Quando a Gente Não Sabe o Que Fazer

David Wilkerson

"O que você iria achar se o presidente da república, se dirigisse á nação em cadeia nacional de TV e anunciasse: "A verdade é que não sabemos o que fazer! Nossos líderes estão confusos, e não temos uma direção a tomar." Que discurso. O país inteiro iria se agitar pelo ridículo e pelo escárnio a que seriam lançados ele e sua equipe.

Mas isso é exatamente o que o rei Josafá fez. Três exércitos inimigos se aproximavam de Judá, e este poderoso líder convocou a nação para que se reunisse em Jerusalém para formular um plano de guerra. Ele precisava de planos, de uma declaração decisiva de ação. Algo teria de ser feito rápido. Mas em vez disto, Josafá se apresentou diante do povo e derramou seu coração a Deus em confissão: "Eis que nos dão o pago, vindo para lançar-nos fora da tua possessão, que nos deste em herança. Ah! Nosso Deus, acaso, não executarás o teu julgamento contra eles? Porque em nós não há força para resistirmos a essa grande multidão que vem contra nós, e não sabemos nós o que fazer; porém os nossos olhos estão postos em ti" (2 Crônicas 20: 11-12).

Que tipo de plano é este? Sem um programa, sem comissão executiva. Nada de bandeiras tremulantes, nada de máquinas de guerra brilhando, nada de brilhantes planos de guerra, nada de trombetas soando, nada de passar os patrióticos exércitos em revista. Apenas uma confissão simples: "Isto é maior do que nós; não sabemos o que fazer; então vamos simplesmente manter nossos olhos no Senhor." Resolveram se aquietar, admitiram sua confusão, e foram para o tudo ou nada. Não iriam a lugar algum, apenas chegariam mais perto de seu Senhor - não iriam procurar ajuda em nenhum outro, mas só nEle.

Soa covarde e ridículo? Tropas inimigas bem armadas os cercando, abutres enchendo os céus esperando a batalha começar - e eles apenas ficando juntos, louvando a Deus, admitindo não saber o que fazer - e contando só com Ele para livramento.

Atualmente, quando estamos em dificuldades, agimos como se estivéssemos dizendo: "Senhor, eu Te amo, mas já sei o que devo fazer." Quando o inimigo invade como uma enchente, entramos em pânico. Achamos que temos de fazer algo - fazer acontecer, ou produzir alguma coisa. Sentimos necessidade de ver coisas acontecendo, e nos achamos culpados caso não estejamos constantemente provando a Deus, o quanto desejosos estamos de fazer tudo que Ele nos peça.

1. Uma mãe divorciada fica preocupada pela insegurança de seu filhinho, desde que o pai deixou a casa. A criança não desgruda da mãe. Grita e chama o pai. Todo o amor com o qual a mãe o reveste não parece ser suficiente. O que faz esta mãe crente? Ela, em preocupação extrema, procura aconselhamento dos amigos, faz pesquisa em livros sobre educação de filhos em busca de soluções para o seu dia a dia, e diz para si própria: "Sou obrigada a dar um jeito nesta situação, antes que ela saia de controle."

Mas há um jeito melhor. É totalmente bíblico, para esta mãe, jogar as mãos para cima e gritar: "É muita coisa para mim; já fiz o possível; não sei a quem recorrer, e nem o que fazer! Ninguém pode me ajudar - então simplesmente vou ficar próxima de Jesus, fixar meus olhos unicamente nEle - e confiar que Ele vai cuidar de mim."

2. Um casal perplexo está prestes a desistir. Eles querem tanto dar 100% a Jesus - mas foram expostos à pregação legalista do medo, e acabaram ficando escravizados. Foram arrastados ao Movimento Carismático na esperança de achar alegria e preenchimento. Mas um pastor os advertiu: "Jesus diz que devemos ser perfeitos. Ele nunca nos pediria algo que não pudéssemos fazer. Dizer que se pode pecar um pouquinho cada dia, é engano." Outro pastor acrescentou: "Obediência adiada é desobediência. Qualquer desobediência pode lhe condenar." Agora o casal ficou preocupado com todas as coisas que se esqueceram de fazer, com suas imperfeições e com as lutas diárias com a carne - e sentem-se derrotados.

Há pouco leram uma carta-circular de um evangelista que advertia: "No dia do juízo, haverá muitos cristãos que foram à igreja três vezes por semana, oraram em línguas, profetizaram, deram aula na Escola Dominical, foram presbíteros - e que não poderão entrar no céu porque não leram a Bíblia e não oraram o suficiente. Deus se zanga com aqueles que pecam - todo dia. Ele está resolvido a puni-los eternamente. Não há esperança a menos que parem de pecar totalmente." Então, agora estão também preocupados quanto a terem ou não orado, dado, e lido a Bíblia o suficiente para agradar a Deus.

Estão vivendo em medo constante. Foi lhes dito diferentes coisas quanto ao seu medo - alguns dizem que um "demônio do medo" se infiltrou no meio deles. Outros disseram que foram culpados de terem feito uma "confissão errada" - e foram encorajados a "não aceitar o medo". Apenas "confesse a vitória", disseram - e tudo ficará bem.

A esposa disse: "Ficamos tão infelizes em nosso esforço de nos limparmos para Deus. Toda noite avaliamos o nosso dia, e sempre achamos que desagradamos a Deus porque, de algum modo, não conseguimos nos comportar do jeito certo, fazer a confissão certa ou fazer o certo. Prometemos sermos melhores amanhã. Mas é por essas coisas que nos dá vontade de desistir e não tentar mais. Perdemos a sensação de paz e de segurança. Isto não é a vida abundante - é medo. Será que a cruz de Jesus não significa mais do que isto?"

O que devem fazer? Eles ficam pensando: quem está certo? os carismáticos ou os batistas? Sua fé está abalada, e perderam o senso de direção. Qual mestre está certo? Todos eles parecem ter argumentos muito bons, e grande quantidade das escrituras para provar sua opinião. O que é santidade? - O que Deus espera de nós? Deus fez o suficiente para mim na cruz - ou devo criar coragem e na própria força desenvolver minha salvação com medo, e tremendo? É muito confuso!

Minha resposta: admita a sua confusão; não procure respostas adequadas à todas estas perguntas. Não saia procurando mestres para lhe dar soluções e respostas. Você não sabe o que fazer, ou onde ir? Ótimo! Excelente! Agora você está pronto para fazer a coisa à moda de Deus. Agora, você pode dizer com Paulo: "Decidi nada saber entre vós senão a Cristo, e este, crucificado." Pare de olhar os pastores e mestres - vá você mesmo ao Senhor! Ponha seus olhos sobre Ele, e com Josafá grite: "Meus olhos estão fixados em Ti!"

3. Um casal no estado de Iowa está tentando salvar o casamento. Estão casados há quinze anos, e os últimos cinco foram insuportáveis. Ambos têm esqueletos no armário - ambos são culpados de fazerem seus votos sem os levarem a sério. Ele a enganou, e ela, "quase". Há cinco anos tentam perdoar um ao outro. Mas o matrimônio agora não está preenchendo. Juram amor recíproco - mas ambos sabem que há algo errado. Não conseguem pôr o dedo na ferida. Estão sós, mesmo juntos. Não conseguem chegar um ao outro, e quanto mais tentam, mais frustrados ficam. Eles têm uma semana boa quando conseguem remendar tudo e se dar bem. Aí, de repente, tudo se arrebenta e a raiva silenciosa e o ressentimento assumem o comando. Ela chora até conseguir dormir - ele pensa em desistir. Por um lado, ainda são atraídos entre si - por outro lado, parecem ter alergia pelo outro. Já tentaram discutir seus problemas: prometeram coisas que não conseguiram cumprir; leram livros de ajuda; buscaram conselheiro conjugal. Mas nada produziu uma solução honesta. Ambos chegaram a um ponto sem retorno. Simplesmente não sabem o que fazer, ou onde arranjar ajuda.

Haverá solução? Eu acho que sim. Todos os casamentos - mesmo os bons - têm seus períodos de crise. Mas alguns casamentos jamais terão solução - a menos que haja um milagre genuíno. Quando duas pessoas tentaram tudo - quando fica claro para elas que não há onde buscar ajuda - quando a confusão e o pânico assumem o controle - é aí que Deus tem de intervir. Mais uma vez: tudo que você pode fazer numa crise destas é fazer como o rei Josafá. Não tenha medo da confusão. Você não é o único que está sem saída. Deus se especializa em casos "sem esperança". Deus assume o caso quando desistimos de tentar resolver nós mesmos. Este casal, com o matrimônio prestes a naufragar, tem de parar de procurar ajuda fora do Senhor. Eles devem transferir seus problemas e suas vidas para o Senhor e orar: "Deus, isto é maior do que nós. Já tentamos, e não conseguimos. Parece que não há jeito - então, simplesmente vamos nos pôr em Tua presença, e buscar ajuda unicamente em Ti. Ou Tu, Senhor - ou mais ninguém. Nossos olhos permanecerão fixos em Ti."

4. Leitor - você, também, enfrenta crises em que não sabe o que fazer - ou onde arranjar ajuda! Será que há uma crise financeira olhando bem em sua cara? A situação em seu lar está dilacerando seu espírito? Seus filhos têm lhe feito sofrer? - será que um filho lhe trouxe angústia? A doença ou a dor o levaram para o vale da morte? Perdeu o emprego? O seu futuro dá medo, e é incerto? Seu casamento está em dificuldades? A morte de um querido o deixou deprimido, só e esvaziado? Será que um divórcio lhe deixou sentindo-se rejeitado e fracassado?

Você está, neste instante, sentindo-se esmagado? Será que já tentou de tantas maneiras resolver a situação, e parece que nada adianta? Já cansou de tentar? Chegou ao fim da linha? Já disse ao coração: "Não sei mais o que fazer?"

Vivemos numa época em que tudo está abalado e inseguro - e quase todos sofrem, de um jeito, ou de outro.

Dificilmente alguém sabe o que fazer. Nosso líderes não têm a mínima idéia do que sucede no mundo - ou na economia. Todos ficam adivinhando o futuro.

O mundo dos negócios está ainda mais confuso - os economistas ficam discutindo o que deve acontecer. Não há um único executivo ou economista no mundo hoje que saiba, com certeza, o que virá pela frente.

Os psicólogos e psiquiatras ficam desconcertados com as alternantes forças que afetam as pessoas atualmente. Eles vêem a rotura de lares e de casamentos - e ficam tão confusos quanto os demais, quanto às razões de tudo isto acontecer. Os motivos que levantam, se contradizem mutuamente.

Até para os cristãos pode ficar confuso, hoje em dia. Os ministros nos advertem a enfrentar os problemas "procurando na Bíblia você mesmo; - achar a resposta." Mas a Bíblia nem sempre especifica: "Você deve fazer assim!" Nem sempre há uma resposta direta a um problema específico. Às vezes, a menos que o Espírito dê uma revelação especial, pode se ficar confuso com versículos que parecem, aparentemente, se contradizer. Num lugar você lê: "Vende os teus bens, dá aos pobres." Depois, você lê: "Se alguém negligencia sua própria casa, torna-se pior que o infiel, e nega a fé." Se você vendesse tudo e desse aos pobres, como teria como suprir para os seus?

Creia ou não, nem os maiores santos da história jamais entenderam totalmente a batalha entre a carne e o Espírito. Por que há tantas diferentes denominações? Por que tanta briga quanto à doutrinas? Por que tanta disputa quanto a batismos, doutrinações e princípios? Simplesmente porque, hoje ainda, o homem vive em trevas em relação à muitas coisas. No final das contas, todos nós chegamos ao ponto que chegou o rei Josafá. O inimigo ataca todos nós. Alguns colocam uma grande fachada, como se não tivessem medo, perguntas, problemas; mas eles, são os que intimamente, enfrentam as piores lutas. Muitas vezes, os que julgam todo mundo e parecem tão santos e justos diante dos outros, estão travando uma guerra contra a lascívia lá no íntimo.

Sim - todos temos dores, de um jeito ou de outro! Todos passamos necessidades! Todos chegamos à hora do pânico quando o coração grita: "O que faço agora?"

Algumas pessoas acham que eu não deveria confessar que eu, também, enfrento lutas. Mas em verdade, às vezes me encontro espiritualmente árido. Há ocasiões em que me vejo mergulhado nas trevas e na confusão. Com José, posso confessar: "A palavra me prova!" Mas não sou nem melhor, e nem pior do que qualquer leitor desta mensagem. Billy Graham está no mesmo barco. A mais santificada das pessoas sofre, também. Eu sei o que o rei Josafá estava enfrentando. Já passei por isso - quando, igualmente, tive de gritar alto: "Não sei o que fazer - então vou conservar meus olhos fixos nEle!"

Você não cruza os braços - e fica todo relaxado - deixando Deus fazer tudo!

Não é isto que significa conservar os olhos "fixos no Senhor." Olhamos para o Senhor, não como quem sabe o que fazer, mas como quem não sabe em absoluto o que deve fazer. Mas efetivamente sabemos que Ele é o Rei que manda e desmanda. Ele é o Senhor de tudo, e sabemos que mesmo se o mundo partir em dois, se tudo se arrebentar - Ele é a Rocha da segurança. Nossos olhos estão fixados em um Senhor ressurrecto. Se não sabemos o que fazer, a nossa fé nos assegura que Ele sabe o que fazer.

Dietrich Bonhoeffer, o teólogo alemão, pinta o cristão como alguém que tenta atravessar um mar de pedaços de gelo flutuantes. Este cristão não pode repousar em ponto nenhum da travessia, mas unicamente na fé de que Deus cuidará dele. Não pode se deter por muito tempo em nenhum lugar, ou afundará. Depois de dar um passo, vai precisar de cuidado para dar o próximo. Abaixo dele está o abismo, e diante dele, a incerteza - mas sempre à frente está o Senhor - firme e seguro! Ainda não dá para ver a terra, mas ela existe - uma promessa no coração. Assim o peregrino cristão mantém os olhos fixos no destino final!

Prefiro pensar na vida como uma jornada no deserto - como a dos filhos de Israel. E a batalha do rei Josafá, com os filhos de Judá, é também a nossa batalha. Com certeza é um deserto; sim, há serpentes, poços vazios, vales de lágrimas, exércitos inimigos, areais aquecidos, seca, montanhas impassíveis. Mas quando os filhos do Senhor se dispuseram para ver a Sua salvação, Ele preparou uma mesa neste deserto - choveu maná do alto, destruiu exércitos inimigos unicamente pelo Seu poder, fez sair água da rocha, removeu o veneno das picadas de serpentes - guiou-os através de uma coluna e uma nuvem, deu-lhes leite e mel - e os levou à terra prometida com Sua suprema e poderosa mão. E Deus avisou que deveriam transmitir à todas as gerações futuras: "Não por força nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos" (Zacarias 4:6).

Um repórter pediu que eu respondesse à uma pergunta sobre as pressões sobre a igreja vindas do serviço de Imposto de Renda, e de outras agências do governo. "O imposto de renda não está tentando taxar todos os ministérios evangélicos? Será que não vai chegar o dia em que o governo vai estrangular todo o trabalho missionário e evangélico? O que vocês vão fazer quando isso ocorrer, sendo que isto já está sendo planejado?"

Respondi: "Seremos forçados a voltar a fazer a obra de Jesus do jeito que Ele mesmo fez. Provavelmente vai chegar o dia em que eu e todos meus colegas ministros, vamos deixar de fazer evangelismo como um negócio, e retornaremos aos métodos do Novo Testamento. Serão tirados os métodos dispendiosos, e teremos de voltar a andar pelas ruas com os pecadores, como Jesus fez. Mas enquanto tivermos nossos olhos focalizados em Jesus, ninguém impedirá que Sua mensagem seja pregada."

Pare de procurar! Pare de buscar ajuda no lugar errado. Fique a sós com Jesus em um lugar secreto; fale com Ele de sua confusão. Diga-Lhe que você não tem mais aonde recorrer. Diga-Lhe que você confia unicamente nEle para resolver a situação. Você será tentado a resolver a coisa do seu jeito. Vai querer destrinchar tudo à sua maneira. Vai ficar pensando se Deus está mesmo agindo - pois não há sinal de coisa alguma mudando. Sua fé será testada até o limite. Mas nada mais está funcionando, mesmo - não há nada a perder. Pedro resumiu tudo: "Para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna" (João 6:68).

"Olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus..." (Hebreus 12:2).

"Olhai para mim e sede salvos, vós, todos os termos da terra; porque eu sou Deus, e não há outro" (Isaías 45:22).

"Eu, porém, olharei para o Senhor e esperarei no Deus da minha salvação; o meu Deus me ouvirá" (Miquéias 7:7).

"Não se atemoriza de más notícias; o seu coração é firme, confiante no Senhor" (Salmo 112: 7).

"Quem há entre vós que tema ao Senhor e que ouça a voz do seu Servo? Aquele que andou em trevas, sem nenhuma luz, confie em o nome do Senhor e se firme sobre o seu Deus" (Isaías 50:10).

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