Um Espírito Diferente
Números 13 contém uma lista de nomes com os quais todo cristão deveria estar familiarizado. Veja se você reconhece algum dos seguintes: Samua, Safate, Igal, Palti, Gadiel, Amiel, Setur, Nabi ou Guel.
Está tendo problemas em reconhecê-los? Não se preocupe – seria incomum se você conhecesse esses nomes. Eles são os espias enviados por Deus para vasculhar a terra prometida. Quando digo que deveríamos estar familiarizados com esses nomes, a culpa não é nossa – é desses homens.
A Bíblia nos conta que cada um deles era líder em sua tribo. Eram conhecidos como homens de habilidades extraordinárias, de poder, autoridade, sobressaindo-se sobre os outros. Evidentemente foram fáceis de serem escolhidos para esse tipo de missão. Então, por que seus nomes caíram no esquecimento?
Posso responder isso com duas palavras: Josué e Calebe. Estes são os dois nomes que lembramos desse episódio das escrituras. Só eles retornaram da missão com “informação boa”. Os relatos dos outros espias estavam baseados no medo; alertavam para não se entrar em Canaã devido às tribos terríveis que ali habitavam. Mas Josué e Calebe instigaram Israel a se mover em fé sabendo que Deus prepararia o caminho.
O que fez Josué e Calebe agirem diferente dos outros? A resposta é encontrada nas palavras de Deus a Moisés: “Meu servo Calebe... nele houve outro espírito, e... perseverou em seguir-me” (Números 14:24).
Devo apontar que esmagadora maioria dos israelitas estava pronta para concordar com o conselho dos outros dez espias. Tinham medo de serem massacrados pelos poderosos inimigos em Canaã. Como Deus reagiu a isso?
O Senhor ordenou aos dez espias e a todos que concordavam com eles: “Tornai-vos amanhã, e caminhai para o deserto em direção ao Mar Vermelho” (14:25). Em outras palavras, “Vocês escolheram voltar para o deserto. E com essa escolha se recusam a herdar a terra que prometi a vocês”.
“Não entrareis na terra, pela qual jurei que vos faria habitar nela, salvo Calebe... e Josué. Mas as vossos filhos, de que dizeis: Por presa serão, farei entrar nela, e eles conhecerão a terra que vós desprezastes” (14:30-31).
Há uma mensagem clara aqui para todos que seguem a Jesus. É essa: se não buscarmos ser de “um espírito diferente”, a nossa escolha terá um efeito adverso em nossa comunidade inteira. A escolha de vagar em um deserto de “fé diminuída” não machuca somente a nós, mas também aqueles ao nosso redor. Nossos filhos estão especialmente em risco. Muito embora Deus não cobre deles os nossos pecados, eles são profundamente afetados por nossas escolhas pecaminosas.
Que lição dura. Contudo, existem inúmeros cristãos hoje que são exatamente como aqueles israelitas. Tais crentes estão satisfeitos em vagar em um deserto de fé baseada no medo. O único desejo deles é se fundir à multidão na igreja. Eles dizem para si mesmos, “Cristianismo radical não é para mim. Só quero ser fiel à minha comunidade de fé e à minha família. Isso é assim tão errado?”.
Números 14 se dirige a esse tipo exato de pensamento. Deus diz aqui, em essência, “Se prometi algo a vocês, proverei um caminho para que o obtenham. Todavia por sua própria escolha vocês recusaram o que ofereço. Portanto, vocês jamais herdarão o que prometi. Vocês estão destinados a vagar em um deserto que escolheram para si mesmos”.
Claramente, havia algo em Josué e Calebe que os separava dentre sua comunidade de fé. E essa diferença era clara aos olhos de Deus. O que era? O que o Senhor quis dizer ao falar que esses homens eram “de um outro espírito”? E como é isso em um crente de hoje?
Quero primeiro ver o que um espírito diferente não é
O tipo de espírito diferente que Deus está procurando não pode ser manufaturado pela carne. Não se trata de uma força, uma coragem, de zelo ou determinação exteriores. Os dez espias de Israel tinham todas essas coisas – de fato, suas tribos tinham-nos escolhido por essas mesmas qualidades. Obviamente, Deus estava procurando outra coisa.
Então, o que torna um espírito “diferente” aos olhos de Deus? Não é uma personalidade “tipo A”, alguém que segue adiante ousadamente segundo sua própria visão e ambição. Se esse fosse o caso, os dez espias teriam cumprido o serviço. Muito cristão tipo A hoje avança ousadamente, mas segundo sua própria visão. Isso não agrada nem um pouco a Deus.
Sansão é um exemplo desse tipo de crente. Ele tomou o voto de nazireu, o qual chamava por um estilo de vida estritamente religioso. Sansão não poderia permitir que uma navalha tocasse seu cabelo e se recusaria a beber vinho. Ele consagrou toda sua força a servir a Deus, e combater os inimigos de Israel com zelo.
No entanto Sansão tolerava certas coisas da carne em si mesmo. Ele frequentemente se voltava para caminhos ímpios e com negligência aceitava coisas que claramente desagradavam a Deus. (Por exemplo, ele frequentava prostíbulos.) Em suma, Sansão tinha a forma de um espírito diferente – mas seu coração não era entregue a Deus por inteiro. Ele era de todo muito propenso a se afastar dos caminhos de Deus e não tinha remorso algum quanto a isso.
Em contrapartida, veja Barnabé. Não há nada por fora que diga que esse gentil homem era de um “espírito diferente”. Ele não era o tipo a ferro e fogo que associamos a uma fé ousada, como um Josué ou Calebe. Pelo contrário, Barnabé era um pacificador. Seu nome significava “encorajamento”, e não “guerreiro espiritual”. Sejamos honestos: poucos de nós colocaríamos Barnabé na mesma categoria que Josué ou Calebe.
Entretanto Barnabé era muito de um espírito diferente aos olhos de Deus. Como? Veja sua atitude vital com o apóstolo Paulo e o pupilo deles, Marcos. Paulo estava frustrado com Marcos, que havia abandonado o ministério deles no meio de uma viagem missionária crucial. Agora Marcos queria voltar junto deles.
Mas Paulo recusou tomá-lo de volta. Ele argumenta dizendo, “Precisávamos ter impacto em certas cidades, mas a partida de Marcos nos deixou com mão de obra escassa. O evangelho foi menos eficaz lá por causa dele. Não vou permitir que ele volte de jeito nenhum”.
Barnabé insistiu, “Paulo, o jovem precisa de outra chance. Ele precisa de nossa bondade. Não se trata do nosso sucesso. Trata-se de treinar Marcos para se tornar um servo fiel”. Em suma, ele se opôs a Paulo. E quando Paulo se recusou a ceder, Barnabé o deixou, dizendo, “Isso não está certo aos olhos de Deus. Vou com Marcos”. Isso é um homem de um espírito diferente.
Eis aqui algo mais que era diferente quanto a Barnabé. Ele era o mesmo homem que foi até Paulo logo após sua conversão, quando todos ainda temiam o grande perseguidor de Israel. Poucas semanas antes, Paulo respirava ameaças de morte contra a igreja. Mas Barnabé teve a ousadia do Espírito de confiar no que outros não confiavam: que Deus queria usar Paulo poderosamente. Para tanto, ele colocou a própria vida em risco.
Simplificando, o “espírito diferente” de Barnabé não tinha nada a ver com ser uma personalidade tipo A. Ele ilustra que você pode ser uma pessoa quieta, suave e ainda ter o que Josué e Calebe tinham. De fato, o Espírito Santo anseia cair sobre todo tipo de crente para tornar Cristo conhecido ao mundo.
Você pode protestar, “Isso ainda não me inclui. Sei que Deus pode usar pessoas calmas, mas meu problema é diferente. Tenho alcoolismo nos meus antecedentes. Combato a depressão diariamente. Como posso ser de um espírito diferente quando peno para conseguir acabar o dia?”.
Lembro-o: Deus não é respeitador de pessoas. Para Ele não importa se você tem problemas sérios ou problemas pequenos. O Espírito dEle está aguardando para cair sobre você e enchê-lo para Seus propósitos. Não importa qual seja seu estado, Deus tem Seus olhos sobre você.
Além disso, é trabalho para Deus – não seu – torná-lo de um espírito diferente. Quando Ele o faz, as pessoas perguntarão, “O que aconteceu com você?”. Você será capaz de responder “Jesus aconteceu comigo” - e isso agradará e será prazeroso a Deus.
Vou lhe oferecer uma ilustração de dois jovens cristãos
Os dois jovens que quero lhe falar aqui são espécimes de cristãos que todos nós conhecemos.
Ben veio a Cristo quando adolescente através de um ministério no colegial. Ele cresceu na fé e levou seus amigos a Cristo. Posteriormente Ben juntou-se a equipe do ministério e conheceu sua futura esposa lá. Eles se casaram, tiveram filhos e serviram no ministério infantil na igreja.
Com o tempo, Ben ficou cada vez mais ocupado com seu emprego, e sua paixão espiritual começou a diminuir. Ele ainda orava, lia a Bíblia, ia à igreja e servia no ministério, mas pouco a pouco ele se afastou da intensidade espiritual que tivera outrora. Quando isso aconteceu, Ben começou a racionalizar: “Aquele tipo de zelo era para meus dias no grupo da mocidade. Estar 'em chamas para Deus' simplesmente não é para esse período atual da minha vida. Agora eu tenho responsabilidades. Um marido e pai não pode se dar ao luxo de ter uma 'fé radical’. Tenho de mostrar moderação, pois outros dependem de mim”.
Depois disso, Ben passou a ser condescendente quanto ao pecado, tanto quanto aos seus quanto aos dos outros. Mais uma vez ele raciocinava dizendo “Todos erramos por modos diferentes. Pelo menos não cometo pecados grosseiros”. Pior de tudo, ele começara a se contentar com menos em sua vida com Jesus. A ideia de correr atrás por mais em Cristo não entrava mais em sua mente. Ele perdera a oração fervente de sua mocidade quando orava pedindo “Senhor, sinto que estou me afastando. Restaure minha paixão pelo que Lhe agrada”.
Ben também questionava as escolhas dos outros em servir a Deus. Ele via jovens indo para o ministério, e dizia a si próprio que essas escolhas no fundo eram em causa própria . Ben não tinha ideia de que sua própria condescendência espiritual conduzira à inveja, fazendo com que ele julgasse aos outros erroneamente.
Simplificando, a vida de Ben era abençoada – mas ele mesmo não era mais uma benção. A Bíblia descreve esse estado particular muito claramente: “ainda sois carnais” (1 Coríntios 3:3). Quando Paulo escreveu isso, ele estava se dirigindo a cristãos veteranos que deveriam ser maduros em Cristo. Ao invés disso, eles permaneciam como “crianças espirituais”: “E eu, irmãos não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a criancinhas em Cristo. Leite vos dei por alimento, e não comida sólida, porque não a podíeis suportar; nem ainda agora podeis; porquanto ainda sois carnais; pois, havendo entre vós inveja e contendas, não sois porventura carnais, e não estais andando segundo os homens?” (3:1-3).
Paulo estava lidando com carnalidade de verdade aqui – fofocas, difamações, invejas e contendas. E ele apontou em amor aos Coríntios como essa condescendência conduziu-os à carnalidade. No passado o coração dessas pessoas estava em chamas para Deus. Ele estava lhes dizendo, “Espero muito de vocês porque sei que são espiritualmente capazes”. Mas os que poderiam ter herdado grandes bênçãos ainda estavam vagando em um deserto.
Ben não era diferente daqueles crentes em Corinto. Ele era carnal, vivendo de acordo com a mente da carne, não com seu entendimento da palavra de Deus. Anos a fio em sua caminhada com Jesus, e Ben ainda estava vivendo à base de leite e não de comida sólida. Ele pode ter tentado bloquear seus desejos carnais ou reunir alguma energia para “ser mais espiritual”. Mas esse não é o poder do Espírito - e não pode cumprir os propósitos de Deus. A verdade é que Ben não valorizava mais as coisas de Deus.
A vida de Jay contrasta totalmente com a de Ben
Outro jovem – esse chamado Jay – veio a Cristo através do mesmo ministério colegial de Ben. Ele também se tornou ativo no grupo e levou seus amigos ao Senhor. Jay tinha tamanha fome pela Bíblia que ele carregava consigo a maior que pudesse encontrar. Seu pensamento constante era, “Deus, Tua palavra é como mel para meus lábios!”.
Jay também conheceu sua futura esposa em um ambiente ministerial, e eles também se casaram e tiveram filhos. Como o emprego de Jay exigia mais dele, ele orou, “Senhor, não vou me afastar de Ti, não importa o quão ocupado eu fique. Vou persegui-Lo no meio do meu emprego. Sei que tens um propósito nisso, mesmo que eu não seja capaz de ver. 'Não por força nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor'”.
A diferença entre o coração de Ben e o de Jay é toda a diferença do mundo. Um é inclinado à sua própria razão e vontade, enquanto o outro é inclinado à contínua confiança em Deus. E se você colocasse os dois próximos um ao outro na igreja, você sentiria a diferença neles. Como pode acontecer isso - quando eles levam virtualmente a mesma vida? Eis aqui a diferença: quando você encontra Jay, você sabe imediatamente que ele esteve com Jesus. Você poderia colocar Jay em uma fila com 100 outros crentes e mesmo assim ele se sobressairia como tendo um “espírito diferente”.
Você pode conhecer alguém como Jay. Ele é uma mistura estranha e incomum de sobriedade e alegria. Às vezes ele pode ser difícil de ficar por perto. Mas estar em sua companhia lhe dá um gosto de Jesus – e você sabe disso.
Jay pode ser duro demais consigo mesmo. Seus pecados o magoam ao ponto de angústia visível. Mas bem no fundo em seu coração, ele está crescendo na libertação do cativeiro da carne. Outras pessoas dizem para ele pegar mais leve. Mas Jay não trocaria sua contrição – e a liberdade que vem com ela – por toda aprovação do mundo.
Ele não se envolve em brincadeiras grosseiras, e se ofende quando alguém o faz. Ele é intenso quanto às coisas de Deus. E está sempre pronto para orar à menção de uma necessidade, a qualquer hora ou em qualquer lugar (o que pode ser constrangedor). Quando ele cai – e ele cai tanto quanto os outros cristãos – ele imediatamente se volta para o Senhor buscando perdão e graça. Está crescendo em graça, e seu semblante mostra isso.
Pessoas como Jay frequentemente recebem tratamento silencioso na igreja. Elas não recebem muitos convites para festas. Vemos os Jays do mundo como pessoas estranhas de uma maneira que não queremos ser. Contudo sabemos que há profundidade neles, que eles estão antenados com o céu assim como com o mundo ao redor deles. Podemos argumentar que “Ele é focado demais no céu para poder se dar bem na terra”. Mas não existe tal pessoa. Qualquer um focado no céu se dará melhor na terra que qualquer outro.
Veja, os Jays desse mundo anseiam ardentemente fazer o que Deus deseja que eles façam. É o que lhes levanta de manhã. E é o que lhes manda para o lugar secreto de oração. Qualquer um que conheça Jay sabe que ele sairá de seu tempo de oração com uma visão de Jesus. Essa visão o conduzirá ao longo do dia – e cumprirá os propósitos do céu.
O que exatamente separa uma pessoa com um espírito diferente?
A diferença é revelada no contraste entre Ben e Jay. Ben tem medo de ser pego em pecado; Jay tem medo de ofender a Deus. Ben tem medo de perder a companhia de seus colegas; Jay tem medo de magoar o Espírito de Deus. Ben faz o que sua igreja requer; Jay anseia em fazer o que Deus deseja.
Em suma, o que faz alguém ser de um espírito diferente é uma vida consagrada. Não existe outra resposta. O que “consagrada” significa? A primeira parte da palavra - “con” - significa “com” e a segunda parte significa “santo”. Consagração é fixação à santidade. Significa estar “com” uma vida fora de si mesmo. É uma vida cheia com o Espírito, que provém unicamente de Deus.
Meu pai me ensinou uma das lições mais duradouras de minha vida ao me dizer quando eu era garoto, “Gary, você pode ter o tanto que quiser de Jesus”. Vi isso cumprido vez após vez. Deus jamais retém Sua unção daqueles que seguem adiante em Seu alto chamado. É nossa resposta à Sua oferta que determina se iremos herdar o que Ele tem planejado para nós.
Então, você está vivendo uma vida carnal? Você se pergunta o que Deus deseja de você? Seu Pai deseja tornar Seus desejos claros a você – se você quiser gastar tempo para conhecer tais desejos. Sua vida está cheia de fraqueza, falta de visão? Ele quer lhe restaurar, e lhe dar Sua visão - para que você possa cumprir a obra que Ele preparou para você.
Se você está vivendo uma vida acomodada e aquém com Jesus, só há uma coisa a fazer. Invoque-O pedindo que Ele renove sua sensibilidade ao Espírito. Ele lhe responderá. Ele quer que você seja de um espírito diferente!