O Som de Sua Voz

Jesus viveu Sua vida na terra totalmente dependente do Pai celestial. Nosso Salvador não fazia nada, e não dizia nada enquanto não consultasse o Pai na glória. E Ele não realizou nenhum milagre excepto aqueles que o Pai O instruiu a fazer. Ele declarou: "Falo como o Pai me ensinou. E... (o Pai) não me deixou só, porque eu faço sempre o que lhe agrada" (João 8:29-29).

Cristo deixa bem claro: Ele era diariamente conduzido pelo Pai. E Sua prática de total dependência, sempre ouvindo a voz do Pai, fazia parte de Seu caminhar diário. Vemos isso em uma cena do evangelho de João. Em um sábado, Jesus estava andando perto do tanque de Betesda quando viu um homem paralítico deitado em um leito. Cristo dirigindo-se para o homem, lhe ordenou que pegasse a cama e andasse. Imediatamente o homem foi curado. Ele saiu andando curado.

Os líderes judeus ficaram enfurecidos com isso. Em suas mentes, Jesus havia violado o sábado curando aquele homem. Mas Cristo respondeu, “Eu somente fiz o que Meu Pai me disse para fazer.” Ele explicou, “ Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também ... o Filho nada pode fazer de si mesmo, senão somente aquilo que vir fazer o Pai; porque tudo o que este fizer, o Filho também semelhantemente o faz. Porque o Pai ama ao Filho, e lhe mostra tudo o que faz” (João 5:17-20).

Jesus declarou mui simplesmente: “ Meu Pai me ensinou tudo o que devo fazer”. Você pode perguntar: quando exatamente Deus mostrou a Cristo o que fazer? Quando Jesus viu Deus fazendo milagres? Quando o Pai falou para Jesus tudo o que devia dizer e fazer?

Será que tudo isso aconteceu na glória, antes de Cristo se encarnar? Será que os dois sentaram-se juntos antes da criação e traçaram cada dia da vida de Jesus? Será que o Pai falou ao Filho, “no segundo sábado do sexto mês judaíco, você estará andando perto do poço de Betesda. Você encontrará um homem paralítico. Ordene àquele homem que levante e ande” ?

Se tivesse sido assim, nenhum de nós poderia se identificar com isso. Tal acordo não teria relevância para nosso andar diário com o Senhor. Mesmo assim, sabemos que Jesus veio para dar-nos um padrão para seguirmos. Afinal de contas, Ele veio à terra para experimentar tudo que fazemos, sentindo todos os nossos sentimentos, e sendo tocado com nossas dores e enfermidades. Em troca, devemos viver como Ele viveu, andar como Ele andou.

O fato é que Jesus, em Sua carne, tinha que contar com o trabalho interior diário da voz do Pai. Ele tinha que ser dependente do Pai em todo o tempo, a fim de ouvir Sua voz Lhe dirigindo. De outra maneira, Cristo simplesmente não poderia ter feito as coisas que fez. Jesus tinha de ouvir a voz do Pai a cada hora, a cada milagre, dia após dia.

Como era Jesus capaz de ouvir a calma e suave voz do Pai? A Bíblia mostra que acontecia através da oração. Vez por outra, Jesus ia para um lugar solitário para orar. Ele aprendeu a ouvir a voz do Pai enquanto estava de joelhos. E o Pai era fiel para Lhe mostrar tudo o que fazer e dizer.

Imagine Jesus encarando uma grande decisão, tal como a escolha de Seus discípulos. Como o Senhor escolheu os doze dentro da vasta multidão que O seguia? Tinha que ser uma decisão importante. Afinal de contas esses discípulos formariam os pilares de Sua igreja neo-testamentária. Será que o Pai Lhe deu os nomes dos doze enquanto Jesus estava ainda na glória? Se foi assim, então por que Jesus passou uma noite inteira em oração antes de nomeá-los?

Lucas nos conta, “Retirou-se para o monte, a fim de orar, e passou a noite orando a Deus” (Lucas 6:12). Na manhã seguinte, Jesus chamou os doze. Como Ele os conhecia? O Pai os havia revelado a Ele na noite anterior.

Além disso, na mesma noite, o Pai deu a Seu Filho as bem-aventuranças, aqueles ditos do Sermão do Monte: “Bem-aventurados os pobres.... bem-aventurados os que choram... Não julgueis...” (veja Mateus 5-7). Jesus tinha recebido tudo aquilo direto do coração do Pai.

Era nessas horas sozinho com o Pai que Cristo ouvia Sua voz falar. De fato, Jesus recebia cada palavra de encorajamento, cada aviso profético, enquanto orava. Ele pedia ao Pai, Lhe adorava e se submetia à Sua vontade. E depois de cada milagre, cada ensinamento, cada confronto com um fariseu, Jesus corria de volta para a comunhão com Seu Pai.

Vemos esse tipo de devoção em Mateus 14. Jesus tinha acabado de receber a notícia da morte de João Batista. “Jesus ouvindo isto, retirou-se dali num barco, para um lugar deserto, à parte” (Mateus 14:13). (Pergunto-me se Ele foi para o mesmo deserto onde João havia passado anos em meditação e preparação para o ministério.)

Jesus estava lá sozinho, orando e sofrendo profundamente pela morte de João. João tinha sido um amigo amado, assim como também um respeitado profeta de Deus. E agora, ao manter comunhão com o Senhor, Ele pede graça e a recebe. E, lá no deserto, a sós com o Pai, Jesus recebe direções para o dia seguinte.

Imediatamente ao deixar aquele lugar, Cristo começou a fazer milagres: “Desembarcando, viu Jesus uma grande multidão, compadeceu-se dela e curou os seus enfermos” (14:14). Naquele mesmo dia, Jesus alimentou uma multidão de 5.000 com cinco pães e dois peixes. Tente imaginar que dia ocupado e pesado foi para Ele. Mais tarde, naquele dia, Ele despediu a multidão.

Então, o que fez Jesus naquele momento? Você pensaria que Ele buscaria descanso ou uma refeição tranqüila; talvez reunisse alguns dos discípulos mais próximos para recapitular os eventos do dia; ou, talvez desejasse ir à Betânia, para receber a hospitalidade renovadora da família de Maria e Marta.

Jesus não fez nenhuma dessas coisas. As Escrituras nos dizem, “Subiu ao monte, a fim de orar sozinho. Em caindo a tarde, lá estava ele, só.” (14:23). Mais uma vez, Jesus correu para o Pai. Ele sabia que o único lugar para se recuperar era na presença do Pai.

Ora, Jesus tinha plena consciência da obra que veio fazer na terra. Estava tudo esboçado nas Escrituras: Ele curaria o doentes e o aflitos, abriria os olhos dos cegos, confortaria os quebrantados, abriria portas de prisões, libertaria os cativos, satisfaria a fome e a sede das multidões. Todavia, em Seu andar diário, Jesus não fez nenhuma dessas coisas sem primeiro se submeter ao Pai. Apesar de esses atos já lhe terem sido apresentados anteriormente, Ele sempre buscou a direção do Pai a cada momento.

As Escrituras nos dizem que certas ocasiões Jesus “curava a todos que o tocavam”. Todavia, em outras vezes Ele não curou por causa da incredulidade das pessoas. Como Jesus sabia quando curar, e quando não curar? Ele tinha que ouvir a voz mansa e suave do Pai, Lhe dando uma palavra de direção. E Ele se gloriava em ouvir a voz de Seu Pai.

O mesmo é verdadeiro para o nosso chamado. Sabemos todas as coisas que as Escrituras requerem de nós: devemos amar uns aos outros, orar sem cessar, ir por todo o mundo e fazer discípulos, estudar para apresentarmo-nos aprovados, andar em justiça, ministrar ao pobre, ao doente, ao necessitado e ao preso. E também devemos fazer certas outras coisas que não estão mencionadas nas Escrituras. Encaramos certas necessidades no nosso andar diário, seja através de crises ou outras situações urgentes. Em tais momentos, precisamos da voz do nosso Pai para nos guiar, falando-nos coisas que não estão nos Seus mandamentos. Colocando de maneira simples, precisamos ouvir a mesma voz do Pai que Jesus ouvia quando estava na terra.

Sabemos que Cristo teve esse tipo de troca com o Pai. Ele disse aos discípulos, “Tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer” (João 15:15). Ele também falou aos líderes religiosos, “Vos tenho falado a verdade que ouvi de Deus; assim não procedeu Abraão” (8:40). O que Jesus quis dizer com essa última frase? Ele estava dizendo aos mestres de Israel, “Eu vos tenho dado a verdade diretamente do coração de Deus. Abraão não pode fazê-lo.”

Cristo estava dizendo, “Vocês vivem uma teologia morta. Estudam o passado, honrando o pai Abraão, aprendendo leis e regulamentos para suas vidas. Mas o que falo a vocês não vem de uma história remota. Acabei de estar com o Pai. Ele me deu o que estou pregando a vocês. Ele mostrou-me o que vocês precisavam ouvir”.

João Batista testificou contra esses mesmos líderes religiosos: “e testifica o que tem visto e ouvido; contudo ninguém aceita seu testemunho” (João 3:32). Hoje Jesus está falando para nós a mesma mensagem: “Vocês estão satisfeitos em ouvir sermões tirados de alguns livros de referência. Mas a Palavra que quero lhes dar é nova”.

Tenho perguntado ao Senhor se é possível hoje, nesse tempo da graça, viver como Ele viveu. Será que podemos ser totalmente dependente da voz do Pai na glória? Será que é possível ouvir Sua direção para nossas vidas dia após dia, momento após momento? Será que existe esse tipo de andar planejado para nós, para que também possamos dizer, “Falo somente o que ouço do Senhor, e faço somente o que vejo Ele fazer”?

Conheço a alegria resultante de estar a sós com Cristo. Vem de adorá-Lo, de ministrar a Ele, de esperar nEle a fim de que revele Seu coração. Chamo isso de “hora de alimentar Jesus”. Sento-me em Sua presença, ouvindo Sua voz mansa e suave. E Ele fala para mim, me ensinando, ministrando a mim com Seu Espírito Santo; mostrando coisas que não poderia aprender através de livros ou pessoas. Sua verdade toma vida em meu espírito. E o meu coração pula dentro de mim.

Claro que ainda não alcancei. Esse tipo de experiência ocasional ainda não se tornou um meio de vida para mim. Então tenho perguntado ao Senhor, “É possível a vida totalmente dependente? Ou isso é só um desejo? Estou sonhando com algo que é impossível de se cumprir?”

Creio que a maioria de nós vive bem aquém dos privilégios que temos como filhos de Deus. Por exemplo, leio sobre Elias diante do Senhor a ouvir Sua voz. Leio sobre Jeremias, diante da presença de Deus, ouvindo Seus conselhos. Ele clama, “Quem esteve no conselho do Senhor, e viu, e ouviu a sua palavra? Quem esteve atento à sua palavra e a ela atendeu?” (Jeremias 23:18). Leio em Isaías um clamor semelhante: “Quando te desviares para a direita e quando te desviares para a esquerda, os teus ouvidos ouvirão atrás de ti uma palavra, dizendo: Este é o caminho, andai por ele” (Isaías 30:21).

Por que Deus não falaria na nossa geração, quando há tanto medo e incerteza? O mundo está em desordem, buscando respostas. Por que o Senhor estaria silencioso agora, quando precisamos ouvir Sua voz mais que nunca? Tragicamente, muitos ministros hoje pregam sermões sem vida. Suas mensagens nem convencem do pecado, nem respondem os clamores profundos do coração. Isso é absolutamente criminoso. Filosofias vazias lançadas em um tempo de grande fome somente causarão maior pesar nos ouvintes.

João Batista ensinou, “O que tem a noiva é o noivo; o amigo do noivo que está presente e o ouve muito se regozija por causa da voz do noivo. Pois esta alegria já se cumpriu em mim” (João 3:29). A tradução grega literal significa, “O amigo do noivo, que fica e continua com ele”. João Batista estava dizendo aos seus discípulos, “Eu tenho ouvido a voz do noivo. E isso tem sido minha maior alegria. O Seu som preenche a minha alma. Como fui capaz de ouvir Sua voz? Ficando perto dEle, ouvindo-O compartilhar Seu coração.”

Você pode se perguntar: como João aprendeu o som da voz de Jesus? Ao que sabemos, os dois tiveram somente um encontro face-a-face, no batismo de Cristo. E foi uma conversa muito rápida, consistindo somente de poucas palavras.

João aprendeu a ouvir a voz do Senhor exatamente como Jesus: sozinho no deserto. Esse homem tinha se isolado no deserto ainda muito jovem. Ele não se permitia nenhum prazer desse mundo, incluindo comidas gostosas, uma cama macia e nem mesmo roupas confortáveis. Ele não teve professores, mentores nem livros. Durante esses anos sozinho, João tinha comunhão com o Senhor. E em todo esse tempo ele era ensinado pelo Espírito a ouvir a mansa e suave voz de Deus. Sim, Cristo falou com João mesmo antes de encontrá-lo em carne.

João aprendeu tudo o que sabia, através de uma comunhão contínua com o Senhor. Foi assim que recebeu a mensagem do arrependimento, reconheceu a vinda do Cordeiro, percebeu sua própria necessidade de diminuir enquanto o Messias crescia. João aprendeu todas essas coisas através do Senhor. E o som da voz de Deus era a sua alegria.

Vemos esse tipo de vida esboçado nas Escrituras. Não falo somente sobre a vida isolada de um profeta. Primeiro há o exemplo de Jesus. Sua vida era ocupada, tendo quase sempre todas as horas tomadas. Mas o coração de Cristo estava firmado em buscar o Pai diariamente. Ele dava a Deus o Seu precioso melhor tempo, sentando aos Seus pés, ministrando a Ele e ouvindo a Sua voz. E Ele era ensinado e dirigido por Seu Pai a cada dia.

Você pode se perguntar, “Mas, e o resto de nós? Jesus era literalmente o Filho de Deus, gerado do Pai. Ninguém pode alcançar Seu exemplo”.

Considere Cornélio, o centurião. Esse homem não era pastor e nem ministro leigo. Na verdade, sendo um gentio, não era nem contado entre o povo de Deus. Ainda assim as Escrituras dizem que esse soldado era “piedoso e temente a Deus com toda a sua casa e que fazia muitas esmolas ao povo e, de contínuo, orava a Deus” (Atos 10:2).

Aqui estava um homem ocupado. Cornélio tinha 100 soldados sob seu comando imediato. E mesmo assim, ele orava a cada momento livre. E um dia, enquanto orava, o Senhor falou com ele. Um anjo apareceu, chamando Cornélio pelo nome. O centurião reconheceu que era a voz de Deus. Ele respondeu, “Que é, Senhor?” (10:4)

O Senhor falou diretamente a Cornélio, dizendo-o para encontrar o apóstolo Pedro. Ele lhe deu instruções detalhadas, incluindo nomes, endereço e até mesmo as palavras a dizer. Enquanto isso, Pedro estava orando em um eirado quando “ouviu-se uma voz que se dirigia a ele” (10:13). Outra vez o Espírito Santo dava instruções detalhadas: “Pedro, estão aí dois homens que te procuram; levanta-te pois, desce e vai com eles, nada duvidando, porque eu os enviei” (10:19-20).

Pedro seguiu os homens até a casa de Cornélio para um encontro verdadeiramente divino. O que aconteceu ali abalou toda a igreja Judia-Pentecostal. O Senhor abriu o evangelho aos gentios. Ainda assim, a coisa mais difícil para os judeus-crentes aceitar era que Deus tinha falado para um gentio comum, que não teria recebido ensinos. Eles não podiam entender como Cornélio tinha ouvido a voz de Deus tão claramente, e falado com tanto poder. Isso desafiou a todos os crentes dali.

Paulo também recebeu uma revelação de Jesus diretamente do céu. Ele testifica que as coisas que aprendeu sobre Cristo não foram ensinadas por nenhum homem. Antes, ele ouviu a voz do próprio Jesus, enquanto estava de joelhos orando. “Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem, porque eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo” (Gálatas 1:11-12). “Aprouve revelar Seu Filho em mim, para que eu o pregasse entre os gentios, sem detença, não consultei carne e sangue” (1:15-16).

Ora, havia grandes mestres nos dias de Paulo, líderes que eram poderosos na Palavra de Deus, tais como Apolo e Gamaliel. E havia os apóstolos, que tinham andado e falado com Jesus. Mas Paulo sabia que uma revelação de segunda mão não seria suficiente. Ele tinha que ter uma revelação sempre-crescente de Jesus, vinda do próprio Senhor.

É claro que Paulo não era contra os mestres. Afinal, ele mesmo era um; ele ensina que “(Deus) concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres” (Efésios 4:11). Mas Paulo sabia que iria enfrentar um mundo gentio ímpio, e precisava de uma revelação pessoal de Jesus para sustê-lo. Na verdade, Paulo diz que cada cristão precisa ser ensinado pelo Senhor: “Se é que, de fato, o tendes ouvido e nele fostes instruídos, segundo é a verdade em Jesus” (4:21)

Existem inúmeros ministros bem-treinados hoje em dia, homens altamente respeitados com avançado aprendizado. Eles passaram anos no seminário, estudando teologia, filosofia e ética. E foram ensinados por professores dotados, homens de grande apreciação, e qualificados em seus campos.

Mas quando muitos desses ministros que tanto estudaram vão para o púlpito pregar, eles falam somente palavras vazias. Eles podem lhe dizer muitas coisas interessantes sobre a vida e ministério de Cristo. Mas o que eles dizem deixa seu espírito frio. Por que? Porque não têm nenhuma revelação de Jesus, nenhuma experiência pessoal com Ele. Tudo o que eles sabem de Cristo tem sido filtrado pelas mentes de outros homens. Seus discernimentos são apenas ensinos emprestados.

Paulo estava realmente perguntando aos efésios, “Como vocês aprenderam Cristo?” Em outras palavras: quem ensinou o que vocês sabem sobre Jesus? Veio dos muitos sermões que ouviram, ou das aulas da escola dominical? Se foi isso, tudo bem. Mas é esse o limite daquilo que você sabe de Cristo? Não interessa o poder com o qual o seu pastor prega, ou o quanto de unção os seus professores possam ter. Você precisa mais de Jesus do que somente conhecimento intelectual.

Muitos crentes estão satisfeitos com aquilo que chamo de revelação única e inicial do poder e da graça salvadora de Cristo. Essa é a única revelação de Jesus que eles tiveram. Eles testificam, “Jesus é o Messias, o Salvador. Ele é o Senhor, o Filho de Deus”. Todo crente verdadeiro experimenta essa revelação maravilhosa e transformadora. Mas isso é apenas o primeiro passo. O que vem adiante é uma vivência de revelações mais profundas e gloriosas de Cristo.

Paulo sabia disso. Ele recebeu uma revelação incrível de Jesus na estrada para Damasco. Paulo foi literalmente derrubado do cavalo, e uma voz do céu falou com ele. Ninguém nunca teve uma revelação mais pessoal de Cristo do que essa. Mas Paulo sabia que esse era apenas o começo. Daquele momento em diante, ele decidiu “nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado” (1Corintios 2:2).

Mateus conta um exemplo eficaz de uma revelação única de Cristo. Jesus tinha acabado de trazer um ensino duro à multidão, e muitas pessoas se afastaram. Então Jesus reuniu os discípulos e perguntou “Mas vós, quem dizeis que eu sou? Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mateus 16:15-16).

Jesus declarou, “Bem aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus” (16:17). Cristo estava dizendo, “você não recebeu essa revelação apenas andando comigo, Pedro. Meu Pai lhe revelou do céu.” Em resumo, Pedro recebeu a gloriosa revelação inicial que vem a todos que crêem. A glória da salvação de Cristo estava sendo revelada nele.

Mas depois lemos, “Então, advertiu os discípulos de que a ninguém dissessem ser ele o Cristo” (16:20). Por que Jesus disse isso? O Céu já não havia anunciado que Ele era o Cordeiro de Deus que viria salvar o mundo?

O fato é que os discípulos não estavam prontos para testificar dEle como Messias. A revelação que tinham sobre Ele era incompleta. Eles não sabiam nada da cruz, do caminho do sofrimento, as profundezas do sacrifício do Mestre. Sim, eles já haviam curado enfermos, expulsado demônios e testemunhado a muitos. Mas mesmo estando com Jesus aqueles anos, eles ainda não tinham uma revelação pessoal e profunda de quem Ele era.

O versículo seguinte confirma isso: “Desde esse tempo, começou Jesus Cristo a mostrar a seus discípulos...". Em outras palavras, Cristo começou a se revelar a eles, mostrando-lhes coisas mais profundas sobre Si. O resto do versículo continua, " que lhe era necessário seguir para Jerusalém e sofrer muitas coisas dos anciãos, dos principais sacerdotes e dos escribas, ser morto e ressuscitado no terceiro dia” (16:21).

Você já foi ensinado por Jesus em seu lugar secreto de oração? Você já O buscou por coisas que não consegue adquirir através de livros ou professores? Você já sentou-se calmamente em Sua presença, esperando ouvir Sua voz? A Bíblia diz que toda verdade está em Cristo. E somente Ele pode comunicá-la a você, através de Seu bendito Espírito Santo.

Uma pergunta pode vir à sua mente agora: "Não é perigoso abrir minha mente para uma voz mansa e suave? Não é por isso que tantos cristãos ficam em apuros? O inimigo vem e imita a voz de Deus, falando que devem crer ou fazer coisas ridículas. E eles terminam enganados. A Biblia não é a única voz que devemos guardar? E não é o Espírito Santo nosso único mestre?"

Aqui está o que eu creio em relação a esse assunto:

  1. Como o Pai e o Filho, o Espírito Santo é um pessoa distinta, viva, poderosa, inteligente, divina. Ele não é uma pessoa em carne, mas em espírito, uma personalide com Seu próprio direito. E Ele dirige a igreja. Ele traz ordem divina, consola o ferido, fortalece o fraco e nos ensina as riquezas de Cristo.
  2. As Escrituras chamam o Espírito Santo de Espírito do Filho: “Enviou Deus ao nosso coração o Espirito de seu Filho” (Gálatas 4:6). Ele é também conhecido como o Espírito de Cristo: “qual a ocasião ou quais as circunstâncias...indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles estava” (1 Pedro 1:1). “E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele” (Romanos 8:9). Fica claro que o Espírito de Deus e o Espírito de Cristo são um e o mesmo. Cristo é Deus, e o mesmo Espírito emana de ambos. O Espírito Santo é a essência tanto do Pai quanto do Filho, e é enviado por ambos.
  3. Existe uma maneira de sermos protegidos contra o engano durante uma profunda oração de busca. Nossa proteção está no esperar. A voz da carne está sempre com pressa. Deseja gratificação instantânea, por isso não tem paciência. Está sempre focada em si mesma, e não no Senhor, sempre nos apressa a sair da presença de Deus.

Bem, a voz do inimigo é paciente, mas até certo ponto. Pode ser suave, doce, segura e lógica. Mas se a testarmos simplesmente esperando - ou seja, não agindo imediatamente, testando para ver se é a voz do Senhor - ela ficará impaciente e irá se expor. De repente se tornará feia e exigente, nos aprisionando e condenando. Aí podemos saber que não é a voz de Deus.

Por isso é que a Biblia diz continuamente, “Espera no Senhor... espera nele... espera.” É durante nosso esperar que essas outras vozes são expostas, ou se enfraquecem e dissipam. Devemos esperar, esperar, esperar, para que céu e inferno saibam que não desistiremos até que o Senhor tome o controle.

Vemos isso demonstrado em Jeremias 42. Um remanescente do povo de Deus foi até Jeremias buscar uma palavra de direção do Senhor. Então o profeta foi orar. Daí “ao fim de dez dias, veio a palavra do Senhor a Jeremias" (Jeremias 42:70). No décimo dia, Deus finalmente falou a Jeremias. O profeta havia esperado pacientemente até saber que estava ouvindo a voz de Deus.

Estamos protegidos também de outra maneira: devemos julgar tudo o que ouvimos pela Bíblia. E não devemos aceitar nada que não esteja de acordo com a Palavra de Deus.

Então, sim, prezado santo, tal andar é possível. Deve se tornar nossa obsessão santa.

Portuguese, International