As Tentações do Justo

“A seguir, foi Jesus levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo” (Mateus 4:1). Que versículo incrível. Mateus ousadamente declara que o Espírito de Deus levou Cristo para uma experiência no deserto, onde teria de sofrer fortes tentações.

Ainda mais surpreendente é que este versículo segue-se à uma cena de grande glória. Jesus havia acabado de ser batizado no Jordão. Ao sair da água, os céus se abriram, e o Espírito veio sob a forma de uma pomba e pousou em Seu ombro. Aí uma voz vinda dos céus declarou: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mateus 3:17).

Talvez você fique imaginando: se Deus se comprazia tanto em Jesus, declarando ao mundo todo que este era o Seu filho amado, por que então levou Cristo à uma experiência no deserto?

Quero lhe lembrar que Jesus é o padrão para as nossas vidas como crentes. João escreve: “...segundo ele é, também nós somos neste mundo” (I João 4:17). Além disso, “foi ele tentado em todas as cousas, à nossa semelhança” (Hebreus 4:15). A mensagem das Escrituras é clara: todos que estão em Cristo - o “Amado” de Deus, sobre o qual Seu Espírito repousa - passarão por uma experiência de provação no deserto, assim como foi com Jesus. E esta experiência será acompanhada de tentações satânicas.

Note: este princípio não se aplica a crentes mornos, ou com coração frio. Estas provações só vêm sobre aqueles que andam no Espírito em comunhão com o Senhor. Em verdade, quanto maior for a paixão da pessoa por Jesus, mais intensas serão suas provações no deserto.

Contudo, quando o Espírito Santo nos leva para o deserto, Deus tem em mente um propósito eterno para nós. Não se engane, porém -- Deus não nos tenta. É o diabo que faz a tentação: “Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta” (Tiago 1:13).

Para descobrir qual é o propósito de Deus para nós na experiência no deserto, precisamos examinar a experiência de Cristo. Fora do deserto as multidões enfrentavam suas próprias tentações. Estas tentações eram as comuns, e tinham a ver com ambição, adultério, violência, roubo, bebida, jogo. Estas pessoas viviam em plano inferior em todos os sentidos.

E Jesus se mantinha acima de tudo isto. Ele não seria tentado por pecados tão grosseiros. Por Ele ser justo, amado, escolhido, suas tentações chegariam a um nível mais elevado. Elas seriam muito mais profundas, misteriosas, e intensas que os pecados habituais da vida. Suas tentações seriam na esfera do espiritual -- e teriam conseqüências eternas.

O mesmo é verdade hoje para nós. Uma pessoa verdadeiramente espiritual não é tentada na linha da carnalidade declarada. Por exemplo, ela provavelmente não será tentada a dar uma escapada a um bar para beber, ou arranjar um quarto de hotel para fornicação com uma prostituta, ou cobiçar a mulher do próximo. E nem irá sequer pensar em jogos de azar, uso de drogas ou em falar palavrões.

Pelo contrário, seu desejo diário é o de se aproximar do Senhor. Ele torna Jesus o Senhor de toda sua vida - devora a cada dia a Palavra de Deus, busca-O em oração. Sua alma clama: “Senhor - quero me aprofundar em Ti. Quero andar mais junto a Ti do que nunca.”

Isso lhe descreve? Se é assim, as suas tentações serão mais do tipo que Cristo suportou. Elas terão a ver com a sua obediência a Deus, e com a dependência à Sua Palavra. E Satanás fará tudo que estiver ao seu alcance para lhe tentar. Ele quer lhe afastar do objetivo que Deus tem para você. Ele vai tentar questionar o seu chamado, e lhe convencer que a aprovação e a bênção de Deus sobre a sua vida são mentira.

No instante que Jesus ficou fisicamente vulnerável, o diabo trouxe a primeira tentação. As Escrituras dizem o seguinte sobre Cristo: “E, depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites, teve fome. Então, o tentador, aproximando-se, lhe disse: Se és o Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pão” (Mateus 4:2-3).

Não é pecado ter fome. Então, qual é o problema aqui? Satanás estava desafiando Jesus: “Se és inteiramente Deus, então tens em Ti o poder de Deus. E nesse momento, estás em grandes dificuldades. Por que não usas o poder que Deus Te deu para resolver o problema? Ele não Te deu o poder para ver se o usarias corretamente?

Tu nada fizestes para ser colocado nesta situação adversa. E sabes que Deus não gosta de ver Seus filhos sofrendo. Então, não precisas agüentar isso por nem mais um minuto. E não há nada errado em se atender às próprias necessidades. Simplesmente pronuncie a palavra, e ordene Sua saída desta situação.”

Esta é uma das tentações mais insidiosas que vêm sobre as pessoas realmente de Deus. Assim como o nosso exemplo, Jesus, você é apaixonado por Deus. Você determinou em seu coração ser totalmente submisso a Ele. Então o Senhor o leva à uma experiência no deserto - e você agüenta um longo período de provação e aridez. Depois de um certo tempo, vêm as perguntas. Você começa a se desorientar, se questionando sobre os propósitos eternos de Deus para a sua vida. E ao tentar orar e conquistar a vitória, as tentações de Satanás parecem mais terríveis do que nunca.

Esta foi a experiência de Davi. O Espírito Santo levou este homem piedoso à uma prolongada experiência de deserto. Com o tempo Davi ficou tão desencorajado, que achava que o mundo inteiro havia enlouquecido. Ele clama: “...já não há homens piedosos; desaparecem os fiéis entre os filhos dos homens” (Salmo 12:1). “Falam com falsidade uns aos outros...falam com...coração fingido”(12:2).

Davi entrou em aflição por tanto tempo que ficou zonzo de tanto desespero. Disse: “Até quando estarei... com tristeza no coração cada dia?” (Salmo 13:2). E ficou imaginando quando isso iria acabar: “Até quando, Senhor? Esquecer-te-ás de mim para sempre? Até quando ocultarás de mim o rosto? Até quando estarei eu relutando dentro em minha alma, com tristeza no coração cada dia? Até quando se erguerá contra mim o meu inimigo?” (13: 1-2). Ele estava perguntando a Deus: “Senhor, por que tenho de enfrentar uma batalha na alma tão profunda e inexplicável? E até quando vai durar? Vou ter de dar um jeito nisso sozinho? Não consigo descobrir o porquê de tudo.”

No Salmo 35, Davi fala de uma armadilha que seus inimigos lhe prepararam: “Sejam confundidos e cobertos de vexame os que buscam tirar-me a vida...Pois sem causa me tramaram laços, sem causa abriram cova para a minha vida” (Salmo 35:4,7). Que laços são esses?

É a mesma tentação que Satanás lançou contra Jesus. O inimigo quer que você aja independentemente do Pai. Quando você está em meio à batalha, o diabo diz: “O seu sofrimento não vem de Deus. Você não tem de agüentar isso. Você possui em si o poder de Deus, através do Espírito Santo. Então você não tem de agüentar isso mais um dia. Simplesmente ordene seu livramento. Diga a palavra - liberte-se dessa agitação. Satisfaça sua fome.”

O primeiro esquema de Satanás foi o de criar perda de poder. Ele esperava que Deus não atendesse, caso Jesus pedisse pão. Se faltasse o poder do céu, então Cristo poderia duvidar de Sua própria divindade e se desviar de Seu propósito eterno na terra.

Segundo, Satanás sabia que Jesus foi enviado para cumprir só o que o Pai lhe mandasse. Então ele intencionava convencer Cristo a desobedecer aqui para o Seu próprio benefício. Deste jeito, se Jesus usasse o Seu poder naquela hora para evitar o sofrimento, Ele poderia fazer o mesmo mais tarde para evitar a cruz.

O diabo tem usado esta mesma tentação com multidões de seguidores de Cristo. Estes crentes eram verdadeiramente famintos por Deus. Eram ungidos, cheios de oração, cheios do poder do Espírito Santo. Mas então foram levados para o deserto do sofrimento, da necessidade e do desespero. E Satanás os tentou, levando-os a duvidar de que a provação era conduzida por Deus, e levando-os a usar o poder de Deus para se salvar.

O inimigo cochichou: “Você está cansado dos problemas de dinheiro. E Deus não está respondendo nenhuma oração sua. Todo dia você se desespera com o sofrimento que vem sobre você e a família. E agora você não agüenta mais.

“Você está com a palavra de Deus no coração. E Ele lhe deu poder através do Espírito Santo. Por que não exercer este poder para acabar com o sofrimento? Apodere-se da promessa de Deus, e declare a saída desta dor, já. É para uma boa causa.”

Eles acreditaram na mentira de Satanás. E procuraram se apoderar de uma única promessa de libertação, para tentar acabar com o sofrimento. Pararam de confiar, e invés disso começaram a “ordenar” que as finanças ficassem do jeito que queriam. Mas suas ordens não foram validadas pelo Espírito Santo - e os seus planos fracassaram.

Aí então fizeram a coisa à sua maneira. Ultrapassaram os valores do cartão de crédito e fizeram empréstimos. Foram fazendo cada vez mais dívidas, se vangloriando o tempo todo: “Deus está me abençoando.” Mas no final das contas, tudo explodiu. Foi aí que ficaram amargurados. No final, desistiram da Palavra de Deus e se desviaram. Vi isso acontecer um sem número de vezes.

Estas pessoas acabaram abortando o propósito de Deus para a provação. O Senhor havia desejado levá-los à dependência e à confiança absolutas nEle. Ele queria que as lutas os despojassem de toda confiança no homem e na capacidade própria. Ele também queria produzir neles uma paixão semelhante à de Cristo para com os que estivessem sob sofrimentos iguais. As Escrituras dizem que estes eram os propósitos de Deus até para o Seu próprio filho: “embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas cousas que sofreu”(Hebreus 5:8). “Pois, naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados” (2:18).

Então, como Jesus respondeu à tentação do diabo? “Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mateus 4:4). Cristo disse em essência: “A minha vinda à terra não foi para satisfazer às minhas necessidades, dores ou para o meu conforto físico. Eu vim para dar à humanidade - não para salvar a Mim mesmo.”

Nem mesmo ao chegar ao ápice do sofrimento Jesus perdeu de vista o Seu propósito eterno. E se o nosso Senhor aprendeu a dependência e a compaixão através de uma experiência no deserto, assim será conosco. Em verdade, os crentes que eu sei que possuem a genuína compaixão de Cristo, são aqueles que suportaram o sofrimento e saíram com o testemunho da fidelidade de Deus. Eles podem dizer com Paulo: “eu trago no corpo as marcas de Jesus” (Gálatas 6:17).

Quando Jesus estava no ponto mais alto do templo, Satanás cochichou para Ele: “Vá em frente - pule. Se és verdadeiramente Filho de Deus, Ele Te salvará. A Palavra dEle diz que os anjos se acampam em torno de Ti para proteger, para que nunca Te machuques” (ver Mateus 4:5-6).

Você percebe Satanás dando voltas nestas frases? Ele separa uma promessa isolada das Escrituras - e tenta Jesus a lançar toda a Sua vida sobre ela. Ele sugere: “Dizes que Deus está contigo. Tudo bem, prove isso. O Pai já permitiu que eu lhe perturbe. Onde está a presença dEle nisso? Podes provar que Ele está contigo agora mesmo saltando daqui. Se Deus está contigo, Ele providenciará uma descida suave. Então podes basear Tua confiança nisto. Se não, podes também morrer, em vez de ficar imaginando se terias sido deixado ao léu ou não. Tu precisas de um milagre para provar que o Pai está contigo.”

Outra vez Davi suportou opressão semelhante. Ele havia testemunhado ao mundo a fidelidade de Deus para com ele. Agora, porém, se via num poço de desespero. E Satanás chegou acusando e provocando: “Olhe para você; está arrasado e nem sabe porquê. Você diz que Deus é fiel, porém está espiritualmente acabado. Você ora dia e noite, mas todo dia se levanta com uma vontade inexplicável não atendida.Onde está Deus nisso tudo?”

Davi clama: “os meus adversários me insultam, dizendo e dizendo: O teu Deus, onde está?” (Salmo 42:10). A seguir acrescenta estas palavras ao clamor: “Ilumina-me os olhos, para que eu não durma o sono da morte; para que não diga o meu inimigo: Prevaleci contra ele; e não se regozijem os meus adversários vindo eu a vacilar” (13:3-4).

A batalha que agitava a mente de Davi é comum a todas as pessoas piedosas. Às vezes Deus parece estar em silêncio. Podemos nos ver em lutas que não compreendemos. Como Davi, suplicamos: “Até quando, Senhor? Quando vais me mostrar uma prova de que estás comigo? Por favor, me envie um sinal, uma amostra.”

Neste ponto, você deve estar pensando: “Qual é o mal de se lançar nas promessas de Deus? A Bíblia diz que todas as promessas de Deus são 'sim e amém' para os que crêem” (ver 2 Coríntios 1:20). Realmente, somos livres pelas fiéis promessas de nosso Deus.

Mas há um sério perigo para a pessoa que separa um versículo do resto das Escrituras e lança toda sua fé sobre ele. Dou um exemplo. Conheço uma senhora que estava em total desespero com as finanças. Ela precisava de uma série de milagres simplesmente para sobreviver. Então ela colocou toda a fé em uma só promessa bíblica: “Trazei todos os dízimos à casa do Tesouro, para que haja mantimento na minha casa; e provai-me nisto, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu e não derramar sobre vós bênção sem medida” (Malaquias 3:10).

Esta senhora começou a dar o dízimo fielmente, achando que seria abençoada financeiramente em retorno. Mas não funcionou. Então ficou zangada com Deus, clamando: “Fiz o que manda a Palavra de Deus. Coloquei minha confiança em Sua promessa, dando o dízimo com fidelidade. Mas agora a situação ficou pior do que antes. Deus trancou as janelas do céu para mim.”

Esta mulher se lançou do templo e descobriu que não havia rede. O diabo com sucesso destruiu sua fé. Como? Ele a convenceu a ignorar o aconselhamento conjunto das Escrituras.

Sim, Deus realmente promete abrir os céus para os que dão. Mas Ele também requer uma certa condição dentro do coração dos dizimistas: “Quando os céus se cerrarem, e não houver chuva, por ter o povo pecado contra ti...” (2 Crônicas 6:26). Esta senhora nunca tratou com outras passagens que exigem a necessidade de perdoar. Ela abrigava inveja e ciúme no coração.

A maioria das falsas doutrinas, dos erros e das seitas religiosas nascem destas tentativas enganosas. Quando as pessoas tentam separar uma promessas das Escrituras, querem forçar Deus a se provar a Si próprio sendo fiel àquela promessa. Contudo ignoram o resto que as Escrituras pedem na área em que fazem os pedidos. Esta é a razão da resposta prévia de Jesus a Satanás: “Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mateus 4:4).

Bem - no topo do templo, considero profundo o fato de Deus ter permitido que Seu Filho fosse levado a um ponto de decisão tão perigoso. E, por Jesus ser inteiramente humano e inteiramente Deus, Ele deve ter feito Suas perguntas. Teria Ele pensado: “Pai, sei que me chamastes para que eu desse a vida. E alegremente aceito isso. Mas onde estás nesta hora? Por que permitistes que eu fosse colocado numa provação destas?”

Como respondeu Jesus? Ele declara: “...está escrito: Não tentarás o Senhor, teu Deus” (Mateus 4:7). O que Jesus quer dizer exatamente com “tentar a Deus” aqui?

O Israel antigo é um exemplo. Dez vezes o Senhor se provou fiel aos israelitas em suas provações. E em todas as dez ocasiões, o povo de Deus recebeu prova visível de que o seu Senhor estava com eles. Contudo, toda vez o povo fazia a mesma pergunta: “Está Deus entre nós ou não?” Deus chama isso de “tentá-Lo”. Houvera Deus permitido, não teria havido fim nessa busca de “prova”.

Agora Jesus usa esta mesma frase - “tentar a Deus” - na resposta a Satanás. O que isso nos diz? Isso nos mostra que é um sério pecado duvidar da proximidade de Deus em nossas lutas. Não importa o quão derrubados estejamos, ou o quanto é pequena a evidência que temos da presença de Deus, não podemos questionar se Ele está conosco.

Com muita freqüência, os cristãos colocam Deus à prova em suas experiências no deserto. Dizem: “Senhor, não vou conseguir a menos que mostres uma prova de que estás comigo. Satanás está me acusando, e não consigo deixar de pensar que ele está ganhando a parada. Estás comigo ou não? Se Tu não me livrares rápido, ou se não me deres um sinal da Tua bênção, vou parar de lutar.”

Porém, assim como com Israel, Deus já nos deu uma enormidade de provas. Primeiro, temos na Sua Palavra múltiplas promessas da proximidade dEle conosco. Segundo, temos a nossa própria história pessoal com Deus - o testemunho das muitas libertações que Ele operou em nossas vidas. Terceiro, temos a Bíblia repleta de testemunhos da presença de Deus ao longo dos séculos de lutas e dificuldades. Sem dúvida o nosso Senhor já se provou a nós uma vez após outra. Mas ainda exigimos uma prova física - caso contrário.

A Bíblia é clara: devemos andar com Deus pela fé e não pela vista. Caso contrário, iremos acabar como um Israel incrédulo.

Sobre o monte, Satanás tentou Jesus com esta oferta: “Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares” (Mateus 4:9). Isso soa tão absurdo, tão ridículo; como poderia alguém achar que fosse tentação? Satanás realmente acreditou que Jesus seria tentado por isso?

Acredite ou não, foi uma oferta poderosa e atraente. Satanás estava desafiando Jesus dizendo: “Deus Te chamou para entregar a vida por um mundo perdido. E agora viestes para libertar os prisioneiros das minhas mãos. Jesus, quero Te dizer uma coisa: Tu podes fazer tudo isso agora mesmo, num segundo.

“Eu prometo que se apenas Te curvares aos meus pés, num ato único de adoração, eu cesso a luta. Abro mão de todo o poder sobre estes reinos. Não possuo e nem escravizo mais ninguém. Acabam a escravidão demoníaca, o assédio vindo dos meus principados e potestades. Sei que amas a humanidade o suficiente para Te tornar amaldiçoado por Deus em favor deles. Então, por que esperar? Tu podes Te sacrificar agora mesmo, e libertar o mundo a partir deste instante.”

Isso na verdade repete as palavras do apóstolo Paulo: “ porque eu mesmo desejaria ser anátema, separado de Cristo, por amor de meus irmãos, meus compatriotas, segundo a carne” (Romanos 9:3). Aqui Satanás estava trabalhando na compaixão humana de Cristo. Estava tentando Jesus com uma visão de um mundo onde o diabo abdicaria de governar os ímpios -- tudo em troca de um ato.

Por que Satanás estava querendo deixar todo o seu poder por isso? Mais uma vez, ele estava tentando salvar a própria pele. Satanás sabia que seu destino eterno seria selado no Calvário. Então, se ele simplesmente conseguisse evitar que Jesus fosse para a cruz, poderia se livrar deste destino. E convencendo a Cristo a desistir agora, a cruz poderia nunca acontecer. O diabo estava dizendo basicamente: “Seja amaldiçoado, Jesus, para salvar o mundo já.”

Você pode estar pensando: “O que isso tem a ver comigo?” Respondo que Satanás ainda continua tentando o justo oferecendo a mesma coisa. Explico.

Primeiro, Satanás sabe que os crentes consagrados nunca se dobrarão a ele para realizar qualquer ato de adoração. Então, por isso ele chega à nós com ameaças e acusações. Ele diz: “Você não precisa me adorar - pois já tenho acesso à sua carne. Conheço todas as suas fraquezas e tendências. Eu as tenho alimentado desde a sua infância; e posso lhe atormentar com isso à vontade.

“Não há vitória para você na cruz. Todas as promessas da aliança são mentira. Detenho o controle absoluto sobre a sua natureza adâmica, aquele pecado que habita em você. Já lhe provei isso várias vezes. Você sabe que eu posso lhe subjugar à hora que eu quiser, quando você menos espera.

“Então, vá em frente e testifique da sua liberdade em Cristo. No momento em que estiver cantando o maior dos louvores, dominarei sua mente com o mal. Vou levar o pecado a você de um jeito tão poderoso, que você entrará em desespero por estar livre. Você não tem poder. Até mesmo agora você cede à mais leve tentação.”

Conheço ministros que estavam libertos da escravidão ao pecado há décadas. Aí, mais tarde na vida, numa hora de grande unção ou de bênção, a velha lascívia apareceu. O inimigo a colocou diante deles para tentar lhes amedrontar e produzir pensamentos de condenação. Isto aconteceu comigo algumas vezes durante o ministério. O inimigo me perseguiu com maus pensamentos e me disse que a aliança era mentira - que eu era impotente contra o domínio do pecado, e que ele iria sempre se levantar em mim.

Como devemos responder às acusações de Satanás? “Resisti ao diabo, e ele fugirá de vós” (Tiago 4:7). Não importa quantas tentações Satanás lança contra você. Você não precisa ter medo de nenhum pecado do passado. Se o sangue de Cristo cobriu este pecado, então o diabo não pode fazer coisa alguma para separá-lo do Pai.

É claro que você sempre possuirá a natureza pecaminosa habitando em si. E sempre enfrentará bruscas surpresas do pecado. Mas o Espírito Santo é fiel para dizimar antigas luxurias, quando O invocamos para mortificá-las. Ele não permite que elas nos destruam. As promessas da aliança de Deus nos libertam do poder e do domínio do pecado.

Imagine você chegando até Jesus no quadragésimo primeiro dia - o dia imediatamente após as tentações no deserto. A face dEle brilha, pois anjos refrigeraram Seu espírito. Ele se rejubila, louvando o Pai, pois conquistou grande vitória; venceu as tentações do inimigo.

Você vê Jesus exsudando vida e confiança. Ele agora está pronto para enfrentar os poderes do inferno. Então, com ousadia sai a caminho das grandes cidades que jazem nas trevas. Ele prega o evangelho, seguro da Palavra de Deus. E cura os doentes, sabendo que o Pai está com Ele.

Agora, examinando sua própria vida, você vê exatamente o oposto. Você ainda enfrenta sua árida experiência no deserto; suportou ardorosos ataques de Satanás, e a alma está destroçada. Você não consegue evitar o pensamento: “Jesus nunca passou por provações como as minhas. Ele estava acima de tudo isto.”

Você vai à igreja com a cabeça deste jeito - tentado, testado, desesperado. E agora na sua frente está o pastor - um homem que parece forte na fé. Ele fala de um jeito tão seguro da presença de Deus, como se houvesse acabado de receber visita de anjos ministradores. Você pensa: “Ele nunca passou por problemas como os meus.”

Se você soubesse. Você não viu quando Deus chamou este homem para o ministério. O Espírito Santo lhe trouxe um chamado glorioso - e imediatamente o levou ao deserto para ser tentado de maneira tremenda. Você nem sabe dos dias, semanas e meses em que foi afligido por uma fome profunda de Deus, que não se satisfazia. Você jamais experimentou as mentiras que Satanás colocou na cabeça desse homem, os maus pensamentos que foram incutidos nele algumas vezes. Você não o viu nos dias em que ficou reduzido à nada, destroçado no desespero. E você não percebe que muitas vezes seus melhores sermões vieram das provações na própria vida.

Paulo nos previne a não medirmos nossa justiça com aquela que achamos ser a do outro: “Porque não ousamos classificar-nos ou comparar-nos com alguns que se louvam a si mesmos; mas eles, medindo-se consigo mesmos e comparando-se consigo mesmos, revelam insensatez” (2 Coríntios 10:12).

Não conseguimos ler o coração dos outros. Quem teria dito no quadragésimo primeiro dia que Jesus havia acabado de sair de uma longa e terrível tentação? Quem poderia dizer que a glória que viam nEle brotava de um combate pior que qualquer outro que poderiam um dia enfrentar? Temos de olhar só para Jesus. E temos de depender só da justiça e da santidade dEle. Ele deu a todos nós acesso idêntico a isso.

Deus o ama nas horas das provações. O próprio Espírito dEle levou você para o deserto. No entanto, o Seu próprio Filho já esteve lá -- e Ele sabe exatamente o que você está passando.

Permita que Ele complete a obra de edificá-lo para dependência e confiança absolutas nEle. Você sairá com confiança -- piedosa compaixão, e força para ajudar outros.

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