilará.”
Jesus preveniu que Pedro seria provado de maneira tão terrível, “que não cantará hoje o galo antes que três vezes negues que me conheces” (22:34). Mesmo assim Pedro achava que estava pronto. Poucas horas depois, quando uma multidão veio para prender Jesus, o discípulo se levantou para lutar pelo Mestre. Ousadamente sacou da espada e cortou a orelha de um homem.
Mas o peneiramento de Pedro efetivamente não se iniciou até mais tarde. Ele começou enquanto Jesus estava diante dos acusadores no átrio de julgamento. Pedro estava de fora, se aquecendo junto ao fogo, quando uma jovem o reconheceu: “Uma criada, vendo-o assentado ao fogo, fixou os olhos nele e disse: Este homem estava com ele” (22:56). Quando a jovem o encarou, Pedro começou a tremer, e rapidamente respondeu: “Mulher, não o conheço” (22:57).
Agora Satanás colocou Pedro na peneira, e começou a sacudir com violência. A Bíblia diz “Um pouco depois, vendo-o outro, disse: Tu és também deles. Mas Pedro disse: Homem, não sou” (22:58). Nessas alturas Pedro estava abalado, sem saber de onde vinham suas palavras. Finalmente, uma hora depois, uma terceira pessoa o reconheceu e disse: “Também este verdadeiramente estava com ele...Pedro respondeu: Homem, não sei o que dizes” (22: 59-60). Neste ponto, segundo outro evangelho, Pedro começou a praguejar.
Tente imaginar a cena. Só poucas horas atrás, este fiel discípulo tinha sido o mais arrojado defensor de Jesus, empunhando uma espada quando não tinha chance de vencer. Porém agora, Pedro estava totalmente arrasado, negando até mesmo conhecer Jesus. Satanás deve ter visto isso, e pensou: “Já consegui Pedro. Ele está acabado, como Judas. Agora, vamos em busca do próximo discípulo.”
No momento exato da terceira negação de Pedro, as escrituras dizem: “...o galo cantou. Virando-se o Senhor, olhou para Pedro...” (Lucas 22:60-61). Imagine o que Pedro deve ter sentido quando seu Mestre o fitou. Contudo, posso lhe assegurar, o olhar que Jesus lhe deu não foi um olhar de acusação. Cristo não estava dizendo: “Como pôde fazer isto comigo, Pedro? Você blasfemou contra Mim, Me negou, mesmo estas pessoas sabendo que você é Meu. Como conseguiu cair tanto, depois de tudo que fiz por você?”
Pelo contrário, Jesus havia previsto estes acontecimentos em favor de Pedro. E agora Ele o olhava lhe devolvendo a segurança, como a lhe dizer: “Fique firme, amigo. Eu avisei que Satanás iria lhe peneirar, lembra-se? Ele quer lhe derrubar e destruir a minha igreja. Mas estou lhe lembrando agora, Pedro, você será restaurado. Você é importante para Mim. Então, não fuja de Mim. Essa guerra vai acabar. E ainda há à frente uma grande obra para você.”
Em verdade, Jesus tinha dito a Pedro: “Quando te converteres, fortalece teus irmãos” (22:32). O sentido literal aqui em grego é: “Quando você retornar, seja uma força para seus irmãos e irmãs.” Ou seja, Cristo estava dizendo: “Você Me negará, Pedro. Contudo, quero lhe dizer que será restaurado. E mais tarde, você terá algo vital para dar aos outros. Você será uma bênção a partir do que está aprendendo.”
Este é o exato motivo pelo qual Deus permite que sejamos peneirados. O apóstolo Paulo diz: “Bendito seja...o Pai das misericórdias e o Deus de toda consolação, que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus... Se somos atribulados, é para vossa consolação e salvação; se somos consolados, para vossa consolação é, a qual se opera suportando com paciência as mesmas aflições que nós também padecemos. A nossa esperança acerca de vós é firme, sabendo que, como sois participantes das aflições, assim o sereis também da consolação” (2 Coríntios 1: 3-7).
Claramente, Deus permite que Seus servos passem por águas profundas, suportando crises que não compreendem, para que sejam testemunho e consolação para os outros. Desta maneira, os cristãos peneirados ajudam a reconstruir as partes da casa de Deus que caíram.
Pense nisto: a peneiração de Pedro não tinha nada a ver com tentações carnais, como lascívia, ambição ou cobiça. Não, o ataque de Satanás foi preparado para questionar as promessas de Deus para este homem. Ele queria que Pedro ficasse convencido de que não era merecedor da promessa que Jesus lhe fizera sobre os céus. E, por algum tempo, o diabo teve sucesso. Depois que Jesus olhou para Pedro, o discípulo saiu e chorou amargamente. Imagine as mentiras que Satanás gritou para este homem falido:
“Muito bem, quer dizer que você é a rocha de Jesus, hein? Você é o tal que iria levantar uma igreja que estava em ruínas? Olhe para você, Pedro. Você é fraco espiritualmente, um bebê chorão, um blasfemo. Você negou exatamente Quem lhe chamou e amou. Se você acha que vai sentar-se à mesa de Jesus no paraíso, esqueça. Você pecou contra a luz do mundo; não é digno das promessas dEle. Você é do mal, um derrotado. Sua vida acabou.”
No entanto, mal sabia Pedro - ele estava sendo equipado com uma mensagem vital para a nova igreja: “Eu já estive afundado no desespero e na desesperança mais do que vocês podem imaginar. E o meu Senhor me tirou disso para lhes trazer conforto.”
Em João 21, Jesus já havia ressuscitado dos mortos e aparecido aos Seus seguidores várias vezes. Certamente, quando Cristo atravessou as paredes do cenáculo, Ele olhou para cada um, incluindo Pedro, com o terno amor do Pai.
Mesmo assim, Pedro estava evidentemente vacilante devido à experiência pela qual passara. Um dia, ele declara aos outros: “Vou pescar” (Jo. 21:3). Em outras palavras, ele estava voltando à carreira de pescador. Pedro já não se via mais adequado para o papel de líder espiritual. Provavelmente estava pensando: “Deus não pode usar uma pessoa como eu; pequei como ninguém pecou na história. Para mim não dá mais.”
Você talvez se lembre da história a partir deste ponto. Pedro persuade alguns dos discípulos a irem com ele. Pescaram a noite toda, mas não pegaram nada. Aí, pela madrugada, um vulto os chama da praia. Ele lhes diz para lançarem as redes do outro lado do barco. Quando fazem isso, pegam tantos peixes que as redes começam a se rasgar.
Pedro sabia que o vulto tinha de ser Jesus. E imediatamente, pula na água e nada para a praia. Ele encontra Cristo preparando para todos eles o café da manhã. Assim que os outros chegam, Jesus lhes convida: “Vinde, comei” (Jo. 21: 12). O Senhor estava estendendo os braços aos Seus escolhidos, desejando ardentemente lhes trazer de volta à plena comunhão com Ele. E tinha Pedro em mente, especialmente.
Durante a refeição, Jesus pergunta ao discípulo três vezes: “Pedro, amas-me?” Cada vez, Pedro respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que te amo” (v. João 21: 15,16). Você precisa entender que Jesus não estava fazendo perguntas para se convencer da devoção do discípulo; e nem fazia esta pergunta por causa dos outros. Era tudo em função de Pedro. Cristo dizia a Pedro basicamente: “Sei que você está tranqüilo quanto ao Meu amor por você. Você está convencido de que o amo de modo completo e incondicional, a despeito de seus fracassos. Mas quero que se convença de outra coisa também; quero que você se convença de que EU SEI QUE VOCÊ ME AMA.”
“Você voltou inteiramente para Mim, Pedro. E sei que não vai me trair mais. Conheço o seu coração, e estou convencido de que Me ama de todo o entendimento. Então, não deixe que Satanás roube isso de você. Você obviamente está seguro em Meu amor por você; agora, fique seguro em seu próprio amor por Mim. Isso lhe preparará para a obra que projetei para o futuro. E essa será a de apascentar as Minhas ovelhas” (v. Jo. 21: 17).
Amado, a nossa peneiração pessoal termina quando podemos dizer ao diabo: “O meu Salvador me ama incondicionalmente, em meio a todos os meus pecados, porque voltei para o Seu amor. Além disso, me convenceu de que, apesar de eu ter falhado, Ele sabe que ainda O amo de todo o meu coração. Então, você não pode mais me roubar isso, diabo. Não vou permitir que você me diga qualquer coisa diferente disso. Amo Jesus, e Ele sabe disso.”
Como Pedro, senti o toque especial de Jesus em minha vida. Me prendi à uma preciosa promessa que me deu, de que meus últimos dias seriam os mais frutíferos. Também recebi dEle o Pão da Vida em doce comunhão. E cri em Sua promessa de que uma coroa me aguarda na glória.
Contudo, também como Pedro, me vi em súbitas batalhas espirituais que estavam acima da minha compreensão. Passei por assédio satânico e acusações falsas. E, em cada experiência, não consegui entender se a causa disso era a minha própria carne, o diabo, ou a correção de Deus, purificando-me de alguma iniquidade desconhecida. Me identifiquei com Jó, que perguntou a Deus: “por que contendes comigo” (Jó 10 : 2). Jó estava dizendo: “Senhor, não sei o que está acontecendo. Do que se trata este sofrimento todo?”
Creio que nossas experiências de peneiração estão como um sanduíche, entre um tempo de revelação poderosa e períodos de utilização ainda maior para o reino. Pense no que Paulo aprendeu através do sofrimento: “Pois não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor, e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus. Pois Deus, que disse: Das trevas resplandecerá a luz, é quem brilhou em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo” (2 Corín. 4:5,6).
Paulo está dizendo que, através das provações, ele havia aprendido a pregar não si próprio mas unicamente Cristo. Nesta altura da vida, ele tinha parado de se concentrar em si mesmo. Agora todo seu ensinamento, testemunho e vida eram dedicados inteiramente a exaltar Jesus; além disso, Paulo estava recebendo adicionais revelações. Ele nos diz que o Espírito Santo havia brilhado em seu coração, trazendo ainda mais luz pela qual ele poderia revelar Cristo aos outros. Que situação maravilhosa: totalmente humilhado, contudo pleno de revelações, luz e da visão da glória de Deus.
Finalmente, Paulo explica o que seguiu-se à todas suas revelações: “Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados; perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos; levando sempre por toda a parte o morrer do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também em nossos corpos; e assim nós, que vivemos, estamos sempre entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também em nossa carne mortal. De maneira que em nós opera a morte, mas em vós, a vida” (2 Coríntios 4: 8-12).
Note todas as palavras pesadas que Paulo usa aqui: tribulação, perplexidade, perseguição, abatimento, o levar no corpo o morrer do Senhor Jesus. Simplificando, Paulo está descrevendo o processo de peneiração. No princípio, ele não conseguia entender porque cada obra maravilhosa do Espírito de Deus em sua vida, era seguida por um turbulento período de agitação. Então o Espírito Santo lhe revelou a razão: não era para revelar o seu pecado, ou para lhe disciplinar ou corrigir. Antes, diz Paulo, era em favor dos outros: ‘Tudo isto é por amor de vós, para que a graça, multiplicada por meio de muitos, torne abundantes as ações de graça para a glória de Deus...eterno peso de glória” (4: 15 - 17).
Paulo soube claramente o porquê de alguns crentes enfrentarem mais lutas, suportarem mais turbulência, enfrentarem maiores provações: “É em favor do corpo de Cristo; e, no final das contas, é para a glória de Deus. Veja, à medida que os outros observam como você responde quando o fogo chega ao máximo, perceberão que Deus tampouco irá lhes abandonar na hora da provação.”
Prezado santo, a peneiração pela qual você está passando agora é toda em favor de sua família, amigos, companheiros de trabalho, aqueles em torno de você que amam a Jesus. Então, não tenha medo do teste. Jesus sabe qual será o resultado. E está lhe dizendo, como disse a Pedro: “Fique firme, amigo. Estou orando por você. Quando a poeira baixar, você estará restaurado. E vou lhe usar para reedificar a Minha igreja. Tenho um propósito eterno por trás da sua peneiração. É tudo em favor do peso da Minha glória.”